quarta-feira, 26 de agosto de 2009

ATÉ NEUROSES APROVEITADAS NOS GOLPES

TERCEIRO CAPÍTULO

Depois que um vigarista conseguiu vender um bonde a um mineiro, e outro malandro o Viaduto do Chá a um caipira em São Paulo, esse tipo de golpe ficou desacreditado. Entretanto, na França, em Paris - abordamos o assunto ontem nos comentários - um vigarista vendeu a Torre Eiffel três vezes, num dos maiores contos do vigário que o mundo já conheceu. Na imaginação do vigarista, até as neuroses são aproveitadas, acompanhe...

O CONTO DO CLEPTOMANÍACO – Em uma das principais joalherias do Rio de Janeiro, um homem de olhar nervoso entra na casa de jóias e pede para ver os anéis. Um dos funcionários coloca vários em cima do balcão, na esperança de uma grande venda. O jovem examina e de repente pega um deles e sai correndo. Os funcionários da loja saem rapidamente em seu encalço, mas o jovem já se encontra seguro por um senhor de aspecto distinto, muito bem vestido. Explica, já de volta à loja, que o rapaz é seu irmão, mas sofre de cleptomania. Entrega o dinheiro do valor da jóia que seu "irmão" havia levado. Depois de tudo certo, o senhor distinto solicita desculpas. No dia seguinte, lá vem de novo o rapaz de olhar nervoso. Os funcionários já estão preparados, mas mesmo assim mostram as jóias para ele. Acontece a mesma correria do dia anterior e aparece o senhor distinto que paga novamente a jóia levada pelo "irmão". E assim vai acontecendo todos os dias, só que as jóias escolhidas são cada vez mais caras. O senhor distinto vai sempre pagando e o dono da joalheria fica cada vez mais satisfeito. Chega a aguardar ansioso a presença do rapaz de olhar nervoso. E ele aparece mais umas duas ou três vezes, mas os funcionários nem mais se preocupam em persegui-lo. Ao contrário, oferecem sempre os melhores e mais caros artigos. Em determinado dia, ele escolhe um colar caríssimo de brilhantes e sai correndo. Ninguém o persegue. Ficam olhando para a porta, na espera do senhor distinto que virá pagar o colar. Desta feita ele não aparece. O colar levado pelo rapaz nervoso valia cinquenta vezes mais que todas as jóias anteriores, que haviam sido pagas até aquele dia.

O CONTO DO ROLEX - Dois rapazes bem vestidos chegam a uma joalheria para comprarem um relógio Rolex, que seria dado ao patrão como presente de aniversário, oferecido pelos funcionários da empresa. Como os dois não chegavam a um acordo sobre o modelo que mais o agradaria, fazem o pagamento de um relógio e pedem ao dono da joalheria que um funcionário os acompanhasse, com os dois relógios, até a empresa, que ficava no prédio ao lado, onde o próprio patrão faria a escolha. Chegando ao bem montado escritório da empresa são atendidos pela secretária, que pede ao funcionário da joalheria que aguarde um instante enquanto os três entram na sala do patrão com os dois relógios. Só depois de um bom tempo esperando e percebendo que a secretária desapareceu é que o rapaz descobriu que a "sala do patrão" - que tinha outra porta de saída - estava vazia, e que aquele escritório estava sendo desocupado, pois a empresa, antes ali estabelecida, mudara-se para outro andar.

O CONTO DO PAU-DE-ARARA – O mais cruel dos contos é o do pau-de-arara. O vigarista usa a boa fé, a ignorância das vítimas e um caminhão para colocar seu plano em ação. Ele chega em qualquer cidade do Nordeste e espalha a notícia de que está indo para o Rio de Janeiro ou para São Paulo e pretende lotar o caminhão com pessoas que querem viajar. Afirma aos interessados que a viagem terá a duração de três dias, e ele cobrará barato. Sem muita demora arruma logo a freguesia, e parte. Três dias depois, quando chega em uma cidade movimentada, ele para e avisa aos passageiros que a viagem chegou ao fim. Alegre, o grupo salta, mas vai saber a verdade na primeira esquina: a cidade é Vitória da Conquista, Bahia e o Rio de Janeiro ou São Paulo está bem longe. O caminhão também.

O CONTO DO TROCO – Nas grandes metrópoles, o telefone também entra na história dos vigaristas. Quase todos os dias ele é aplicado. O malandro prefere sempre um edifício que tenha duas entradas. Disca os números de um supermercado das proximidades.
- Alô, aqui é do apartamento 365 da Avenida Alcântara, nº 340. Por favor, eu queria um desodorante e um sabonete. Existe um problema. Eu queria troco para 5 mil cruzeiros (dinheiro da década de 70). O entregador do supermercado chega instantes após no 340 da Avenida Alcântara. O vigarista o espera na porta. Pergunta se é do supermercado. Ao receber a afirmativa do entregador, solicita que ele lhe entregue a encomenda e o troco, pedindo que o espere por alguns minutos, enquanto sobe ao seu apartamento para buscar o dinheiro. O funcionário do supermercado espera por muito tempo na porta do edifício, mas nunca mais vai ver o vigarista, que já saiu pela outra entrada.
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Acompanhe nesta quinta-feira o quarto capítulo dessa série de "contos do vigário" e conheça outros golpes criativos aplicados no século passado.
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*Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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