quinta-feira, 11 de novembro de 2010

QUARTA-FEIRA, 10 DE NOVEMBRO DE 2010



Início de 1988: o então deputado federal Adhemar de Barros Filho em conversa com amigos, assessores e antigos funcionários do seu pai, Adhemar Pereira de Barros, manifesta a intenção de celebrar os 50 anos de vida pública do Velho Adhemar, como o pai era chamado. Foi em 1938 que Getúlio Vargas, depois de mandar prender o ex-Interventor Armando de Salles Oliveira, casado com uma das filhas de Julio de Mesquita, patriarca da família e fundador do jornal O Estado de S. Paulo, designou o Velho Adhemar Interventor do estado e essa nomeação gerou fatos incríveis, sentimentos de ódio e vingança e, claro, fontes de histórias e lendas, que ainda hoje despertam a curiosidade dos paulistas.
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A reunião de Adhemarzinho, como o ex-deputado federal ainda hoje é chamado, ocorreu no “Casarão de Adhemar”, onde se realizavam nos anos 40, 50 e 60 os encontros do antigo PSP, o Partido Social Progressista, que o Velho Adhemar fundou de comum acordo com o deputado federal pelo Rio Grande do Norte, João Café Filho, fundador do minúsculo Partido Social Nacionalista. O Casarão situava-se na Alameda Barão de Limeira, bairro dos Campos Elísios, a poucos metros da Rua Aurora, que atravessa a Avenida São João. E, nele, ainda funcionava “a gráfica do Adhemar”, para defender-se de ataques dos adversários.

Nessa reunião, Adhemarzinho indagou-me se eu podia escrever o livro com histórias pitorescas do seu pai. Aceitei o convite, pois, dois anos antes, ele havia autorizado “a gráfica do Adhemar” a imprimir Tancredo, Máximas e Citações, livro de minha autoria com o pensamento de Tancredo Neves em forma dicionarizada. À época eu trabalhava no jornal NOTÍCIAS POPULARES, no prédio da Folha de S. Paulo e, alternadamente, passava na casa grande, de dois andares, do início do Século XX para cheirar a conversa ao cair da tarde dos velhos adhemaristas, um dos quais Rogê Ferreira, político progressista e expoente do Partido Socialista Brasileiro (PSB).

O filho de Adhemar Pereira de Barros preparou uma lista com endereços e telefone de adhemaristas para eu entrevistar. Tomei então o cuidado de comprar um gravador para as entrevistas, inclusive a primeira com Erlindo Salzano, filho ilustre da cidade de Porto Ferreira, que o Velho Adhemar indicou em 1951 para vice-governador de Lucas Nogueira Garcez, sobre quem Salzano havia escrito o livro: O crime perfeito de Lucas Nogueira Garcez. Fui à sua casa, e a mulher que me atendeu à porta disse que Erlindo encontrava-se bastante doente e não podia atender-me. Eu insisti:
“Foi o deputado federal Adhemar de Barros Filho que me pediu para falar com ele.
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- Deixa o moço entrar – ouvi uma voz trêmula proveniente do quarto e logo percebi tratar-se do meu entrevistado. Fui conduzido até à sala, depois ao quarto de pouca luz onde ele encontrava-se deitado, e ao aproximar a vista pude observar ser o vice de Lucas Nogueira Garcez um homem de pele morena, magro e alto. Apresentamo-nos e nos abraçamos, ele pediu para esperá-lo na sala. Então começamos uma conversa com a qual iria familiarizar-me ainda mais na política, com a qual eu tive contato aos 15 anos ao passar a ler diariamente o jornal A Tarde, de Salvador, para o meu pai, um antigo dirigente da UDN (União Democrática Nacional) e lacerdista (simpatizante de Carlos Lacerda) roxo. Durante três anos ou mais eu lia as notícias, os comentários e discursos de Carlos Lacerda na Câmara Federal contra o governo de Juscelino Kubitschek e voz alta para ele, abatido por um derrame cerebral, poder ouvir com absoluta clareza. E deste modo tomei gosto pelo jornalismo político.

- Você é jovem e forte, creio que essa tenha sido uma das razões para Adhemarzinho tê-lo escolhido para narrar a vida do pai, numa época cheia de hipocrisias, traições, vinganças. Esse trabalho, meu filho, se assim posso chamá-lo, é muito árduo, pois a história de Adhemar (foto a esquerda) se confunde com a história contemporânea do estado de São Paulo. Será que você vai suportar? Indagou-me o filho de Porto Ferreira.
- Eu acredito que sim, dr. Erlindo.
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Na próxima quarta-feira, o segundo capítulo desta série exclusiva, escrita pelo jornalista Carlos Laranjeira, não percam! Abaixo, neste primeiro capítulo, uma pequena biografia deste amigo de longos anos, jornalista e escritor, Carlos Laranjeira, para que todos (as) passem a conhecê-lo melhor. (Edward de Souza).
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QUEM É CARLOS LARANJEIRA...
Começou no Jornal da Bahia, Salvador, no ano de 1968, época em que Glauber Rocha era o editor do Suplemento Cultural no qual escreviam João Ubaldo Ribeiro, Caetano Veloso, Tom Zé, Tuzé de Abreu, Capinam e outros menos conhecidos no Sudeste a exemplo de Florisvaldo Matos, um dos poetas mais consagrados do estado, hoje editor-chefe do jornal A Tarde. Na Bahia, trabalhou também na Rádio Cruzeiro e na Semana Católica, criada por Dom Eugênio Salles, Arcebispo de Salvador e Cardeal Primaz do Brasil.
Em São Paulo, trabalhou quatro vezes no Diário do Grande ABC - uma a pedido de José Louzeiro, que escreveria Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, Araceli, Pixote e outros livros adaptados para o cinema. Trabalhou no Correio Metropolitano, jornal que o empresário, deputado e prefeito de Guarulhos, Paschoal Thomeu, já falecido, criou no ABC para concorrer nos anos 70 com o Diário; ainda passou pela Tribuna de Santos, Popular da Tarde e Notícias Populares - neste, por oito anos. E durante 26 anos trabalhou no setor de imprensa da Prefeitura de São Bernardo, onde chegou ao cargo de chefe de Divisão de Imprensa e Relações Públicas e deu nova estrutura ao jornal oficial Notícias do Município, mantida até hoje. Foi também assessor de imprensa do então deputado federal Adhemar de Barros Filho.
Na reestruturação do NM, criou a chamada em primeira página em linguagem jornalística de leis municipais e portarias do prefeito, para torná-las ao alcance do entendimento do homem comum, mas a Câmara Municipal proibiu. Laranjeira então realizou com seus próprios recursos, em 1993, uma campanha nacional por meio de cartas às imprensas oficiais (de municípios, estados e da União), autoridades estaduais e federais, aos sindicatos de jornalistas, associações de imprensa e escolas de comunicação, sobre a necessidade dos Diários Oficiais criarem chamadas em primeira página das leis mais importantes como forma de facilitar o seu entendimento ao público e abrir mais um mercado de trabalho para jornalistas. Os Diários Oficiais dos Estados logo aderiram à novidade e foram úteis a Laranjeira para livrar-se de um processo movido pelo PT.
Ao aposentar-se, dedicou-se ao trabalho de recuperação da história política do ABC, que lhe permitiu escrever vários livros inclusive biografias de políticos regionais como a do deputado e prefeito de São Bernardo e Santo André, Lauro Gomes e dos ex-prefeitos Celso Daniel e Geraldo Faria Rodrigues. Criou os jornais POLÍTIKA DO ABC, que completa 15 anos em 2011 e o JORNAL DO LIVRO. Em 2006, durante o I Encontro Internacional de Direitos Humanos, realizado em Curitiba, pronunciou a palestra A Violência do Poder, a Imprensa e os Direitos Humanos, durante a qual defendeu a redução dos deputados federais, sugestão aproveitada pelo deputado Clodovil Hernandez e pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Laranjeira também criou o primeiro sebo de São Bernardo, em 1985, o qual funcionou na Fundação Santo André e na Faculdade de Direito de São Bernardo logo após escrever Tancredo, Máximas e Citações – o pensamento de Tancredo Neves em forma dicionarizada, que mereceu elogios do então deputado federal Aécio Neves e da sua avó, dona Risoleta Neves. O sebo funciona hoje na parte lateral da casa em que mora. Fundou a Chamas Editora e Distribuidora de Livros, já extinta; atualmente é proprietário da Imagem e Letra – Serviços Editoriais Ltda, que edita o POLÍTIKA e o JORNAL DO LIVRO e mantém dois blogues na internet com os quais desenvolve campanhas.

Livros Publicados:
Tancredo, Máximas e Citações
Histórias de Adhemar – duas edições
Lauro Gomes, Poder e Riqueza – duas edições
O Vocabulário da Política
A Vida de Lauro Gomes – quatro edições
Eleições no ABC I
Eleições no ABC II
Celso Daniel, Muito mais que um Rebelde
Geraldo Faria, Tempos Difíceis
Frases de Lula e Cia.
Vontade de Vencer
Autores e Livros
Política para Principiante

Laranjeira escreveu ainda um caderno sobre a vida da ex-vereadora, ex-prefeita e ex-deputada estadual Tereza Delta, figura de proa da política de São Bernardo nos anos 40 e 50. Também escreveu o programa de governo do prefeito Walter Demarchi (1993-1996) e a síntese de uma biografia do ex-prefeito Tito Costa (1976-1982), vice-prefeito da gestão de Walter Demarchi (1993-1996) e Deputado Federal-Constituinte de 1988. Editou dezenas de livros para professores, advogados e médicos e jornais para sindicatos, associações, partidos políticos e candidatos a cargos públicos.
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