sábado, 6 de junho de 2009

PRECISAMOS APRENDER A VALORIZAR
A ÁGUA, CADA VEZ MAIS CARA E RARA
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Édison Motta
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Nesta semana do meio ambiente, quando nem sempre atentamos para o que é fundamental para a vida, convém lembrar que a água, cada vez mais cara e rara, deveria ser melhor valorizada pelos brasileiros.
No início dos anos 70, o prefeito de Bagdá se desculpou à população, em rede nacional de televisão, dizendo que havia perfurado vários poços para encontrar água, mas só descobrira petróleo. Isto porque, àquela época, o petróleo era vendido a 35 dólares o barril e a água comprada a 115. Mesmo com o preço do ouro negro superando atualmente casa dos 60 dólares, após uma recente escalada estratosférica que o elevou a 150, a água continua caríssima para quem não a tem por perto. Israel briga pelas Colinas de Golã e os raros mananciais de água são – além do petróleo – o pano de fundo de muitos conflitos mundiais, em especial no Oriente Médio.
Entre nós, um dos principais desafios é desenvolver a consciência de que a água é um bem precioso. Mais do que isso: pode significar uma questão estratégica suficiente para pontuar o diferencial do Brasil no panorama social e, principalmente, da economia globalizada.
No Japão, a água de reuso é utilizada para limpeza. Estive lá, durante um mês e constatei com meus próprios olhos. A maioria dos prédios possui dois sistemas de distribuição: um para consumo humano e outro com água tratada para reutilização nas caixas de descarga, lavagem de pátios, trens, metrô, automóveis etc. Com uma população de 130 milhões de habitantes, concentrada num espaço equivalente ao território do Estado de São Paulo e sem grandes reservatórios naturais eles enviam frotas de navios para rebocar icebergs dos pólos para transformá-los em água potável, de vez que o trauma das duas bombas atômicas não permite que eles utilizem energia nuclear para retirar o sal da água do mar.
A maior parte da superfície terrestre (2/3) é coberta de água. Porém, 97,5% é salgada dos oceanos e mares; 2,493% é doce, em geleiras ou regiões subterrâneas de difícil acesso. Restam apenas 0, 007% disponível nos rios, lagos e atmosfera.
O Brasil dispõe de 11,6% da água doce superficial do mundo e 70% dela está na região amazônica. Os 30% restantes se distribuem de forma desigual para atender 93% da população. Ao contrário do que se pode imaginar, não é no Nordeste onde a situação da água é mais crítica. O problema atinge, principalmente, o Sudeste – em especial a Grande São Paulo – devido à grande concentração humana de indústrias e outras atividades produtivas. Os mananciais são os mesmos e estão cada vez mais comprometidos com a poluição e o avanço da ocupação desordenada. Com a expansão do desenvolvimento para o interior do Estado, a água potável está cada vez mais rara e distante.
Num País onde o combate à fome é alardeado como prioridade é bom saber que uma pessoa pode suportar até 28 dias sem comer, mas apenas três sem beber água.
Um grande esforço, envolvendo governos em todos os níveis, parlamentos, Ongs e os mais amplos segmentos da sociedade precisa ser desenvolvido buscando levar à população brasileira a conscientização sobre esse grande desafio: preservar a pouca água que temos e direcionar a utilização dos mananciais para fins nobres. O combate ao desperdício deve ser içado à condição numero um, prioritária, com procedimentos educacionais que comecem nos bancos pré-escolares e acompanhem a evolução dos seres humanos por toda a vida. Campanhas educativas permanentes e medidas severas de preservação devem entrelaçar um conjunto de medidas buscando uma consciência nacional sobre esse verdadeiro ouro que dispomos em condição vantajosa no panorama mundial. O destino de nossos mananciais, além do consumo humano deve também contemplar a irrigação de nossas lavouras e fomentar a pecuária.
Abençoados pelo Sol tropical e pelas dimensões continentais somos, cada vez mais, o celeiro do mundo. E será por aí que ocorrerá a afirmação do Brasil como nação soberana, auto-suficiente e exportadora de alimentos e energia. Não somente para assegurar nossa própria qualidade de vida, mas especialmente para garantir um rumo de vantagem estratégica às futuras gerações. Acima de ideologias e preferências partidárias esse nosso tesouro chamado água deve ser um fator de união, desenvolvimento e promoção da paz universal.
Nos tempos coloniais o Brasil foi descoberto e disputado pelo velho mundo devido suas reservas de ouro. Levaram tudo para enriquecer impérios e enfeitar as igrejas da Europa. Hoje, mais do que o metanol, nosso ouro é a água. Pense nisso quando for lavar o carro, a calçada, tomar aquele banho prolongado ou deixar a torneira aberta enquanto escova os dentes.
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*Édison Motta, jornalista e publicitário é formado pela primeira turma de comunicação da Universidade Metodista. Foi repórter e redator da Folha de S.Paulo e Jornal do Brasil; editor-assistente do Estadão; repórter, chefe de reportagem, editor de geral (Sete Cidades) e editor-chefe do Diário do Grande ABC. Conquistou, com Ademir Médici o Prêmio Esso Regional de Jornalismo de 1976 com a série “Grande ABC, a metamorfose da industrialização”. Conquistou também o Prêmio Lions Nacional de Jornalismo e dois prêmios São Bernardo de Jornalismo, esses últimos com a parceria de Ademir Médici, Iara Heger e Alzira Rodrigues. Foi também assessor de comunicação social de dois ministérios: Ciência e Tecnologia e da Cultura. Atualmente dirige sua empresa Thomas Édison Comunicação.
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