quinta-feira, 11 de junho de 2009

DIA DOS NAMORADOS
O amor supera tudo pela grandeza do sentimento. Desconhece a angústia das esperas prolongadas porque tem a calma das certezas. Não se atribula demais, tem a serenidade de quem passeia sem outro compromisso além da felicidade. Tudo é simples para o amor, que inventa a si mesmo todos os dias, por isso é sempre novo, como no princípio. O amor não tem calendário, desconhece datas. Tudo começou ontem, mesmo sendo antigo. Tudo é futuro nesse agora. Tudo é feito neste momento para ser saboreado no mesmo instante. É um prato que não esfria quando o tempo passa, sempre está com o mesmo sabor, porque se renova e refaz o convívio. Quem ama sempre se rejuvenesce, apesar das rugas, dos cabelos brancos e do corpo que tiver. Por isso, todas as pessoas amadas estão cheia de virtudes que alguns não compreendem. Sexta-feira ( 12-06) é o Dia dos Namorados, esse blog se antecipa e presta uma homenagem a todos os casais apaixonados, com uma linda história de um casal que se ama há mais de 56 anos...
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UMA LINDA HISTÓRIA DE AMOR
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J. MORGADO
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Tudo começou com dois pés se roçando por baixo de uma enorme mesa. Sim! Dois pés namorando (devidamente calçados). Um “amasso” como diriam os jovens de hoje. Só que o aconchego era entre os membros inferiores. Por cima da mesa, os olhares se encontravam. Olhares de cumplicidade e de terno carinho... Em volta, outras pessoas completamente alheias ao que acontecia.
Ali, naquela empresa, em um segundo andar de um edifício da Rua Direita, começava um namoro que perdura até os dias de hoje. Cinqüenta e seis anos! Primeiro a voz que me enfeitiçou de imediato. Uma voz levemente rouca e cativante...
De uma sala, cerca de um mês antes, escutara a menina-moça (15 anos) sendo entrevistada pelo patrão. Fui chamado para conhecer a nova funcionária, pois ela trabalharia sob minhas ordens. Apresentado, eu disse: – nós nos conhecemos de algum lugar? E ela respondeu que não, mas que eu não lhe era estranho! Na verdade, nunca havíamos nos encontrados antes. Morávamos em bairros completamente opostos. Coisas que “nossa vã filosofia desconhece”. Desconhece?
Um olhar, um sorriso, uma amabilidade, um gesto cavalheiresco (naquela época havia gestos desse tipo), até o roçar de pés. Depois, o pedido para acompanhá-la até o ponto de ônibus e o “quer namorar comigo?”. O sim foi gostoso de ouvir. O coração rugia! Batia forte! A separação já era dorida. Teria que esperar até o dia seguinte para vê-la. No início, apenas o pegar nas mãos, braços dados... Depois o braço já a enlaçava carinhosamente quando caminhávamos.
Algum tempo se passou até o primeiro beijo. Ah! O primeiro beijo! As pernas tremiam. O desejo de abraçá-la bem apertado e não nos separamos nunca mais era forte. Uma cena que se eternizou em meu pensamento. Aquela rua no bairro do Ipiranga... Se pudesse...Se pudesse...
O namoro escondido! Como era gostoso namorar escondido. Era o termo que se usava naquela época. Os pais (os das moças) colocavam mil e um empecilhos para evitar que suas filhas, principalmente menores de idade, namorassem. Irmãos mais velhos eram promovidos a guarda-costas com autorização de massacrar o atrevido que se aproximasse das garotas.
Na primeira oportunidade, surgiu a “segura às pontas”. No caso uma irmã mais velha. Ai veio as matinês e depois as soirées de cinema nos fins de semana. Uma época em que as salas destinadas à projeção da 7ª, arte proliferavam no centro e nos bairros de São Paulo.
O cinema era um lugar seguro para se namorar. Se bem que não eram permitidas muitas intimidades! O guarda civil ali de serviço, era o guardião da moral! Bons tempos...
As colegas eram os álibis para a minha garota... Não havia outro jeito. Só assim podíamos passear. As tardes de domingo eram destinadas ao cinema ou a longos passeios pelas redondezas. O Museu do Ipiranga era o predileto, no meu caso. Aquele parque maravilhoso, livre de malandros, freqüentado por famílias e casais de namorados. Havia também os bailes. Na época, minha turma de colégio promovia bailes para arrecadar fundos para financiar os gastos com a formatura. Nas matines dançantes, minha namorada driblava a família para poder comparecer aquelas tardes agradáveis e iluminadas, sempre acompanhada de sua (ou mais) cúmplice, é claro!
Coladinhos, dançávamos os boleros, sambas canções, chorinhos, sambas, mambos e até tangos. As valsas estavam sempre presentes. As carícias também!
Parafraseando Ataulfo Alves com sua música “Meus Tempos de Criança”, onde ele diz: “Onde andará Mariazinha... Meu Primeiro Amor, onde Andará?”, E eu respondo, a minha Mariazinha (esse é seu apelido) está aqui ao meu lado, para todo o sempre.
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*J. Morgado é Jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
jgacelan@uol.com.br
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