terça-feira, 12 de outubro de 2010


“As crianças acham tudo em nada, os homens acham nada em tudo”. Esse pensamento, atribuído ao poeta italiano Giacomo Leopardi, é de uma profundidade fabulosa. A criança, seja ela rica ou pobre, em sua idade inocente desconhece a realidade que a cerca. Os ricos ignoram o mundo além deles. Os pobres vão um pouco mais além, pois vivem em condições subumanas em meio à riqueza materialista sem poder ter acesso a ela. E pior ainda! São invisíveis aos olhos da população indiferente.


Uma data muito especial o dia de hoje. Dois eventos são comemorados. O Dia da Padroeira do Brasil (Nossa Senhora Aparecida) e o Dia da Criança. Nada como reverenciar a inocência, a alegria espontânea e a singela sabedoria presentes nesses pequenos seres que vêm a terra, como anjos, para nos alegrar, e nos mostrar o quanto faz bem, vez ou outra, voltar a ser criança. Com sua ternura, fazem nosso coração transbordar de encantamento, magia, cores e de tudo que é belo. Possuem o dom de sempre nos fazer lembrar, ao atingirmos a maturidade, que a criança que fomos um dia permanece dentro de nós, por toda a nossa existência. Feliz sensação que nos impulsiona vida afora e nos faz, em certos momentos, encarar com menos seriedade problemas de um cotidiano às vezes tão desanimador.

O Dia da Criança se transformou, na verdade, numa data comercial, destinada a difundir o consumismo com a finalidade de aferir lucros. A figura homenageada parece permanecer em plano secundário, como vítima de atentados à formação de sua personalidade, tudo pela subestimação de itens fundamentais à construção de um sistema no qual a dignidade prevaleça. O quadro precisa ser superado: a criança, esse ser indefeso deve ser protegido vinte e quatro horas por dia tal como o fomos ou deveria ter sido, é o futuro da Nação.

Em contraponto às características festivas às quais habitualmente se associa a data em homenagem à criança, a ausência da devida assistência familiar, omissão constatada não apenas nas camadas mais carentes, mas também existente nas classes média e alta, em que a dependência das drogas entre menores tem dado causa a fatos desoladores. Ainda o crucial problema das crianças abandonadas que continua em busca de possível solução. Mas passa ao largo, ninguém ousa buscar entrar a fundo no cerne da questão. As igrejas incentivam à procriação posicionando-se contrariamente ao efetivo controle da natalidade. Do mesmo modo, os políticos se arrepiam, fogem como se avistassem um tenebroso fantasma.

As mães e pais que abandonam seus filhos; jogam em córregos; em latas de lixo ou em matagais, deveriam receber tratamento do Estado como criminosos hediondos, com pena de detenção inafiançável não superior a 30 anos e nunca inferior a 20 anos. Seus filhos poderiam ser encaminhados à adoção e as identidades e endereços dos pais adotivos, mantidos em sigilo absoluto pelo resto da vida. Estas pessoas, os pais que cometem este tipo de crueldade, por mais bárbaro que possa parecer, teriam que passar por cirurgias de esterilização, para não poderem ter mais filhos. Pessoas que agem assim serão um risco eterno e a psiquiatria moderna jamais conseguirá decifrar os códigos e reações que estas mentes podem produzir.
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O abandono de crianças é um assunto complicado, diante de valores religiosos, familiares. Mas não se pode permitir que a praga se alastre. Não podemos deixar que tudo role como se nada estivesse acontecendo. E ainda, pra complicar, a burocracia que inibe adoções. Pobre Brasil, pobres crianças abandonadas... Será que um dia alcançaremos a civilização, com a desejada inclusão social e a liberação feminina de preconceitos?

Mas, de uma forma ou de outra, as crianças sonham. Um brinquedo de última geração, uma boneca ou bola achada nos lixões... Momentos em que nada importa, pois eles acham tudo em suas ilusões fantasiosas. Ao contrário dos adultos que não acham nada, apenas uma visão egoística de um mundo muito particular e que deixam como herança aos pequeninos seus defeitos e poucas virtudes. Um círculo vicioso que se repetirá...

Este e todos os demais dias do ano deveria ser dedicado a preparação das crianças para o futuro. Uma preparação para aprimoramento do ser humano, sem o consumismo exagerado que ocorre nos dias de hoje. Infelizmente, os apelos consumistas falam mais alto. Os mais privilegiados receberão presentes mil, e os deserdados da sociedade? Párias envolvidos nas misérias ocasionadas pela própria humanidade! Como seria bom se os mandatários da nação voltassem suas atenções para as 27 milhões de crianças que vivem abaixo da linha da pobreza e que hoje estão condenadas - se sobreviverem - a uma vida sem qualquer perspectiva.

Estes são alguns dos principais desejos daqueles que se preocupam com o bem-estar de suas crianças e que, lamentavelmente, não são os mesmos que os detentores do poder comungam. Como diz o ditado popular, "enquanto há vida, há esperança", e talvez seja esta a única tábua de salvação em que se agarra a grande maioria dos pequenos deste nosso país.
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*Edward de Souza e J. Morgado são jornalistas profissionais
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LUTO - Faleceu no final da noite de ontem, o amigo Clarindo Ferracioli (53 anos), o Belão, Prefeito da cidade de Restiga, localizada há 12 quilômetros de Franca, vítima de um acidente na Rodovia João Traficante, entre Franca e Ibiraci. O funcionário da Prefeitura de Restinga, Celso Cordeiro, que o acompanhava, também morreu. Os dois, ocupantes de um Fiat Línea que capotou no quilômetro 17 desta rodovia, foram arremessados para fora do veículo. Unidades de Resgate do Corpo de Bombeiros providenciaram o socorro das vítimas e realizaram todo o trabalho de preservação da vida, mas Belão e Celso não resistiram e deram entrada na Santa Casa de Franca sem vida. A cidade de Restinga estará de luto por três dias. Os corpos foram sepultados na manhã desta quarta-feira, no cemitério público daquela cidade.
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