quinta-feira, 20 de agosto de 2009

BRASIL, UM PAÍS DO FUTEBOL, SÓ DO FUTEBOL...
OSWALDO LAVRADO

O povo brasileiro é conhecido mundialmente por sua passionalidade e irreverência mesmo no trato com coisas sérias e até mesmo nas catástrofes. Porém em uma coisa ele não abre mão de exigir seriedade, discute, briga, sai às ruas, pede cabeças e demissões. No futebol. Se a coisa não vai bem no seu time no de coração ou na Seleção Brasileira, a casa cai. Aqui na terra tupiniquim, o dólar sobe e desce, a inflação vai e vem, o petróleo é nosso, mas depende da moeda norte-americana para taxar seu preço, os políticos deitam e rolam nas barbas do pobre eleitor, que fica irado com as trambicagens, mas vota no cara chamado de ladrão na primeira eleição.
De projeção, a história conta nos dedos da mão esquerda de Lula às vezes em que o povo se levantou para derrubar algum governante. Talvez a mais notória foi para despojar Fernando Collor do pedestal presidencial. Hoje o caçador de marajás trafega livre leve e solto pelo Senado, com direito a baba-ovo de senadores, deputados e, quem diria, do presidente viajante. Nesse campo político, o brasileiro é passivo e às vezes conivente. Mesmo sem participar da barganha ou maracutaias, contribui à impunidade do gatuno travestido de homem do povo.
Agora, o noticiário - rádio, televisão, jornais, revistas e net - dá conta que em Sergipe, por exemplo, o governador Marcelo Deda (PT), e seu vice Belivaldo Chagas, são acusados de abuso de poder público e econômico. No Rio Grande do Sul, o gaúcho se depara com a governadora do Estado, Yeda Crusius (PSDB) sendo acusada de envolvimento em esquema de desvio de R$ 44 milhões do Departamento Estadual de Trânsito. Mais acima, o presidente do Senado, que foi presidente da República deste País, rebola para safar-se de uma série de acusações envolvendo trambicagens praticadas por ele e sua família contra os cofres (o bolso do povo) públicos e o Senado. Como diz o presidente Lula, é uma bela pizzaria com um bom número de competentes pizzaiolos. Sarney se defende, não com provas a seu favor, mas atacando o Estadão e a Veja, e junto com Lula, amaldiçoa toda a Imprensa.
Por outro lado, na mídia e em nome de Deus, a rede Record e os braços da Igreja Universal travam batalha campal com a Globo. Ambas se acusam de fajutagem em vários sentidos, porém nem uma nem outra mostra algo que possa inocentá-las. As duas agem de acordo com a irreverência brasileira. "Se ela fez e não foi punida, por que não posso fazer?". Qual a diferença em se matar uma pessoa com um espeto, ou dez tiros de trabuco? O cara morreu, portanto o crime é o mesmo.
De 1964 para cá, o Brasil tomou conhecimento de pelo menos 240 escândalos envolvendo políticos, sendo 101 ações, nos anos 90, de fraudes, abuso de poder e malversação do dinheiro público. Poucos foram cassados, julgados e punidos. Mas, se o Corinthians ficar três jogos sem vencer, São Paulo ou Palmeiras perderem duas seguidas, Flamengo, Fluminense e Vasco não ganharem o Cariocão, o bicho pega. O povo torcedor sai ás ruas, enfrenta a policia, se preciso o exército, e exige providências. Querem a cabeça do cartola, do treinador ou do boleiro que não demonstrou "amor" com a sagrada camisa do time. No caso da Seleção Brasileira, cuja ira aflora apenas de quatro em quatro anos, o treinador é o alvo preferido, porém em menor escala.
O futebol é o único motivo que deixa o brasileiro furioso e revoltado a ponto de enfrentar camburões, cavalos, escudos e bombas. Até a traição da mulher, antes penalizada com a morte, foi deixada em patamar menos significativo.Que os políticos saqueiem, mintam e atropelem o decoro e a ética, que se engalfinhem as poderosas emissoras de TV em busca do nosso dinheiro, que a mulher durma com o leiteiro (ainda existem?) e que o presidente apóie publicamente alguns salafrários. No entanto, não "bulam, não roubem nem achincalhem o time de coração do povão. Ai o bicho pega. Vale lembrar que o presidente do Senado provavelmente irá desfilar em Brasília como herói, e que a popularidade de Lula segue em alta.
Não podemos esquecer. Em 2010 haverá eleições, mas também tem Copa do Mundo. Dai...
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*Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista, trabalhou muitos anos no Diário do Grande ABC - rádio e jornal - e comandou a equipe de esportes da Rádio Diário por 10 anos. Recebeu a Medalha João Ramalho, concedida pela Câmara Municipal de São Bernardo, juntamente com a equipe de esportes da rádio, pela organização da Copa Infantil de Futebol do Grande ABC, que reuniu cerca de 1,7 mil garotos entre 7 e 12 anos. Atualmente é editor do semanário Folha do ABC.
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