sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


DISCUSSÃO ESTÉRIL

Desde os meus tempos de garoto, pelas mãos de minha mãe era semanalmente levado até a Rua da Glória em São Paulo, onde se situava a Federação Espírita do Estado.

Evidentemente, criança ainda, dormia eu a sono solto na maior parte dos trabalhos espirituais ali realizados. Mais tarde a instituição mudou-se para a Rua Brigadeiro Tobias. As sessões eram realizadas em um enorme salão de uma antiga mansão então existente naquela região paulista e eu continuava a tirar minhas sonecas. As reuniões eram públicas naquela época. Lembro-me vagamente de um tio, irmão de minha genitora, com um livro nas mãos doutrinando os espíritos doentes que ali iam ter em busca de esclarecimento e lenitivo. Naquele tempo, fins da década de 30 e início da de 40, não havia o que há hoje – Juventude Espírita, Educação para crianças através de livros infantis e adaptados para compreensão dos jovenzinhos, etc. Os adeptos do Espiritismo eram tratados como párias da sociedade. Os vizinhos nos tinham como bruxos e coisas do “diabo”. Nós pequerruchos podíamos sentir isso nas perguntas de nossos amiguinhos de folguedos; “vocês são macumbeiros não é”? Não sabíamos o que responder. Mais tarde, já na pré-adolescência, partíamos para uma briguinha cada vez que nos interrogavam a respeito do assunto. A história sobre essa época é longa e interessante. De qualquer forma há uma semelhança (ressalvando as devidas proporções) quando dos primeiros cristãos perseguidos, primeiro pelos soldados a serviço do clero judaico e em seguida pelos romanos. No século XX, os espíritas sofreram muitas perseguições e eram até alvo de investigações pela polícia que exigiam licença e outros documentos para o funcionamento de uma Casa Espírita. A coragem de muitos pioneiros na divulgação da Doutrina sobressaiu-se e venceu os detratores e aqui estamos cada vez mais lúcidos e imbuídos de nossa responsabilidade perante a humanidade.

São muitos os fatos que enriquecem a História do Espiritismo no Brasil que vão desde as polêmicas em torno da figura de Jesus até a desagregação de entidades e a formação de outras.

Mas, uma delas nos causa desprazer; é quando se referem ao Cristo como “Político”. Foram muitas as ocasiões em que escutamos ser Jesus “O maior socialista que já existiu”. Com paciência, fiz ver as pessoas de quem ouvi essa frase a diferença entre política e a Moral pregada pelo Mestre. Muitas dessas pessoas ou pelo menos a maior parte delas se deixam envolver com “doutrinas milagrosas utópicas”, criadas pelo homem e divulgadas pela mídia comum e publicações que até pouco tempo eram proibidas pelo governo; não se preocupam em ler nas suas minúcias os livros de Kardec e principalmente o Evangelho Segundo o Espiritismo, onde certamente deixariam de ter tais idéias.

Não foram poucas as pessoas, ou melhor, interesses políticos que tentaram usar o Espiritismo para tirar proveito. Aconteceu no passado com outras religiões resultando no atraso moral em que nos encontramos. Só que na Doutrina dos Espíritos não há brechas (pelo amor ou pela dor).

As definições estão claras nos dicionários da Língua Portuguesa, tanto para Socialismo que é um conjunto de doutrinas de fundo humanitário que visam reformar a sociedade capitalista tentando diminuir um pouco as desigualdades, quando para a Moral que se refere aos bons costumes e um conjunto de regras de conduta consideradas válidas, quer de modo absoluto em qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada.

E vai por ai a fora.


EVOLUÇÃO

Quando será que o homem entenderá que apenas a evolução espiritual resolverá os problemas da humanidade? Que a matéria carnal é provisória e que “ao pó voltará”? Pudemos verificar que muitas coisas estão acontecendo em várias partes do mundo. Por exemplo: a mídia vem divulgando (não com tanta ênfase) que grupos de jovens estão saindo algumas vezes por semana vasculhando o lixo e verificando o desperdício que acontece em restaurantes em casas de família (sejam elas de que classe for) e outros lugares. Interessante que eles pertencem à classe média e sem nenhum pejo comem daquilo que recolhem. É verdade que são assistidos por médicos e outros profissionais; mas é uma idéia maravilhosa, pois mostra ao mundo verdadeiramente o que poderíamos fazer com o excesso que guardamos ou jogamos fora.

Mesmo Antes de Cristo apareceram muitos homens que nos ensinaram filosofias dignificantes e durante os séculos que se passaram até os dias de hoje foram muitos os exemplos de como deveríamos nos comportar para termos uma felicidade relativa e uma vida sem muitos problemas.

Não quero dizer aqui que a Sociedade não tenha que se organizar para que haja uma civilização ordeira visando o progresso do ser humano. Aliás, essas questões estão muito claras no Livro dos Espíritos na pergunta 711 e seguintes. Refiro-me sim ao excesso de materialismo e imediatismo que cega o indivíduo e faz “ouvido mouco” as preleções e aos conselhos evangélicos que surgem a cada momento e cada vez mais a “Porta Estreita” é preterida porque não oferece o que o ser humano deseja, ou seja, manter seus vícios morais e materiais que lhe dão prazeres imediatos. “Meu Reino não é deste Mundo” disse Jesus. As pessoas ainda não conseguiram assimilar que eles são espíritos imortais e não matéria que um dia poderia “ressuscitar”. Por essa razão Kardec não admitia que pessoas participassem das sessões mediúnicas ou práticas apenas por curiosidade. Exigia que a o pleiteante lesse as obras codificadas e só depois então, se convencidos, participassem das reuniões.

A moral de Jesus através do Evangelho e da Codificação Espírita nos mostra claramente conforme frase de Kardec que “Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade”. Assim sendo, só existe um caminho para a nossa evolução: REFORMA ÍNTIMA.

Os homens através de seus arroubos idealistas inventam ou criam filosofias para a melhoria da sociedade; ótimo, pois é esse o seu dever. Só que na medida em que o tempo avança deixa-se se levar pela ânsia do poder ocasionando sofrimentos e amarguras.

Poucos, muito poucos foram os homens que ao assumirem a responsabilidade de dirigirem nações o fizeram com o coração limpo de qualquer resquício de orgulho ou ganância. No século que passou lembro-me de dois e os escrevo com letra maiúscula NELSON MANDELA E MAHATMA GANDHI. O primeiro depois de 28 anos de prisão tornou-se presidente de seu país (África do Sul) e instituiu pequenos tribunais populares para julgar os pedidos daqueles que solicitavam anistia pelo que fizeram no regime da Apartheid e praticamente os perdoou a todos, instituindo assim a “Lei do Perdão”. O segundo, com sua filosofia hinduísta, conseguiu libertar o seu povo (Índia) do jugo estrangeiro sem usar da violência, mas infelizmente, os desejos pelo poder ocasionaram seu assassinato, em 1948.

A consulta de jornais escritos, televisivos, revistas, rádio, etc., todos os dias, nos dão uma idéia do que vai pelo mundo. A evolução moral é lenta e uma boa parte da população prefere o misticismo e os milagres para resolverem seus problemas. Deus, nosso Pai não revoga suas próprias Leis, daí, o sofrimento constante e as reencarnações múltiplas até que o ser humano entenda o que o “Verdadeiro Cilício” é o combate de seus defeitos morais, ou seja, o orgulho, o ódio, o rancor, a mágoa, a vaidade e assim por diante. Daí, só há uma solução “AMAR O PRÓXIMO COMO A TI MESMO”. Quando chegarmos a cumprir esse mandamento, o mundo terá atingido o que Jesus apregoou para quem quisesse ouvir e seremos todos felizes...

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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista pelo e-mail jgarcelan@uol.com.br
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