segunda-feira, 1 de junho de 2009

VERGONHA, TRISTEZA, COMPAIXÃO E HORROR Á VIOLÊNCIA DO NAZISMO

Nivia Andres
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O Leitor
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Quando livros são transformados em filmes, nem sempre os resultados são os melhores. Roteiro, cenografia, direção, atores colocam suas experiências e sensibilidade, criando, por vezes, uma nova obra, diferente da original. Não é o que acontece em "O Leitor". Gostei da adaptação. Mesmo com ligeiras mudanças no roteiro, o clima de profunda solidão, vergonha, tristeza, compaixão e horror à violência do nazismo sobreviveu, sobretudo com a magistral interpretação de Kate Winslet (que lhe valeu o Oscar de melhor atriz), acompanhada com brilho por Ralph Fiennes (Michael adulto) e David Kross (Michael jovem).
A narrativa aborda o relacionamento de um adolescente alemão, Michael, que tem somente 15 anos, com Hanna, uma bela mulher 21 anos mais velha. Ambos vivem uma delicada e intensa relação amorosa, que segue um ritual diário: primeiro, banham-se, depois ele lê para ela fragmentos de Goethe, Dickens, Tolstoi e Schiller, só depois fazem amor. Essa rotina de prazer e descobertas é interrompida quando Hanna desaparece subitamente, sem deixar pistas, dando um fim àquele período de felicidade. Sete anos depois, Michael, agora estudante de direito, é convidado a acompanhar um julgamento de criminosos do regime nazista. Ele descobre, para seu terror, que sua antiga amante é uma das acusadas pelos crimes (era guarda no campo de concentração de Auschwitz), circunstância que o lança em um turbilhão de culpa e piedade, pelos desdobramentos do caso e suas consequências para a vida de ambos.
Nesse momento, "O Leitor" levanta duas questões sobre a culpa. A primeira tem a ver com a responsabilidade dos agentes do Holocausto. A segunda, e mais interessante, transcende ao jogar para cima de Michael uma dúvida cruel: ele tem uma informação capaz de inocentar Hanna, mas, se a revelar, poderá ajudar uma possível culpada por crimes nazistas a escapar ou ter reduzida sua pena. Além de ter de expor seu relacionamento juvenil com a ré.
Essa ambiguidade poderia muito bem servir de metáfora para a omissão diante dos horrores nazistas: a busca por um bode expiatório. Michael, assim como o autor do livro no qual o filme é baseado, Bernhard Schlink, pertence à geração que passou pela adolescência na época da ascensão do nazismo. Eles podiam não entender o que acontecia - mas seus pais, mais cedo ou mais tarde, souberam dos horrores e a maioria se omitiu.
Além de todos os elementos que emprestam à narrativa um tom de dor profunda, há um que se destaca porque altera definitivamente o destino da protagonista - o analfabetismo - ela não sabia ler. Mais não vou contar...
É uma leitura necessária. Ou assistam ao filme. Ou os dois. Como eu fiz. De preferência em uma sala de cinema. Se preferirem assistir em DVD, escureçam o aposento. A penumbra cria um clima especial, bem próximo dos sentimentos que experimentamos à medida em que a história avança.
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*Nivia Andres, jornalista, graduada em Comunicação Social e Letras pela UFSM, especialista em Educação Política. Atuou, por muitos anos, na gestão de empresa familiar, na área de comércio. De 1993 a 1996 foi chefe de gabinete do Prefeito de Santiago, Rio Grande do Sul. Especificamente, na área de comunicação, como Assessora de Comunicação na Prefeitura Municipal, na Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS), no Centro Empresarial de Santiago (CES) e na Felice Automóveis. Na área de jornalismo impresso atuou no jornal Folha Regional (2001-06) e, mais recentemente, na Folha de Santiago, até março de 2008. Blog da jornalista:
http://niviaandres.blogspot.com/
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