quarta-feira, 20 de maio de 2009

UM DOS LIVROS MAIS VENDIDOS DO BRASIL

Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil.
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Nivia Andres
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"1808", do jornalista e escritor paranaense Laurentino Gomes, editado pela Planeta, é um grande sucesso – já vendeu quase 500 mil exemplares, ocupa a sexta posição no ranking dos mais vendidos da revista Veja, onde aparece há 83 semanas e ganhou o Prêmio Jabuti de Livro do Ano de 2008, na categoria não-ficção. O troféu representa a premiação máxima concedida anualmente pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). Esse é o segundo prêmio Jabuti conferido ao autor de "1808" desde o lançamento da obra na Bienal do Rio de Janeiro de 2007. A obra já havia sido apontada pela CBL como o melhor livro-reportagem de 2008. Além disso, o livro foi eleito o Melhor Ensaio de 2008 pela Academia Brasileira de Letras. “1808” é o resultado de dez anos de pesquisas do autor, que consultou mais de 150 livros e fontes impressas e eletrônicas sobre a vinda da família real para o Brasil.
O Brasil foi descoberto em 1500, mas só reconheceu-se como país em 1808, quando a família real portuguesa chegou ao Rio de Janeiro fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte. Até então, o Brasil ainda não existia - pelo menos, não como é hoje: um país integrado, de dimensões continentais, fronteiras bem definidas e habitantes que se identificam como brasileiros. Até 1807, era apenas um grande fornecedor de riquezas de onde Portugal tirava sustento e mantinha a opulência.
A vinda da corte transformou radicalmente o cenário. Em apenas treze anos, entre a chegada e a partida, o Brasil deixou de ser uma colônia atrasada, proibida e ignorante para se tornar uma nação independente. Nenhum outro período da história brasileira testemunhou mudanças tão profundas, tão decisivas e em tão pouco tempo. Foi também um evento sem precedentes na história da humanidade. Nunca antes uma corte européia havia cruzado um oceano para viver e governar do outro lado do mundo. D. João foi o único soberano europeu a colocar os pés em terras americanas em mais de quatro séculos de dominação.
“1808” é um livro interessante, um relato sério, porém bem-humorado, rico em detalhes. Seu propósito é resgatar e contar de forma acessível a saga da corte portuguesa no Brasil e devolver seus protagonistas à dimensão de sua real importância histórica. Até então, D. João VI era conhecido como uma figura caricata - lembram do gorducho preguiçoso que só se interessava por comida e a escondia nos bolsos da casaca, do filme Carlota Joaquina, de Carla Camuratti? - um homem medroso, indeciso, sem idéias próprias, solitário e mal-casado... Um tanto diferente da figura que, acossada por Napoleão, tomou a decisão de fugir e instalar o reino do outro lado do Atlântico, numa colônia continental, sem identidade territorial, mas foi o principal responsável pela independência do Brasil. É interessante a comparação que se instala quando fazemos um paralelo entre as comodidades e a tecnologia que temos atualmente e as agruras que a corte enfrentou na travessia do Atlântico – navios velhos, sujos, pequenos demais para comportar os milhares de passageiros, que se entupiam em todos os compartimentos, sem infraestrutura; comida e água racionadas e de má qualidade; suprimentos médicos inexistentes; vestuário incompatível com o gélido Atlântico setentrional e o calor dos trópicos. O exercício se torna mais real se visualizarmos as naus e nos colocarmos na pele de nossos pregressos colonizadores. O livro também privilegia a gradativa urbanização do Rio de Janeiro Em 1808, havia tudo por fazer no Brasil. A colônia precisava de estradas, escolas, tribunais, fábricas, bancos, moeda, comércio, imprensa, biblioteca, hospitais, comunicações eficientes. Necessitava de um governo organizado.
Além de abrir os portos ao comércio com outras nações, pondo fim do monopólio português, D. João autorizou a construção de fábricas, a abertura de estradas e a inauguração de escolas de ensino superior. Também criou o Banco do Brasil, a Imprensa Régia e o Jardim Botânico e elevou o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, promovendo o Rio de Janeiro à sede oficial da coroa. Dom João também se dedicou a promover as artes e a cultura. Além disso, mudou os hábitos da colônia, dando-lhes mais refinamento e bom-gosto. A gênese dessa transformação você vai conhecer lendo “1808”.
Se depois de ler este breve comentário você ainda não encontrou motivos para ler “1808” e conhecer um pouco mais a história do Brasil e de Portugal, faça um favor a si mesmo – adquira o livro e presenteie seus filhos (há uma edição especial, mais compacta e ilustrada, dirigida aos jovens). Garanto que logo, logo, o livro estará em suas mãos, por exigência e sugestão dos guris e gurias...
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*1808 pode ser encontrado em qualquer livraria ou supermercado que se preze. Os preços variam de R$ 24,90 a 35,90 e a edição juvenil, de R$ 22,10 a 29,90. Boa leitura! Depois me contem se valeu a pena a sugestão.
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Nivia Andres, jornalista, graduada em Comunicação Social e Letras pela UFSM, especialista em Educação Política. Atuou, por muitos anos, na gestão de empresa familiar, na área de comércio. De 1993 a 1996 foi chefe de gabinete do Prefeito de Santiago, Rio Grande do Sul. Especificamente, na área de comunicação, como Assessora de Comunicação na Prefeitura Municipal, na Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS), no Centro Empresarial de Santiago (CES) e na Felice Automóveis. Na área de jornalismo impresso atuou no jornal Folha Regional (2001-06) e, mais recentemente, na Folha de Santiago, até março de 2008. Blog da jornalista: http://niviaandres.blogspot.com/
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