sexta-feira, 3 de abril de 2009

ARTIGO ESPECIAL: EU VINGO... TU VINGAS...

J. Morgado

Presente do Indicativo do verbo Vingar é o título deste artigo. O infinitivo é “Vingar”. Essa palavra se tornou tão vulgar e tão inconseqüente nos dias de hoje que nos causa espécie ver e ouvir profissionais do meio de comunicação usá-la com freqüência. “A equipe brasileira terá oportunidade de se vingar dos...”. “... finalmente chegou a grande oportunidade”. Os... Poderão se desforrar da última derrota sofrida em junho de 2... O vocábulo VINGANÇA: 1 – Ato ou efeito de vingar (-se); desforço, desforra; vindita (Dicionário Aurélio). Essa expressão e seus sinônimos são usados comumente pela população de uma maneira tão corriqueira que ficamos a pensar: “quanto tempo ainda levará para que esse desejo seja totalmente erradicado da face da Terra?”
“O esquecimento mata as injúrias. A vingança multiplica-as.” Esse pensamento é de Benjamin Franklin, estadista, cientista, escritor e inventor norte-americano (1706/1790). Muito antes do advento de Jesus os filósofos já se referiam aos males causados pela vingança. O Mestre ratificou e foi além nos mostrando que devemos amar nossos inimigos. Nos vinte séculos que se seguiram os resultados nefastos (guerras, morticínios, duelos, etc.) nos mostraram o resultado calamitoso das vinganças, desforras...
Nós espíritas sabemos muito bem o que acontece com espíritos vingativos. Sofremos influência e influenciamos, ou seja, somos vítimas e algozes, dependendo do lado em que estamos. De qualquer forma há sofrimento tanto de uma como de outra parte. A paz que tanto almejamos jamais chegará a ser alcançada se conjugarmos o verbo vingar, no presente indicativo. Talvez, quando começarem a pensar no Imperativo negativo: não vingues tu, não vingue ele, não vinguemos nós, estaremos caminhando a passos largos para um mundo em regeneração. Infelizmente o homem usando de seu livre-arbítrio, inventou e deturpou todos os ensinamentos que nos foram legados. Na sua ânsia pelo poder não tiveram escrúpulos para mentir a fim de atingirem seus objetivos. Em nosso dia-a-dia, criamos situações que nos levam a um interminável moto-contínuo. Violamos as leis divinas e a dos homens todos os dias. O revanchismo é tão vulgar que nem nos apercebemos que o estamos praticando. Como exemplo pode-se citar várias situações: o vizinho varrendo o lixo para nossa porta e nós, “fulos da vida”, varrendo-o (o lixo) de volta. Sermos ofendidos no trânsito e respondermos com a mesma violência; ocuparmos uma vaga no estacionamento destinada a deficientes físicos e ainda criarmos caso com o guarda quando somos abordados. Estacionar em guias rebaixadas defronte a entrada e saída de residência, de hospitais, escolas..., ignorando o direito do próximo. Cada um desses casos, entre outros, criam outros tantos episódios. O vizinho, que teve seu lixo de volta, revolta-se! O ódio gera uma série de represálias tanto de uma parte como de outra. Uma simples conversa de pessoas que se dizem civilizadas e o que seria ainda mais importante, cristãs ou outra doutrina que prega a paz e o amor resolveria o fato.
No trânsito, jamais devemos revidar os insultos. Cada vez que isso acontece, é o orgulho que está falando mais alto, e a vingança nada mais é do que uma poderosa arma desse cancro moral. Um revide poderá gerar ferimentos ou um homicídio que trará conseqüências funestas no campo material (vinganças sucessivas) e muito pior ainda em prejuízo de resgates “cármicos” e evolução espiritual. As vinganças domésticas, aquelas inseridas no dia-a-dia de todos nós, devem ser combatidas constantemente. Fazendo isso, cada um de nós estará contribuindo para a paz mundial. Teremos um país melhor, um mundo melhor... Não importa a religião professada. O cristão tem o Código Divino ou o Segundo Testamento para orientá-lo. A prática do Evangelho no Lar, pelo menos uma vez por semana, é um remédio salutar para melhorar a moral e conseqüente evolução espiritual. Outras religiões voltadas para Deus também tem seu código de procedimento e ao que me consta muito bons.
No Capítulo XII, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, AMAI OS VOSSOS INIMIGOS, item 9 – A VINGANÇA – (edição IDE/84), destaca-se o seguinte trecho: “a vingança é uma inspiração tanto mais funesta quanto a falsidade e a baixeza são suas companheiras assíduas; com efeito, aquele que se entrega a essa fatal e cega paixão não se vinga nunca a céu aberto. Quando é o mais forte, precipita-se como um animal feroz sobre aquele que chama seu inimigo, quando a visão deste vem inflamar sua paixão, sua cólera e seu ódio. Mas, o mais freqüentemente, ele reveste uma aparência hipócrita, em dissimulando, no mais profundo do seu coração, os maus sentimentos que o animam; toma caminhos escusos, segue na sombra seu inimigo sem desconfiança, e espera o momento propício para atingi-lo sem perigo; esconde-se dele, espreitando-o sem cessar; arma-lhe emboscadas odiosas e derrama-lhe, chegada à ocasião, o veneno no copo (...)”. Mais adiante, no parágrafo seguinte: “Para trás, pois, com esses costumes selvagens! Para trás com esses usos de outros tempos! Todo espírita que pretendesse, hoje, ter ainda o direito de se vingar, seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tomou por divisa; Fora da caridade não há salvação!”...). Não vingueis vós, não vinguem eles...
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*J. Morgado é Jornalista e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico: jgacelan@uol.com.br
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Neste sábado o quarto capítulo inédito de "Trapalhadas de um foca", na sequência da série "As histórias das redações de jornais". Acompanhe o caso verídico de um jovem repórter de polícia que tinha medo de cadáver. Imperdível. (Edward de Souza)
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