sábado, 26 de fevereiro de 2011

SEXTA-FEIRA, 25 DE FEVEREIRO DE 2011
Nos últimos dias, os jornais tem se ocupado com pequenas notas de casos de anencefalia que tiveram autorização da Justiça para interromper o processo de gestação. Aborto é a palavra certa! Dois desses abortos autorizados que são de gestantes moradoras de cidades do interior de São Paulo (São José do Rio Preto e Santa Adélia – Estadão - 5 e 12 de fevereiro/011). Em ambos os casos, a sentença foi baseada em que o anencefálo viveria poucos dias depois de nascer e que a mãe correria risco de vida.
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No dia 19 de fevereiro, o mesmo jornal ocupa uma página inteira para falar desse problema. A matéria informa que o STF retoma o processo que autoriza aborto de anencefálo, depois de sete anos engavetado. O jornal mostra em um pequeno quadro destacado na matéria, que “A anencefalia é uma malformação embrionária que atinge aproximadamente um em cada mil bebês. É caracterizada pela ausência parcial do encéfalo e da calota craniana e pode ser diagnosticada no terceiro mês de gestação. Não há tratamento nem chances de sobrevivência para o bebê anencefálico. A maioria dos afetados não sobrevive ao nascimento. Aqueles que não nascem mortos, geralmente morrem algumas horas depois, após parto”.

Com o título “Julgamento volta a opor ciência e religião”, em outro quadro, mostra que em 2003 uma jovem de dezoito anos pediu ao juízo criminal de Direito de Teresópolis, para interromper a gravidez, já que foi diagnosticada a anencefalia do feto. O pedido foi negado porque o Código penal não prevê autorização de aborto nesses casos. Entre vai e vem, como acontece sempre na burocracia judicial, uma desembargadora autorizou a interrupção da gravidez. Um padre católico entrou então com habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça. Enfim, até o processo ser julgado desta vez no STF, o bebê nasceu e morreu. O processo foi arquivado.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pediu para participar da ação. O choque causado entre opiniões religiosas e científicas é proverbial e mais uma vez se faz presente. Ao longo da história, a ciência materialista de choca com os pensamentos espiritualistas da igreja. Entretanto, não pretendo discutir aqui religião e ciência e sim a questão MORAL que nada tem a ver com ciência e religião. A definição para “moral” no Aurélio é extensa. Ficamos com a primeira: “substantivo feminino – 1. Conjunto de regras de conduta considerada como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada”.

Não pretendo aqui neste simples artigo, impor ou mostrar de alguma forma que a doutrina espírita tem o dom da verdade. Nada disso. Apenas vou tentar dizer o que pensa o espiritismo a respeito do assunto uma vez que, a doutrina dos espíritos codificada por Allan Kardec, nada tem contra ou a favor de qualquer religião. A polêmica sobre a existência e a pré-existência do espírito e o momento de sua concepção, em relação ao corpo físico, perturba a ciência, a religião e a filosofia terrena. Os indivíduos materialistas dizem que o homem é apenas um composto de matéria densa, iniciando a vida no berço e terminando no túmulo e nada mais.

Os reencarnacionistas acreditam no fator “causa e efeito” ou carma para os indús. E, partindo daí, entende-se que onde há um efeito é porque houve uma causa. Indo direto ao assunto. Não teria como espírito programado, o anencéfalo, juntamente com aquela que lhe daria a luz, provocado toda essa situação? Um resgate moral. Eu disse MORAL e não religioso. A interrupção desse processo, segundo o espiritismo, traria sérias consequências em futuras encarnações, além de gerar conflitos obsessivos para a mãe que recusou dar a luz a um espírito que necessitava passar por esse transe.

Seria mesmo verdade que todos os anencefálos morrem ao nascer? Não estaria ai uma situação materialista ou de conveniência para se safar dos problemas que uma criança nessa situação acarretaria para a mãe? A Revista Internacional de Espiritismo, do mês de julho de 2007, depois de uma intensa repercussão na imprensa local (Franca) e nacional, publicou uma matéria de minha autoria sobre o caso da menina Marcela de Jesus Ferreira (sem cérebro sim, sem alma não), que morreu um ano e oito meses depois de seu nascimento, prova inconteste de que tais crianças nem sempre morrem logo após o parto. Esse fato ganhou repercussão nacional e internacional

O caso aconteceu na pequena cidade de Patrocínio Paulista, vizinha a Franca. E foi acompanhado por uma médica pediatra do início do nascimento até a morte do bebê. Os médicos, unânimes em seu diagnóstico, diziam que a criança, filha de Cacilda Ferreira (foto), não tinha cérebro e afirmavam que ela morreria dentro de dias. O tempo provou que eles não estavam certos e para se justificarem diziam que havia um pouco de massa encefálica. Fato desmentido categóricamente pela médica Márcia Beani Barcelos, que acompanhou o caso do começo ao fim. A pediatra afirmou ao Jornal "O Comércio da Franca", que não foi a anencefalia que matou a criança. De acordo com ela, Marcela aspirou leite, que vedou o pulmão direito. Além disso, a criança estava com pneumonia. O bebê morreu no dia 1º de agosto de 2008, na Santa Casa de Misericórdia de Franca.

Para encerrar esta matéria, transcrevo um trecho do Livro dos Espíritos, publicado pela primeira vez em 1857. Diz O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec (foto), na questão 347: “que utilidade pode haver para um Espírito a sua encarnação num corpo que morre poucos dias após o nascimento? Resposta: “o ser não tem alta consciência de sua existência: a importância da morte é quase nula: como já o dissemos, é muitas vezes uma prova para os pais”. Também vem nos esclarecer a questão 355: “Há como indica a ciência, crianças que desde o ventre da mãe não tem possibilidades de viver? E com que fim acontece isso?”
Resposta: “Isto acontece frequentemente, e Deus o permite como prova, seja para os pais, seja para o espírito destinado a encarnar”.
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*J. MORGADO é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista? Só clicar aqui:
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