sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


LIPOASPIRAÇÃO

A VAIDADE QUE CEIFA VIDAS


Modelar o corpo, transformar a aparência. O fascínio pelo visual perfeito motiva desde atividades físicas, ao uso de cosméticos e procedimentos cirúrgicos com fins estéticos. Notícias de complicações e mortes decorrentes de lipoaspiração levantam as perguntas: quais os riscos desta cirurgia? Quem pode se submeter ao procedimento? O que leva uma pessoa a arriscar a vida em nome da autoestima? De tempos em tempos notícias sobre mortes durante cirurgias plásticas comovem a população porque na maioria das vezes os pacientes são jovens.

A jornalista Lanusse Martins, de tenros 27 anos morreu no dia 25 de janeiro do mês passado, em uma clínica particular, em Brasília, após uma cirurgia de lipoaspiração. Lanusse era repórter na TV Justiça e em 2009 também trabalhou na TV Globo de Brasília. Menina linda, competente e de futuro com certeza brilhante à sua espera. Em vez disso, foi-se antes da hora e deixou órfão um filhinho de apenas 6 anos. Quatro dias depois da morte da jornalista Lanusse Martins, o Conselho Federal de Medicina anunciou a elaboração de um novo protocolo de segurança para cirurgia plástica, que irá indicar procedimentos que devem ser seguidos em plásticas.

Também em janeiro, no dia 8, a técnica em radiologia, Carla Fares, 33, morreu após uma lipoaspiração em Duque de Caxias (RJ). Carla teve uma parada cardiorrespiratória e entrou em coma. A família da técnica responsabiliza a clínica e apresentou uma denúncia à polícia. Muitas outras mortes foram registradas durante cirurgias de lipoaspiração, além dessas duas este ano, quatro apenas no ano passado

O que antes era uma rotina que nem assustava os pacientes, agora se reveste de uma nova gravidade e exige uma apuração completa para que fique estabelecida a causa da morte e a responsabilidade de cirurgiões e instituições envolvidas.

A vaidade de vez em quando ceifa vidas. Inúmeros jovens já morreram ou tiveram graves problemas em busca de um corpo perfeito. O uso de anabolizantes é responsável por graves danos à saúde e a procura de músculos potentes e de um torso “sarado” já levou ao hospital centenas de usuários dessas drogas. No lado feminino a plástica impera como solução para se conseguir um corpo perfeito e que esteja de acordo com os padrões que vigoram na moda. Num mundo de manequins esqueléticas, vale tudo para se chegar à silhueta magra que os costureiros exigem, da fome ao estágio da anorexia que sempre traz complicações ao paciente.

O gosto pelos corpos oscila. Já tivemos a vez das rechonchudas no começo do século passado, quando as gordurinhas eram consideradas não só sensuais como saudáveis. Agora estamos sob o império das mulheres atléticas de corpo definido e músculos à mostra e quem não teve a sorte de nascer geneticamente preparado para esse desafio tem de recorrer ao bisturi se quiser fazer algum sucesso social. Assim, um número cada vez maior de mulheres procura os cuidados de um cirurgião plástico para tentar alcançar o ideal de beleza que está nas capas de revista.

A lipoaspiração não é feita para perder peso e sim para modificar a silhueta, por isso, não é indicada para pacientes obesos. A cirurgia apresenta resultado mais eficaz em pessoas que apresentam gordura localizada. Antes de passar pela transformação desejada, o paciente deve se submeter a exames laboratoriais e fazer uma avaliação de risco. Estes exames são uma espécie de “radiografia” da saúde do paciente e devem ser apresentados ao médico até sete dias antes do procedimento. Os exames mostram se há possibilidades de arritmia, infarto, problemas respiratórios. O paciente só pode fazer a cirurgia se estiver com a saúde perfeita. Se tiver uma anemia, por exemplo, terá de se recuperar para poder fazer a lipo.

É preciso ficar definitivamente claro que esse é um procedimento tão sério e arriscado quanto qualquer outra cirurgia e não pode ser tratado como uma banalidade.

Vivemos num país de justiça lenta, mas o Conselho Federal de Medicina não está assim tão assoberbado que não possa dar à população a satisfação que ela merece e exige para que não fique maculado o nome dos verdadeiros profissionais por erros ou imperícia de um pequeno grupo. O que fez tão somente foi divulgar uma estatística de 2004 a 2008, mostrando que 238 denúncias de erros médicos ocorreram durante cirurgias plásticas, resultando na cassação do registro de seis profissionais além de censuras públicas (advertências) em outros 35. De acordo com o CFM, 89 processos foram arquivados.

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*Edward de Souza é jornalista e radialista. Trabalhou em vários jornais, emissoras de rádio e tv do Grande ABC e de São Paulo. Medalha João Ramalho, principal comenda do município de São Bernardo do Campo, outorgada pela Câmara Municipal daquela cidade pelos relevantes serviços jornalísticos prestados à região. Troféu PMZITO, entregue pelo alto comando da Polícia Militar de Santo André por ter se destacado como o melhor repórter policial do ABC nos anos 70. Menção Honrosa entregue em 2007 pela Câmara Municipal de Franca e outra pelo Rotary Clube Norte pela atuação brilhante na radiofonia e jornalismo da cidade. Participou de diversas antologias de contos e ensaios.
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