sábado, 20 de novembro de 2010

SEXTA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2010


Ultimamente tenho ouvido muito a palavra cremação quando se trata de dar fim aos mortos. Aliás, os fornos crematórios têm crescido muito na Europa e no Brasil nos últimos dez ou doze anos. Segundo o Serviço Funerário de São Paulo, em 1995 houve quase 3000 cremações e em 2007, o número saltou para quase seis mil. Em 1997, havia apenas três crematórios, em 2007, esse número aumentou para 23 espalhados pelo país (fonte, Folha de São Paulo-24/02/2008). Acredito que neste ano de 2010, os estabelecimentos que se dedicam a esse mister já aumentou consideravelmente.

Nos Estados Unidos e na Europa, somam-se as centenas as instituições dedicadas a queimar os mortos e colocar as cinzas em pequenas caixas ou vasos. No Brasil, a cremação é regulada pela Constituição. Quem quiser ter o cadáver reduzido a pó precisa deixar essa vontade devidamente registrada, com documento assinado por testemunhas e reconhecido em cartório. Em São Paulo, no Crematório de Vila Alpina, o serviço é 100% gratuito apenas se a pessoa for doadora de órgãos e tiver falecido na cidade. Do contrário, é preciso pagar taxas a partir de R$ 300,00.

Este intróito informativo é apenas para dar início à questão cremar ou enterrar segundo as convicções religiosas de cada um. O costume da cremação é milenar, surgiu na Idade da Pedra em grande parte da Europa. Foi praticado no início do cristianismo e durante muito tempo prevalecia entre as civilizações de então. No mundo ocidental, por volta do século 10 a.C., os gregos já queimavam em fogo aberto corpos de soldados mortos na guerra e enviavam as cinzas para sua terra natal. No Egito praticava-se a mumificação e na Judéia, enterravam os corpos em tumbas; na China, realizavam sepultamentos em terra.
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Surgem sempre muitas dúvidas quando o assunto cremação é posto diante da religião. Os judeus, por exemplo, acreditam que o corpo não pode ser destruído, pois a alma se separaria dele lentamente durante a decomposição. Já a maioria das religiões aceita a prática da cremação. O catolicismo faz parte dessa maioria (apesar de sacerdotes conservadores), tanto que o Vaticano a reconheceu como prática em 1963, em documento oficial na Instituição. “Entretanto, de si, a cremação não é boa nem má, podendo mesmo ser utilizada como necessidade em casos de peste, de catástrofes, nas quais a corrupção lenta de um grande número de cadáveres pode ser perigosa para a saúde (exalações pestilenciais, contágio, etc.”, diz representantes da Igreja.

“Nada tão certo quanto à morte” é um dito popular de uma verdade concreta. Vejo pessoas que passam a vida inteira com medo do desenlace final. Qual a razão? É provável que a resposta esteja no excesso de materialismo ensinado pelas religiões durante séculos. Nos cemitérios, túmulos suntuosos e outros nem tanto. Outros, em uma simples campa. Qual o destino desses cadáveres que estão destinados a corrupção e a ser devorados por vermes? Garanto que títulos pomposos e riquezas não livrarão ninguém da frase bíblica “do pó vieste, ao pó voltarás”. No caso da cremação, o destino é o mesmo. Acho até que seria mais higiênico.

As religiões acreditam na vida após a morte. Divergem apenas de como seria a existência em outra dimensão. Muitos, no caso da religião católica e outras evangélicas e protestantes (cristãs), acham que os corpos decompostos serão revividos após o Juízo Final, pois acreditam na Ressurreição. Outros acham que o fogo purificará o espírito e os fará reviver em paraísos celestiais.

E o Espiritismo? Uma doutrina codificada por Allan Kardec (foto) a partir de 1857, com a introdução do Livro dos Espíritos e seguidos por outros quatro. “O espiritismo não proíbe a cremação de cadáveres, mesmo porque nada é proibitivo no Espiritismo, pois é uma doutrina de liberdade, mas antes de tudo, uma doutrina de conscientização. Recomenda, todavia, muita cautela para aqueles que venham adotar o procedimento da cremação de cadáveres, em substituição a inumação (sepultamento)”, diz Freddy Brandi.

No caso de pessoas muito apegadas à matéria, é possível, segundo muitos relatos de espíritos, que estas passem pelo suplício de “sentir” a decomposição do corpo. O espírito identifica-se de tal forma com a vida material, e é tão ignorante acerca da vida espiritual, que julga sentir corrupção no invólucro carnal, já imprestável e em processo natural de transformação. No caso de cremação, mesmo uma pessoa com o sentido da vida espiritual, caso ainda se encontre em estado de perturbação (morte súbita ou violenta, por exemplo) pode “sentir” o calor da fornalha. O corpo está morto, obviamente! Mas o espírito pode ainda não estar inteiramente desligado, e por isso, ao ver-se cercado pelas chamas, associa à sensação de queimadura e sofre. É de bom alvitre aguardar 72 horas antes da cremação.

Enterrar ou cremar, não importa. O que devemos entender, é como devemos nos comportar durante a vida terrena. Se nos associarmos às leis divinas, certamente teremos um desenlace ou uma volta para a espiritualidade de maneira serena e tranquila. É difícil eu o sei, mas não impossível. Não importa se o indivíduo é religioso ou não, o que vale é o seu comportamento durante o tempo que lhe foi conferido para seu aperfeiçoamento espiritual na Terra.
Os possíveis leitores poderão estar perguntando como procederia o autor deste artigo quando de seu desencarne? E eu respondo: provavelmente serei enterrado. Um túmulo (comprado há mais de 40 anos) me aguarda em um cemitério jardim.
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*J. MORGADO é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista? Só clicar aqui:
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