terça-feira, 14 de setembro de 2010

SEGUNDA-FEIRA, 13 DE SETEMBRO DE 2010
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JANELA INDISCRETA


Uma praça, uma igreja, o velho coreto, árvores em profusão, ipês floridos, flores... Gente indo e vindo. Grupos de pessoas idosas conversam. Um engraxate, um artesão expondo seus trabalhos de bijuterias. Além, um cidadão só. Corpo mirrado, roupas toscas e um enorme chapéu de abas largas. Seu olhar é triste e sua expressão é de pessoa com problemas íntimos e graves. Uma hora depois, afasta-se. O que será que o afligia?

Noto três cães vira-latas. Moradores da praça certamente. Magricelas, judiados... Olhares meigos e cobiçosos. Ficam perambulando nas proximidades de bares e lanchonetes na esperança de serem premiados com migalhas doadas pelos seres humanos. Pessoas de meia idade se reúnem aqui e ali. Parecem sitiantes ou fazendeiros prósperos. Soube depois que são agiotas. Uma tradição bem mineira. Logo adiante vejo através de minha janela indiscreta, um casal de jovens apaixonados, estudantes certamente. Beijos e abraços prolongados. Arroubos da juventude. Saudade do meu tempo...

Neste momento avisto um jovem comprar um pequeno colar e experimentá-lo no tornozelo. O hippie mostra outros objetos de sua arte. Dois rostos satisfeitos; o que vendeu e o que comprou. Nos bancos espalhadas pela linda praça, pessoas solitárias se aquecem do frio da manhã e, provavelmente, refletem sobre seus problemas pessoais. Observo agora que o rapaz que comprou o enfeite para seu tornozelo (estamos no período da tarde) voltou com dois amigos e todos fizeram compras. O hippie com um linguajar peculiar e até chulo se esforça para vender mais. Mostra os bolsos dizendo que está sem nenhum e que ainda não se alimentou.

Soube ontem por um morador da cidade, que o lindo solar situado na esquina da praça com a rua comercial é assombrado. Pelo menos é o que dizem. Uma placa de aluga-se encontra afixada nas grades que cercam o imóvel. Uma mulher teria ali falecido louca e, por ser muito materialista, continua ali como fantasma. As pessoas que se dispõe a alugar o solar não esquentam a moradia. Barulhos, arrastar de pés... Fogem apavoradas. Ninguém se habilita. A placa “aluga-se” ficará lá até que algum exorcista resolva agir!

Um dia antes (domingo), no período da tarde, hospedei-me no hotel localizado em plena praça. À noite, uma retreta no coreto. “O Guarani” foi à música inicial. Outras se seguiram. Há muito não via uma bandinha do interior. Observar pessoas através de uma janela indiscreta é muito interessante e até divertido. Nada tem haver com o voyeurismo. É como observar pássaros. E por falar em pássaros, o barulho quando as aves se recolhem para dormir e quando acordam para a “faina” do dia é infernal para alguns e divino para outros, como eu.

Por hoje é só.

16 de agosto de 2010.

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*J. MORGADO é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista? Só clicar aqui: jgarcelan@uol.com.br
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