sábado, 30 de outubro de 2010

SEXTA-FEIRA, 29 DE OUTUBRO DE 2010


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Diante de impropérios que a nação vem ouvindo nos últimos oito anos com absoluta lenidade, conclui-se que o estado brasileiro foi invadido pelo hipnotismo de um tirano, capaz de absurdo horror contra todos, desde que lhe seja garantido o poder absoluto.
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A partir das alianças amigas e solidárias de Lula, com Chaves, Fidel, Mahmoud Ahmadinejad, é oportuno detectar semelhança entre ele e suas atitudes, com grandes ditadores da história: No passado da França, Luis 14, “Rei Sol” (o Estado sou eu); da Alemanha, Hitler; o Rei Deus da Pérsia, Xerxes 1º, ou ainda a vontade inflexível de Joseph-Désiré Mobutu em trilhar o caminho de suas conquistas, mesmo deixando atrás de si, rastros de infortúnio e fogo.
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Se em Luis 14 foi evidente o absolutismo, vivemos com da Silva o mesmo gosto. Hitler todos conhecem seu registro macabro na história. Seu despotismo mostra herança congênita incluindo a vontade para dominar o mundo. Xerxes Iº usurpou o cargo do irmão primogênito, derrotou o exército de Leônidas no desfiladeiro de Termópilas, saqueou a África e arrasou os santuários da acrópole ao dominar Atenas.
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As afinidades entre Lula e o ditador Mobutu, Rei do Congo/Zaire, o “Grande Leopardo”, pode se apontar na origem humilde de ambos, na arrogância e volúpia pelo acúmulo de fortunas, de poder, no apego ao despotismo e na truculência. É também evidente a alta capacidade no iludir o povo, dando a mentiras, cunho de verdade. Se Mobutu convenceu com eficiência para obter ajuda de várias lideranças de países do ocidente, Lula caça direito, inibe judiciário e legislativo, pratica ditadura com mascara de democracia afirmando: “o Estado sou eu”, como disse Luis 14, expressão repetida pelo congolês. Adotaram na vida publica a linha da cleptocracia.
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As diferenças entre os dois? Lula nunca estudou, sempre viveu custeado por organizações sindicais, não aprecia leitura, e ameaça sistematicamente amordaçar a imprensa através do cerceamento da liberdade constitucional. Mobutu, o presidente, aprendeu a falar francês e currículos iniciais aos 8 anos. Logo a seguir, tornou-se frequente na leitura. Devorava publicações literárias, revelando, em principio, interesse por Charles de Gaulle, Winston Churchill e Maquiavel. Ainda no exercito, começou a trabalhar no jornalismo dedicando-se principalmente a área política. Em 1956 deixou as forças armadas para ficar no jornalismo em tempo integral.
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Não será difícil para o leitor em simples análise, constatar em Lula, um forte apetite ditatorial no desejo de subjugação do mundo, – hitlerismo – demonstrado claramente na busca de postos avançados, incluindo a ONU, no momento em que viu esgotar-se possibilidade de seus anseios de terceiro mandato, interposto por suas marionetes. Seus exemplos passados a nação, sob a égide da arrogância, se multiplicaram em rebeldia, mentiras e acobertamento das tramas engendradas a sua sombra no Palácio da Alvorada. Sua teatralidade tirânica ao ser contrariado, especialmente nos palanques de onde jamais desceu durante sua gestão, seu olhar fulminante espargindo ódio e terror, suas palavras a pregar o extermínio de agremiações e aniquilamento de pessoas, sempre identificaram o mal incrustado em seu espírito, sem a mínima observância ao dito maior: amai-vos uns aos outros.
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Ao final de uma jornada que deveria se revestir de acentuada civilidade, sublinhou-se a face inculta, despreparada e ambiciosa a incitar contra liberdade de expressão. Por inspiração do nefasto regente, estados da federação cuidam de aplainar caminhos criando conselhos de comunicação monitorando a mídia. O arbítrio foi recomendado na Conferencia Nacional de Comunicação convocada por Lula e começa a render frutos alicerçando pretensão de cercear a liberdade de imprensa em âmbito nacional. O art. 142, da Constituição Federal, com sabedoria reza que, “as Forças Armadas ocupam-se com a defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais, e por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
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Neste domingo, o eleitorado brasileiro decidirá nosso destino. Sua cultura política e ponderação vão definir o acerto ou desvio do caminho que leva a redenção nacional através do equilíbrio com justiça para a emancipação da pátria. Rejeitemos a ditadura ameaçando as liberdades. Honremos e desfrutemos a democracia com respeito ao silencio da caserna.
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*José Reynaldo Nascimento Falleiros (Garcia Netto), 82, é jornalista, radialista e escritor francano. Autor dos livros Colonialismo Cultural (1975); participação em Vila Franca dos Italianos (2003); Antologia: Os Contistas do Jornal Comércio da Franca (2004); Filhos Deste Solo - Medicina & Sacerdócio (2007) e a novíssima coletânea Seleta XXI - Crônicas, Contos e Poesias, recentemente lançada. Cafeicultor e pecuarista, hoje aposentado. Garcia Netto é amigo e colaborador deste blog.
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quarta-feira, 27 de outubro de 2010





Edward, bom amigo de todas as horas...
Memória Terminal chegou ao fim. Agradeço a você, a nossa querida Nivia Andres, Cristina Fonseca, a todos os leitores do blog que acompanharam, se enterneceram, criticaram, compreenderam. Pude reviver, muitas vezes de forma dolorosa, uma grande parte de minha própria vida, e isso me fez um bem danado. Foi como lavar a alma. No próximo dia 28 de novembro, uma sexta-feira, vai fazer dois anos que cheguei em casa, depois do trabalho, por volta de umas sete da noite. O Marqueiz já não me esperava no portão, como sempre fazia. Nos dois últimos meses, com a saúde muito debilitada, passava quase o tempo todo deitado, no torpor causado pela metadona. Eu entrava em silêncio, ia até o quarto, ele abria os olhos, falava com dificuldade, o sorriso meio torto, triste, toda a lateral do rosto paralisada. O Astor, “Salsicha” para os amigos, tomava conta dele o tempo todo, nunca o deixava só e a Neide, uma pessoa muito especial, ficava sempre por perto, até eu chegar para cuidar dele.
Naquela sexta-feira Marqueiz se levantou, bem devagar, foi pra cozinha. Preparei a sopa de mandioquinha batida, um dos poucos alimentos que ele ainda conseguia engolir. Ficamos lá um bom tempo, eu falava, falava, falava sem parar, fazia aquela voz animada, contava coisas. Os cães ao lado e ele dando petiscos. Acabava um pacote e ele me olhava,
como a dizer, eles querem mais.
Eu lhe dava outro e ele distribuía, deixando os bichos felizes.
Umas nove da noite daquele dia, ele, cansado, foi se deitar novamente. Ficamos ali, lado a lado, a TV ligada. Meia noite, hora de outra dose de metadona, e eu o acordei para tomar o remédio. Com tanta medicação, ele costumava dormir direto, até o amanhecer, quando eu o acordava as cinco para os remédios. Deviam ser rigorosamente no horário, para que não sentisse dor.
Causavam um efeito anestésico.
Um pouco antes das cinco horas acordei assustada.
Um barulho vindo do banheiro. Ele se levantara sozinho e, ao chegar ao banheiro, o coração parou. Estava caído, apoiado na pia. Seu sofrimento havia acabado. Terminava ali a vida daquele que foi a minha vida, que me ensinou a amadurecer, a compreender, a lutar e a sobreviver.
Nunca mais a risada escandalosa, um poema sobre a mesa no dia do meu aniversário, as pequenas alegrias que fazem a nossa vida valer a pena.
Agora, sua alma atormentada finalmente está em paz. Ele nunca deixou de ser o menino do interior, ingênuo, sem vaidades e sem ambições. Muitas vezes o sangue espanhol explodia, ele esbravejava e, dali a cinco minutos, não conseguia entender porque a outra pessoa estava magoada, pra ele já estava tudo esquecido. Nunca soube odiar ou desprezar. Se magoado ficava triste, não compreendia, se fechava. Tinha um carinho muito grande por todos os amigos, pelos colegas de redação, de balcões de bar. Mesmo dos que estavam mais distantes, se lembrava sempre, contava histórias. Tantos amigos e amigas que não foram citados em Memória, mas que estavam sempre presentes em suas lembranças: o Bugre, o Laranjeira, tantos outros que não vou me lembrar agora. Escrever era uma necessidade, um sacerdócio, um exorcismo. É assim que leio Memória Terminal: o relato de uma vida, sem retoques, onde ele se retratou pior do que realmente foi e onde tentou compreender e aceitar a realidade.

Obrigada, Edward.

Beijo...

Ilca Marqueiz


Sempre achei o mundo repleto de surpresas. De repente, uma pessoa com saúde, após um exame médico-laboratorial de costume, descobre que está com câncer. O mundo desaba e a primeira coisa que se faz é lastimar e perguntar: “Deus, o que eu fiz? Por que eu?”. Nessas horas, o deus que é invocado, não é o Deus que salva, protege e perdoa, mas, sim, o anjo vingativo, que parece sentir-se feliz em magoar e fazer sofrer, não apenas uma só pessoa, mas todo o universo de pessoas ligadas a ela. É esse deus que não sabe julgar, portanto, ignora como culpar e joga toda a desgraça humana sobre uma só pessoa. Por que eu?, insiste em perguntar essa pessoa atingida, de qualquer raça ou credo, de qualquer posição econômica, social ou cultural.


É essa mesma pessoa que, quando ganha uma fortuna em dinheiro em algum tipo de loteria ou jogo de azar, enaltece a bondade divina, a bondade desse mesmo deus que, quando ocorre ao contrário, se transforma em um ser diabólico. É a mesma pessoa que, agraciada com o nascimento de um filho com saúde, brinda com champanhe e charutos importados e se derrete em agradecimento pela dádiva alcançada. Por que o ser humano aceita tão placidamente o que lhe é oferecido de bom e ao mesmo tempo reage tão violenta e intempestivamente quando alguma desgraça, seja divina ou não, recai sobre os seus ombros ou sobre os de seus familiares?

Nessa hora, não adianta reclamar. Nem pedir nem esperar ajuda dos que se dizem amigos para “qualquer hora e momento”. Se alguém realmente necessitar, surgirão as mais diversas e esfarrapadas desculpas que, se analisadas ao longe do calor dos fatos, surgirão como verdadeiras piadas. O médico cardiologista Newton Brandão, mineiro e sábio, tem uma palavra para definir essa hipocrisia humana: confrangimento, adjetivo usado para classificar quem se sente muito mal, angustia-se envolto pela necessidade de inventar desculpas para justificar a ausência em um caso de ajuda.


A Ilca, certo dia, resolveu testar uma dessas pessoas “extremamente solidárias”, que vivem oferecendo seus préstimos. Nessa época, eu estava internado para tratamento quimioterápico, ao receber a oferta dessa ajuda espontânea, a Ilca fingiu aceitar só para ver a reação da cidadã. Não vi, nem ouvi, mas deve ter sido hilário. A primeira reação da mulher foi perguntar onde ficava o Hospital do Câncer. Fica na Aclimação. Aclimação? Longe, não? E tem que ser à noite? De preferência? Sim. E como faço minhas refeições? Tem restaurante próximo? Não, à noite, infelizmente, a maioria dos estabelecimentos comerciais fecha e, para atender especificamente os frequentadores do hospital – corpo médico, enfermaria, acompanhantes – só existe uma casa de chá, franqueada, de atendimento lamentável. Nos corredores de cada andar do hospital, há máquinas elétricas que, a cada moeda de cinquenta centavos, dá direito a um café puro, simples, expresso, chocolate e chá com limão – depende do gosto, mas realmente quem tem gosto evita tomar o que é servido por essas máquinas.


Concluído o questionamento, vêm as justificativas. Não, mas justo hoje que marquei jantar com aquele chato, mas do qual depende um bom negócio. Hoje? Infelizmente, faz um mês que está marcado um carteado na casa do fulano, regado à cerveja e caipirinha. Sinceramente, para hoje a agenda está lotada. Esta marcada uma visita do encanador, que ficou de checar o sistema hidráulico do apartamento, aquele adquirido por meio de financiamento da Caixa Econômica Federal há mais de vinte anos. E ia colocando ponto final nessa narrativa, quando recebo mensagem eletrônica de um colega de trabalho. É uma mensagem realmente animadora: “Marqueiz, Deus sabe muito bem o que faz”.
E o amanhã?
Ah, o amanhã. Não estou mais preocupado com o amanhã. Quero viver o hoje. E usufruir ao máximo de todos os hojes que surgirem em minha vida.

23 de setembro de 2007 – 15h40m.
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FIM
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*Este é o vigésimo oitavo e o último capítulo de Memória Terminal, série inédita escrita pelo saudoso amigo, jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso Nacional de Jornalismo. José Marqueiz nasceu no dia 11/06/1948. Faleceu em 29/11/2008. Agradecimentos a querida amiga Ilca Marqueiz por ter nos cedido esta obra, publicada com exclusividade por este blog. Muito obrigado a todos que acompanharam esta série. (Edward de Souza)
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terça-feira, 26 de outubro de 2010



Futurologia é sempre um risco. Lembro-me, quando era garoto, década de 1960, dos desenhos que faziam sobre o mundo do ano 2000, com carros flutuantes, rampas em curvas em torno de prédios mirabolantes, tudo muito sofisticado num excesso de fantasias. O ano 2000 já se foi, há dez anos, e nada daquilo que previam os desenhos aconteceu. Fazer futurologia em política é mais arriscado ainda, porque lida com seres humanos, que são de carne e osso, e tão imprevisíveis agora quanto a meteorologia do dia de Natal, se vai chover ou não. Isto posto, vamos partir da ideia de que este artigo não tem nenhum compromisso com acertos. Vamos deixar isso para os cartomantes, que se calam nos 99% de erros e alardeiam algum eventual 1%, se tanto, de acerto.

O que acontecerá se vencer Dilma? Ou se vencer Serra? A curiosidade é grande. E este exercício analítico uma mera diversão deste autor. Poderá ser tudo diferente. Vamos começar por Dilma, que até o momento em que escrevo lidera as pesquisas com uma vantagem de 11 pontos, que não significam que a eleição esteja ganha. Que o diga Luiza Erundina e sua espetacular virada na véspera da eleição para a Prefeitura de São Paulo. Uma semana antes ninguém apostaria nela, olhando só pelo prisma das pesquisas.

Dilma é uma especialista em energia. É a área em que sempre transitou com maior desenvoltura. Tem, portanto, perfil técnico. É uma gerente, foi seu papel no governo, não vem de uma carreira política tradicional. Seu perfil não é de líder de massas, longe disso. Tornou-se, assim, a candidata ideal para pavimentar o caminho para a volta de Lula nas eleições de 2014. As composições desta campanha já sinalizam para um governo de conciliação e isso, no meu entendimento, ficou explícito nesta semana final, quando ela desengavetou o termo “governabilidade”. O que significa isso? Simples: a continuidade de uma composição ministerial tão heterogênea quanto a atual, que foi capaz de colocar na mesma mesa nomes tão díspares como Tarso Genro e Vanucchi, de um lado, e Nelson Jobim e Miguel Jorge, de outro. E haja negociação parlamentar.

Essas bravatas do Lula em campanha não contam. São apenas agora, e para vencer a eleição. Sem conciliação e negociação ninguém governa, muito menos ele, que assumiu sob a desconfiança do capital, hoje em grande parte seu apoiador. Collor que o diga, tentando governar sem respaldo parlamentar. Caiu. Dilma dará um chega prá lá no Lula e baterá na mesa dizendo “a presidente agora sou eu, não se meta”...? Acho pouco provável, porque o acordo já está todo costurado. Ou por que acham que, na prática, não existiram prévias no PT? Lula, montado em sua indiscutível popularidade, sem precedentes na História, impôs a candidatura Dilma. Será, digamos, seu grande conselheiro em todas as questões cruciais. Nessa hora, nos bastidores, vão governar juntos. Já nas questões menores Dilma tocará sozinha, administrando o cotidiano.

O interesse na vitória de sua candidata é óbvio: não será desmontada a máquina do poder, com todo o peso que significa para as eleições de 2014. Manter o PT no poder fará tremenda diferença, desde já, porque Lula não está nos palanques por Dilma, está por ele próprio, em franca campanha pelo retorno. Montará algum instituto e sairá percorrendo o país de ponta a ponta, numa campanha de quatro anos, que lá na frente se desenha quase invencível. E já articula um time de ghost writters qualificados para alimentar a mídia com artigos assinados por ele sobre todo tipo de assunto, para se manter na crista do debate.

Dilma não tem carisma público nem cacife partidário para desalojar o patrão. E ele não arriscaria suas fichas em alguém que apresentasse a possibilidade desse risco. Nem o PT tem entre seus caciques um nome capaz de competir com o próprio Lula em espaço político. Ficam todos em sua sombra, além de pulverizados em lideranças apenas regionais. Dilma terá que fazer um bom governo para assegurar que a volta do chefe ocorra sem grandes percalços. Não pode ser um novo Pitta. Não terá muito trabalho para isso, porque a economia vai muito bem, obrigado, e o índice de desemprego nunca foi tão baixo, em torno dos 6%. As reservas cambiais são astronômicas. Numa crise internacional, como ocorreu recentemente, o país pode novamente se sair muito bem.

A propósito, a habilidade demonstrada nessa crise, com aquele pacote econômico, foi irretocável e isso é que agora está abrindo a possibilidade da vitória de Dilma. Se a crise tivesse sido mal administrada teria se refletido na economia nacional, com danos que agora cobrariam seu alto preço político. Outro dia, passando por uma grande avenida da região Norte de São Paulo, fiquei espantado com a quantidade de novas lojas sofisticadas e bares de grande estrutura (foto a esquerda), que ali estão se espalhando em velocidade recorde. O que é isso? Uma micro amostra de uma economia aquecida, que avança, abrindo novas possibilidades de investimentos, consumo, empregos e todos os seus demais derivados.

Tente embarcar em Cumbica num feriadão. Observem os anúncios das agências de viagens. A classe média está tranquila. Claro que não é mérito exclusivo do governo Lula; a semeadura começou no governo Itamar Franco; se consolidou com FHC; e Lula fica com o mérito de ter surfado bem sobre a onda, sem tombar. Malandro, invoca para si toda a obra, mas isso teria sido impossível em apenas oito anos, muito menos em quatro. Nenhum presidente teria alcançado a estabilidade econômica numa única gestão. É todo um processo, que passa por fases, como uma planta que cresce aos poucos e requer todos os cuidados. Dilma pode fazer um bom governo e é o que gente espera. Exceto quem torce sempre contra o Brasil, vislumbrando tão somente um projeto pessoal de poder. E esses, a gente sabe, infelizmente existem. E podem estar tanto no PT como no PSDB, ou em qualquer outro partido, não faz diferença.
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Já José Serra (foto), vem de outra trajetória completamente diferente. É um político de vocação natural, desde os bancos escolares, e nunca escondeu seu projeto de algum dia ser presidente. Começou no radicalismo da presidência da UNE antiga, que apoiava Fidel Castro ardorosamente; subiu no palanque com João Goulart no célebre comício do dia 13, já nas vésperas do golpe de 1º de abril de 1964; conheceu o exílio; ajudou a fundar o PSDB com um grupo dissidente do PMDB, ao lado de Covas, Montoro, FHC. Estive no primeiro encontro público de lançamento do partido, no Palácio Anchieta (Câmara de Vereadores), simpatizei. Estive também na primeira assembléia de fundação do PT, no Sindicato dos Jornalistas. Saí em dúvida. O PSDB nasceu para ser um partido da classe média. E o PT nasceu de um corporativismo obreirista, que seu crescimento engoliu. No início rejeitava os intelectuais e os estudantes, que o bajulavam. Ambos cresceram muito, mais do que imaginavam, e se dividiram internamente em correntes e facções. Cada um, na verdade, tem dentro de si vários micropartidos, que se combatem com virulência nos bastidores.

Serra e Aécio disputam aberta e duramente nesse cenário, com Geraldo Alckmin (foto), também tentando ocupar um espaço. É diferente do PT, onde Lula reina absoluto, deixando as refregas entre os peixes menores. Vencendo, Serra terá também que fazer um bom governo de olho em 2014. O caroço duro será decidir lá na frente: reeleição ou candidatura Aécio? A briga SP - Minas, como pano de fundo, vai crescer. Ainda que tenha que fazer todo esse teatro entusiástico por Serra, no fundo, para Aécio, a melhor perspectiva seria um governo Dilma opaco, com os escândalos de sempre (que vão continuar ocorrendo, ganhe quem ganhar).

Aécio (foto) entraria em 2014 como a opção jovem e renovadora, cheio de energia, oferecendo novas esperanças ao país e único nome capaz de peitar Lula. Serra estaria rifado pelos sucessivos fracassos eleitorais. Por outro lado, o sucesso do governo Serra pode significar um balde de água fria nas ambições de Aécio e seu grupo partidário. Serra vai querer continuar, não tenham a menor dúvida quanto a isso. Desejo boa saúde e vida longa a todos eles. Mas são humanos, não imortais. Se algo acontecer, o que sinceramente não desejo, poderemos ter o patético Índio, vice de Serra; ou o mordomo de castelo mal assombrado, Michel Temer, vice de Dilma, governando o Brasil. Aí muda todo o tabuleiro. Será outro jogo. Completamente imprevisível.
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*Milton Saldanha, 65, é jornalista e escritor, além de tangueiro amador. Quando acha um tempinho gosta de brincar de futurólogo. Comentários para esta crônica logo abaixo do texto que noticia o falecimento do Senador Romeu Tuma.
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MORRE ROMEU TUMA
O Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, informou nesta terça-feira que o senador Romeu Tuma (PTB-SP) morreu por volta das 13h de hoje. Segundo a Agência Senado, o corpo do parlamentar será velado na Assembleia Legislativa de São Paulo. Tuma (PTB-SP) estava internado no Sírio-Libanês desde o dia 1º de setembro para tratar um quadro infeccioso de afonia (perda ou diminuição da voz). Além de exigir cuidados médicos, o problema impediu Tuma de fazer campanha nestas eleições. O candidato ficou em quinto na disputa pelo Senado em São Paulo e não se reelegeu.
No dia 2 de outubro, o senador foi submetido a uma cirurgia para colocação de um dispositivo de assistência ao coração chamado Berlin Heart. O dispositivo auxiliava a regular a pressão e circulação sanguínea do paciente. Paulistano, Romeu Tuma completou 79 anos no último dia 4 de outubro e foi investigador e delegado da Polícia Civil do Estado antes de ingressar na política. Casado com a professora Zilda Dirane Tuma, deixa quatro filhos e nove netos.
(Fonte: Redação Terra).
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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

DOMINGO, 24 DE OUTUBRO DE 2010



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Nas muitas andanças da equipe de esportes da Rádio Diário do Grande ABC pelo Interior de São Paulo ou por tantas outras cidades brasileiras, foram necessários, de acordo com a distância e localização, vários tipos de transportes que provocaram algumas situações embaraçosas, como já foi descrito em artigos neste blog.
Uma quarta-feira de abril, no final dos anos 80, a equipe, então composta por Edward de Souza (narrador), Jurandir Martins (repórter), Agapito Assunção (operador de som), o motorista da viatura da rádio (Lampião) e eu (comentarista), esteve em Franca – 400 quilômetros de São Paulo - com a missão de transmitir um jogo entre a Francana e o Santo André, disputado no Estádio José Lancha Filho (Lanchão).
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Como Franca é a cidade natal do Edward, onde residem seus pais, irmãos, primos e tios, nosso companheiro exigiu que a equipe se hospedasse na residência de sua família até o sábado seguinte, já que no domingo iríamos transmitir um jogo em Jaú, envolvendo o XV de Novembro e o Santo André. Convite feito, convite aceito. Apenas o motorista (Lampião), por motivos profissionais imediatos, retornou ao Grande ABC. Ficamos na casa do "sêo" Arlindo (pai do Edward) e, tratados como reis, nos sentimos donos do pedaço.
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Depois do jogo entre Francana e Santo André, que terminou empatado em 1 x 1, ficamos livres de compromissos, a não ser nos fins de tarde, quando apresentávamos os programas esportivos da Rádio Diário, (das 18h às 19h, transmitidos de Franca para a Grande São Paulo, diretamente da mesa da sala da residência do “sêo” Arlindo, com o equipamento utilizado nos estádios. Tudo nos conformes. A casa do “sêo” Arlindo fica (ainda é a mesma, apenas reformada), bem próxima ao centro da cidade. Talvez uns três ou quatro quarteirões.
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Na quinta-feira depois do almoço e de um bom papo com os pais do Edward, percebi que meus amigos foram todos tirar uma soneca. Resolvi dar umas voltas, a pé, até o centro da cidade, ver de perto o famoso relógio de sol, (foto a direita) que, segundo contam em Franca, só existe um igual no mundo, numa cidade da França. O calor era forte, temperatura acima dos 30 graus, normal naquela região. Entrei numa lanchonete, na esquina da praça central e solicitei um suco para refrescar-me. Na hora de pagar a conta foi que percebi que não tinha um tostão nos bolsos. Havia esquecido o dinheiro na casa dos pais do Edward. Envergonhado, aproximei-me da proprietária do estabelecimento, uma jovem e gentil senhora, explicando a ela o meu problema. Disse que era amigo do Edward, que durante muito tempo foi radialista em Franca, e estava hospedado na casa dos seus pais, onde havia deixado por descuido a carteira com o dinheiro. Antes que continuasse, a senhora tranquilizou-me, dizendo que poderia pagá-la em outra oportunidade. Até hoje não sei se ela conhecia o Edward ou se foi com minha cara. Certo é que voltei depois e paguei pelo suco que havia tomado, claro, agradecendo a proprietária da lanchonete pela gentileza e confiança.
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No sábado pela manhã, café tomado, juntamos a parafernália da rádio para viajar até Jaú, não muito distante de Franca. No momento das despedidas o Edward se irritou em virtude de pequena discussão entre sua mãe (saudosa dona Dalva) e o irmão mais novo, (Arlindinho, também já falecido). O rapaz pretendia vir e ficar alguns dias na casa do irmão em Santo André. A mãe não queria deixar e iniciou-se pequena pendenga entre o Arlindinho e dona Dalva (coisa de mãe e filho). No entanto, prevaleceu a vontade da mãe. Já no portão da casa, aparece um tio do Edward, que os mais íntimos chamam (está vivo e forte), de “Nenê”, que, talvez para quebrar o gelo, pergunta: "por que vocês vão a Jaú?" Fuzilando, o Edward respondeu, aos berros: "vamos a Jaú porque Jaú não pode vir até aqui". Nada mais foi dito nem perguntado, não precisava.
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Calmo e paciente, "sêo" Arlindo, em sua Brasília impecável, nos conduziu até a rodoviária de Franca, onde tomamos um ônibus para Jaú. O coletivo, provavelmente dos anos 50, chacoalhou sua lataria por uma estrada de terra, parando em todas as goiabeiras que encontrava, para apanhar passageiros, além de entrar em uma escola, onde subiram uns 15 barulhentos alunos. Produzindo uma fumaceira e uma poeira incríveis (eram tipo 11h00, com sol escaldante a pino), o ônibus destrambelhava pela estrada. Dentro, alguns passageiros oriundos de algumas colônias que rumavam para onde, ninguém sabe, e os barulhentos pivetes da escola rural. Eu e o Edward estávamos acomodados em uma poltrona (poltrona?) no fundo do coletivo e o Agapito (nosso operador de som) livre, leve e solto, sozinho em um banco duplo, certo que ganharia na loteria se uma garota bela e faceira entrasse no ônibus e viesse sentar-se ao seu lado. Ele, Agapito, era (já faleceu), um crioulo alto, simpático, forte, sempre risonho, perto dos 50 anos, calmo, boa praça e grande companheiro.
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Em uma parada entrou (no ônibus) um negão, tipo dois metros de altura, meio desdentado, faltando um dedo na mão esquerda que se acomodou no lugar vago ao lado do nosso Agapito. Atrás, eu e o Edward não sabíamos como disfarçar o riso diante da esdrúxula situação do nosso companheiro, que sonhava ter ao seu lado uma, digamos, Mariana Ximenes ou Camila Pitanga. Ele, no entanto, não se atrevia a olhar para trás, receando denunciar nosso riso ao parceiro de poltrona, que caso se irritasse, deixaria a situação ruim (e coloca ruim nisso) para o nosso lado. Era um brutamontes. Mas nada de diferente ocorreu que pudesse complicar nossa "confortável e aconchegante" viagem.
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Chegamos por volta das 13h00 na estação rodoviária de Jaú e com toda a parafernália da rádio (maletas, malas e cerca de 200 metros de fios para o campo), que pesavam uns 50 quilos. fomos de táxi, a um hotel. Até a hora do jogo, no domingo, às quatro da tarde, o assunto não foi outro que não o desconforto do Edward com o tio "Nenê" (que se atreveu a perguntar: "por que vocês vão a Jaú?", e a inusitada viagem de ônibus (ônibus?) que nos conduziu até Jaú. Além, claro, da companhia que inibiu nosso saudoso Agapito em seu banco no ônibus e da gafe que cometi na lanchonete no centro de Franca, esquecendo de levar dinheiro para pagar a conta. Este artigo, simplório, é mais um relato do tipo de aventura, entre tantas, que uma equipe convive na gratificante profissão de radialista/jornalista esportivo.
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*Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no Grande ABC
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sábado, 23 de outubro de 2010

SEXTA-FEIRA, 22 DE OUTUBRO DE 2010


Graças a uma campanha acirrada atualmente levada a efeito no Brasil, quando os dois candidatos a presidente desfraldam a bandeira em oposição contra o aborto, o assunto finalmente ganha a importância política que merece. Sim, política, afinal o assunto, além de ético, moral e religioso, é também político.

Movimentos mil têm sido levados a efeito, tanto os que são a favor quanto aos que são contra. De um lado, adeptos do feminismo, que se declaram a favor da legalidade do aborto, alegando que cabe a mulher a decisão do que deve ser feito com o próprio corpo. Do outro, os religiosos e também não religiosos que acham que a vida tem início na concepção.

Em alguns países, o aborto é legalizado. Talvez por uma questão de prevenção a explosão demográfica, mas nunca ético ou moral. A Doutrina Espírita trata clara e objetivamente a respeito do abortamento, na questão 358 de sua obra básica O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec: Pergunta – Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?
Resposta – “Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando”.
Sobre os direitos do ser humano, foi categórica a resposta dos Espíritos Superiores a Allan Kardec na questão 880 de O Livro dos Espíritos: “qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem? “O de viver”, foi a resposta. “Por isso é que ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal”.

É do Livro Religião dos Espíritos este parágrafo: “fugi do satânico propósito de sufocar os rebentos do próprio seio, porque os anjos tenros que rechaçais são mensageiros da Providência, assomantes no lar em vosso próprio socorro, e, se não há legislação humana que vos assinale a torpitude do infanticídio nos recintos familiares ou na sombra da noite, os olhos divinos de Nosso Pai vos contemplam do Céu, chamando-vos, em silêncio, as provas de reajuste, a fim de que se vos expurgue da consciência a falta indesculpável que perpetrastes”.

Afinal, eu pergunto: teriam os postulantes ao cargo maior na direção do país, ciência ética, moral e religioso sobre o aborto ou é apenas um interesse momentâneo devido ao um possível interesse político que se poderia traduzir como um ato de fisiologismo? Para os que pensam que a vida termina com a morte física, o aborto é um ato normal e não há razão para remorsos. Mas os que acreditam na vida após a morte, dependendo da crença a que pertençam ou acreditam, sempre há esperança de um “purgatório” ou o perdão concedido pelo padre ou pastor. Os espíritas acreditam na vida eterna do espírito e não do corpo. “Do pó vieste, ao pó voltarás”.

Na revista Informação, de número 304/2002, a resposta a uma pergunta de uma leitora me chamou a atenção: “quando uma mulher sofre um aborto espontâneo ou mesmo uma ameaça de aborto é porque o bebê está em dúvida ou com medo de vir a Terra? Ou porque não gosta dos pais por algum problema em alguma encarnação?”
Resposta – “Em casos assim, não podemos precisar com exatidão a causa que determina o aborto. Se há causas físicas, certamente há causas espirituais ligadas ao Espírito reencarnante, que podem ser várias. Nas obras de André Luiz, pelo médium Francisco Cândido Xavier, especialmente “Os Mensageiros” e “Missionários da Luz”, podemos encontrar referências a respeito. Mas também não podemos descartar a existência de causas relacionadas a ignorância, negligência ou imprudência da mulher e que podem provocar problemas relacionados com o aborto, resultando em reencarnações frustradas. Cada caso é um caso”. O assunto é extenso. Voltaremos em outra ocasião.
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*J. MORGADO é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista? Só clicar aqui: jgarcelan@uol.com.br

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