
O meu casamento com a Eva praticamente acabou em 1977. Nessa época eu continuava na Prefeitura, morava na casa dos pais da Ilca, em um pequeno quarto nos fundos. Ela dormia num pequeno quarto e eu em outro, paralelo. Antes de dormir, dávamos um jeito de nos amar com mais intimidade, mesmo temendo o olhar vigilante de sua mãe Matilde. Para uma tristeza muito grande da Ilca, dona Matilde morreu jovem, antes de completar 50 anos, em decorrência de um enfisema pulmonar provocado por um violento e prolongado ataque de asma.
Era quase o final de 1977 e, dias depois, a Eva veio me encontrar na casa dos meus pais. Lembro-me que a levei até a padaria próxima e conversamos e, ela, lamentou a morte da mãe da Ilca. Depois, semanas passadas, uma advogada me ligou dizendo ser procuradora da Eva e me convocava para um encontro de conciliação no Fórum local. Não compareci nem em seu escritório e muito menos no Fórum e até hoje não sei o por quê. Só sei que, naquela época, só existia o desquite e eu almejava o divórcio. Em março de 1978, a Eva me procurou em um escritório de um conhecido
meu no centro de Santo André. Estava só em uma sala com ela e lembro-me de que esse foi o último beijo apaixonado que trocamos. Não demorou muito, em uma padaria próxima da casa de seus tios, nos encontramos de novo. Ela, nervosa, queria saber quais os motivos de meu não comparecimento no escritório da advogada. Não sei também o que respondi. Lembro-me apenas de sua repulsa ao me ouvir que gostaria de ver o Marcelo, nem que fosse pela última vez. Ela, simplesmente me alertou para não ir, alegando que os seus parentes estavam enraivecidos comigo.
meu no centro de Santo André. Estava só em uma sala com ela e lembro-me de que esse foi o último beijo apaixonado que trocamos. Não demorou muito, em uma padaria próxima da casa de seus tios, nos encontramos de novo. Ela, nervosa, queria saber quais os motivos de meu não comparecimento no escritório da advogada. Não sei também o que respondi. Lembro-me apenas de sua repulsa ao me ouvir que gostaria de ver o Marcelo, nem que fosse pela última vez. Ela, simplesmente me alertou para não ir, alegando que os seus parentes estavam enraivecidos comigo. Antes desse último encontro com a Eva, o jornalista Fausto Polesi, diretor
do Diário do Grande ABC, me autorizou a elaborar duas grandes reportagens. Uma sobre a reconstituição da rebelião carcerária ocorrida na Ilha Anchieta, litoral norte paulista, em 1952, e, a outra, abordando o drama das famílias indígenas que habitavam a periferia das grandes cidades. Para o litoral fui de ônibus, acompanhado do fotógrafo João Colovatti. Chegamos e ficamos na Pensão do Maestro, uma das mais antigas hospedagens da localidade. Fica perto da praia onde o padre Anchieta escreveu na areia a sua Prece à Virgem e, também, do pequeno porto de onde partem os pescadores locais com suas barcaças. Essa pensão, na verdade, é uma casa térrea, pintada de azul e branco, com dezenas de quartos, com banheiros coletivos, cozinha e um pequeno refeitório. A entrada e a saída só por um corredor, sempre vigiado, dia e noite, as vinte e quatro horas, para que hóspedes não saíssem, principalmente de madrugada, sem pagar.
Essa reportagem ganhou página dupla do Diário do Grande ABC, sob o
título: A maior rebelião carcerária do mundo, em que escrevi utilizando estilo literário-jornalístico e narrando desde o início até o desenlace do levante, que deixou dezenas de mortos, entre policiais e fugitivos. A outra reportagem, que não chegou a ser publicada, tratava do drama dos índios que habitavam os arredores das grandes cidades. Para elaborar essa reportagem, visitei aldeias nas serras de Ubatuba e de Barra do Uma, em São Sebastião, ambas no litoral norte paulista, e em Peruíbe, no litoral sul e, ainda, em Parelheiros, às margens da represa do Guarapiranga.
Eles afirmavam: com tais medidas poder-se-ia evitar que o índio,
abandonando sua área, continuasse a frequentar núcleos civilizados, margens de rodovias, sedes de fazendas, aglomerados de garimpeiros, à procura das utilidades que o seduzem e onde, em troca do que obtém, seja vítima de todos os vícios, de tudo enfim que poderíamos classificar de fatores de desintegração, processo que, dada as condições dos citados núcleos, começa, invariavelmente, pela dissolução da família.
abandonando sua área, continuasse a frequentar núcleos civilizados, margens de rodovias, sedes de fazendas, aglomerados de garimpeiros, à procura das utilidades que o seduzem e onde, em troca do que obtém, seja vítima de todos os vícios, de tudo enfim que poderíamos classificar de fatores de desintegração, processo que, dada as condições dos citados núcleos, começa, invariavelmente, pela dissolução da família.
Continuavam: dessa forma, atraídos pelos civilizados, os índios são, muitas vezes, persuadidos a abandonar suas aldeias para residir nas fazendas, onde sempre e automaticamente perdem sua autonomia, os estímulos e as oportunidades para suas recreações, bem como a plena disponibilidade do tempo para a obtenção dos tradicionais e fartos recursos de sua subsistência. E isto, só não aconteceu, como piorou. __________________________________________
Na próxima quarta-feira, o décimo quarto capítulo de Memória Terminal, do jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso Nacional de Jornalismo, falecido em 29/11/2008. O Prêmio Esso de Jornalismo é o mais tradicional, mais conceituado e o pioneiro dos prêmios destinados a estimular e difundir a prática da boa reportagem, instituído em meados da década de 50. (Edward de Souza/ Nivia Andres) Arte: Cris Fonseca.
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Na próxima quarta-feira, o décimo quarto capítulo de Memória Terminal, do jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso Nacional de Jornalismo, falecido em 29/11/2008. O Prêmio Esso de Jornalismo é o mais tradicional, mais conceituado e o pioneiro dos prêmios destinados a estimular e difundir a prática da boa reportagem, instituído em meados da década de 50. (Edward de Souza/ Nivia Andres) Arte: Cris Fonseca.
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