terça-feira, 21 de setembro de 2010

SEGUNDA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2010


Este texto escrevi em abril de 2007 e foi publicado em jornal. Três anos e cinco meses depois poderia ter feito desta crônica, um livro, tantos os escândalos que tomaram conta do noticiário, principalmente este último, sobre as acusações feitas contra a Casa Civil, de que um balcão de negócios foi montado lá dentro. Todos os envolvidos nas maracutaias da Casa Civil saíram, esbravejando contra a Imprensa e pedindo provas. Engraçado, concordam? Se os acusados nada tem a temer, porque então pediram demissão? A Erenice pediu demissão, os assessores dela também e, agora, o diretor dos Correios que era sócio da empresa com quem firmou um "contrataço", diz que vai pedir demissão, porque a família está "destroçada". Dá uma pena deles, vocês não acham?
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LEIAM O QUE ESCREVI EM 2007.
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O QUE RESTA...
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Quando os ideais falecem e são sepultados nas covas rasas do mais evidente descaso, o que resta ao idealista nesta vida? Será que apenas resta o ensejo de assistir aos funerais e ouvir o lamentoso réquiem do triste final? Ou resta também a chance de presenciar o cortejo desagradável dos que lutam pela posse dos despojos?
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É muito triste imaginar o que resta neste mundo, se visto pelo ângulo das coisas palpáveis do dia-a-dia. Resta talvez, por esse aspecto, os rostinhos súplices das crianças que, maltrapilhas, ainda perambulam com inocente esperança. Resta quem sabe a espuma enegrecida pelo óleo e detritos do mar que, indiferente, bate nos rochedos. Resta o verde imóvel e aterrorizado das poucas matas que aguardam silenciosas o fim que se aproxima. Resta o formigar desumano, desconexo e dantesco dos grandes aglomerados humanos, as caóticas megalópoles que espremidas agarram-se à sobrevivência a todo custo, pura e simplesmente.
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Chega um momento que me assusto tentando decidir afinal, o que é o certo neste mundo perdido. Temos hoje um marketing formando pessoas individualistas, pregando o “se dar bem” a qualquer preço.
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O dinheiro tornou-se mais importante que a sensatez, a prudência, a responsabilidade e a justiça. As graves desigualdades sociais são encaradas como normais e, por vezes, chego a ouvir que são males necessários.
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Vejo a morte de milhares de pessoas de bem, e outras tantas mantidas em cativeiros, e roubadas em seu direito de liberdade. Juízes, desembargadores, delegados e procuradores da República envolvidos na exploração de jogos ilegais, principalmente bingos e caça-níqueis. Advogados em conluio com marginais ou com comportamento nada exemplar, tudo “dentro da lei”. Hoje em dia basta ter dinheiro ou um amigo no poder para que as consequências por atos atrozes sejam perdoadas e esquecidas.
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Observo adolescentes que não sabem escrever uma palavra corretamente e, menos ainda, conseguem construir uma frase ou uma idéia. Os doentes estão morrendo em filas de hospitais públicos e outros tantos, mal atendidos por certos médicos incompetentes, em hospitais e clínicas particulares. O pior: políticos de assembléias, câmaras e senados, mais preocupados com aumento de salários, benefícios e privilégios, tomando o lugar da policia com inúmeras formações de CPI's com o único objetivo de livrar a cara daquele que se comportou sem o menor decoro com o povo que representa. Tenho à frente de meus olhos, a prova de que estamos à deriva.
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Enquanto isso mostramos o quê aos nossos filhos? O que devemos ensinar a eles? O que devemos esperar desse mundo? Resta, quem sabe, esperar pelo fim, pelo estrondo colossal que estourará de imediato os tímpanos e a seguir derreterá os corpos e com eles pulverizará todos os monumentos materiais da miséria humana.
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*Edward de Souza é jornalista e radialista
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