sábado, 6 de março de 2010


VOCÊ CONFIA NOS POLÍTICOS?


Alguns defensores da classe, sobretudo na mídia, argumentam haver políticos idealistas que não se enquadram no conceito de ser um profissional. Trabalha, sustenta a família, paga suas contas e entra na política mais pensando nos outros do que nele mesmo. Não posso entender que o sujeito gaste 500 mil dólares para se eleger deputado federal para ganhar por mês pouco mais de R$ 24 mil. Tem as regalias, é certo. Mas não me venham com essa história de idealistas. Ora, idealista todo mundo é. Hitler era. PC Farias também. Um queria dominar o mundo pela pureza da raça, e o outro pela corrupção.

As eleições deste ano já começam a movimentar os políticos, principalmente aqueles que estão por cima da carne seca e não querem perder o meio mais fácil de enriquecer. Polpudos vencimentos e mordomias de gabinetes realmente mexem com os interesses pessoais. Já começaram os sorrisos, os “tapinhas nas costas” e até visitas domiciliares. Com certeza, terão dificuldades em convencer os eleitores, principalmente aqueles (milhares) que não acreditam mais nos políticos.

O programa Fome Zero com suas inúmeras bolsas e ofertas tem um caráter nitidamente eleitoral, é impossível duvidar ou disfarçar isso. No entanto, ele continua a todo vapor durante o período eleitoral como uma alavanca a impulsionar o candidato do governo. É bom lembrar que dois governadores perderam seu mandato justamente por implementarem programas semelhantes e não terem parado na fase de eleições. O que valeu para os governadores, entretanto, não vale para Lula, que, bem ao contrário, acena com novas vantagens como a isenção nas tarifas elétricas.

Você pode perguntar a qualquer pessoa que já sentiu o gostinho de assumir um cargo na Assembléia Legislativa ou na Câmara Federal. Ele vai dizer que uma campanha eleitoral custa pelo menos um dígito a mais que o declarado pelos postulantes nas prestações de contas remetidas à Justiça Eleitoral, salvo raríssimas exceções (se elas existirem). O problema é que dada a sofisticação com que se desenrola o caixa-dois das campanhas, ninguém sabe como provar o crime eleitoral. E cá para nós. Tem coisa que não daria mesmo para entrar em uma prestação de contas sem que o postulante parasse atrás das grades. A verdade é que uma campanha de sucesso relativo para a Câmara Federal, para quem já tem um nome consolidado na praça, não sai por menos que R$ 1,5 milhão. Se o pretendente for um reles desconhecido, como aparece vez por outra, esse valor precisa ser duplicado.

Os comitês financeiros dos candidatos nunca informam, por exemplo, quantas dentaduras, botinas, óculos e contas de água e luz são pagas nos dias que antecedem o período eleitoral. Nos balancetes é possível conferir no máximo o gasto com gráfica, telefone e publicidade. Mesmo assim, todo mundo sabe que a velha e famigerada compra de voto corre solta. Por isso, em geral, a prestação de contas não passa de um conto de fadas.

O Brasil é um país de corruptos, dizem lá fora. Apesar de ser governado por um dos presidentes mais populares da sua história política, ninguém ousa dizer o contrário, porque contra fatos não há argumentos. E não precisamos citar fatos, já que são do conhecimento geral. O caso de José Roberto Arruda, somado a inúmeros similares, deixa de ser exceção para ser regra. Não podemos viver com máquinas governamentais desarticuladas e desestimuladas. As leis não funcionam, a roubalheira não tem freio.

A cada dia surgem mais escândalos, roubalheiras e falta de caráter. As revistas semanais estão fartas de matérias que seriam altamente suficientes para que o estádio do Maracanã ficasse lotado por políticos corruptos. A verdade é que nunca se viu, em tempo algum, tantos desmandos praticados por aqueles que deveriam dar um bom exemplo. Por outro lado, o povo brasileiro tem culpa nessa baderna, por votar em elementos de conduta duvidosa mais que comprovada.

País de impunidades escandalosas, o Brasil jamais será uma grande nação com administrações feitas de rotinas anacrônicas, visão e herança do clientelismo eleitoral e do paternalismo, corrupção nos despachos e dos orçamentos inviáveis, onde meios passam a ser fins e se esgotam os recursos e as aspirações. O que ocorre na administração do Distrito Federal é um exemplo vergonhoso e desmoralizante. Ladrões roubam abertamente e nada acontece. É muito bandido para um só John Wayne.

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*Edward de Souza é jornalista e radialista
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