sexta-feira, 21 de maio de 2010


QUEIXUMES


“Eu que me queixava de não ter sapatos, encontrei
um homem que não tinha pés.”
(provérbio chinês)


Quantas vezes durante nossa existência já teríamos ouvido esse provérbio da cultura chinesa, que acabou se inserindo na sabedoria popular? Quantas pessoas se dão conta do que realmente querem dizer essas poucas palavras? Acredito que não muitas, tendo em vista o número de pessoas que existem neste nosso planeta. Os queixumes são tão vulgares que acabaram fazendo parte da conduta do homem, quando se sente lesado, seja material ou fisicamente. Dói aqui, dói ali, ou me falta isto ou me falta aquilo, ou ainda, porque isso acontece só comigo, e vai por aí a fora. As pessoas se queixam do tempo, das pessoas que a rodeiam e das pessoas que, por motivos vários, são obrigadas a terem contato.

Muitas vezes, aceitamos, como inevitável, aquilo que nos acontece no dia a dia; aí partimos para a reclamação, lamúrias, queixumes, etc. Entretanto, nós, espíritas, sabemos muito bem, ou deveríamos saber, que nós mesmos programamos nossa reencarnação e, como tal, devemos compreender, como ninguém, os problemas que nos cercam quando voltamos para este mundo de expiação e provas.

Isso não quer dizer que sejamos fatalistas, uma palavra que deve ser abolida do dicionário espírita, mas realistas, ou seja, cientes de que aqui estamos para resgatar nossos erros e aprender, cada vez mais.

Devemos nos preocupar com nosso corpo físico sim, pois ele é o templo de nosso espírito. As queixas ficam para aqueles que ainda nada sabem disso, mas que um dia, pelo amor ou pela dor, buscarem ajuda espiritual nas searas espíritas que se espalham pelo mundo, cada vez mais.

As queixas maiores são porque aquele tem mais e eu tenho de menos (vide o Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XVI, item 8). Depois, provavelmente, são as doenças, que poucas pessoas sofrem com estoicismo. A maioria queixa-se constantemente de suas dores, mas se olhasse para seu próximo ou olhasse para trás, veria que há mais sofrimentos no mundo e que ele não está só. Basta assistirem os noticiários na televisão, nas revistas e jornais e verificarem o que acontece na África, na Ásia e aqui mesmo, na América do Sul, como no caso o Haiti, entre outros.

O Livro dos Espíritos, na Questão 258 e seguintes, nos dá a resposta e comprova o que até agora foi escrito. “No estado errante, e antes mesmo de tomar uma nova existência corpórea, o Espírito tem a consciência e a previsão do que lhe vai acontecer durante a vida?

- Ele mesmo escolhe o gênero de provas que deseja sofrer; nisto consiste o seu livre-arbítrio”.

A lição segue com perguntas e respostas, portanto irmão leitor acione seu exemplar do livro que deu origem à Codificação do Espiritismo e busque minorar os queixumes que todos nós estamos acostumados a fazer durante nossa existência; será um passo adiante no progresso que buscamos. Naturalmente, quando se trata de doenças físicas, devemos ir à busca de médicos e outros profissionais de saúde para que, uma vez diagnosticadas as causas, tratá-las convenientemente.

Não poderia deixar de contar aqui uma velha história que também acabou se acoplando na sabedoria popular: um senhor faminto andava pelas ruas, em busca de alimento. Depois de muito caminhar, encontrou uma banana; com satisfação descascou-a e jogou a casca do fruto fora. Logo atrás, outro faminto apanhou a casca e alimentou-se com ela. São raras as pessoas que não conhecem essa historinha, mas ela serve para ilustrar bem o assunto que estamos abordando.

O Capítulo V do Evangelho Segundo o Espiritismo - Bem-Aventurados os Aflitos - logo em seu item 1, diz: Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, porque o reino dos céus é para eles. (São Mateus, capítulo V, v. 4, 6 e 10).

No item 4, Causas Atuais das Aflições -. As vicissitudes da vida são de duas espécies, ou, se assim quer, têm duas fontes bem diferentes que importa distinguir: umas têm sua causa na vida presente, outras fora dela.

Remontando à fonte dos males terrestres, se reconhecerá que muitos são as consequências naturais do caráter e da conduta daqueles que os suportam.

Quantos homens tombam por suas próprias faltas! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!

Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por má conduta e por não terem limitado seus desejos!

A lição prossegue e, repetindo o que escrevi acima, tenham à mão, em todos os momentos, o Evangelho Segundo o Espiritismo, além das outras obras que Kardec nos deixou, e, certamente, os queixumes diminuirão, para a felicidade presente e futura.

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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista: jgarcelan@uol.com.br
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