sexta-feira, 17 de abril de 2009

A QUESTÃO: CONCEDER OU NÃO CONCEDER

J. Morgado

O exemplo dos pais pode moldar o caráter dos filhos e os preparar para a vida. A renúncia de determinados vícios materiais - fumo, álcool, etc. - e morais, como o orgulho excessivo, consumismo exagerado e o acréscimo de um comportamento social educativo, certamente conduzirá a criança para um futuro bem melhor do que está acontecendo nos dias de hoje. A criança bem direcionada será o homem responsável amanhã!
Abrindo o Evangelho Segundo o Espiritismo meus olhos se detiveram no Capítulo XXVIII - Coletânea de Preces Espíritas – subtítulo: Nas aflições da vida – item 26 Prefácio. “É lícito pedir a Deus os favores terrestres, e Ele poderá concedê-los quando tenham um fim útil e sério; mas como nós julgamos a utilidade das coisas sob o nosso ponto de vista e a nossa visão se limita ao presente, nem sempre nos apercebemos do lado mau daquilo que almejamos”. A lição continua.
Em todos os tempos, há exemplos de pais zelosos que concedem a seus filhos tudo o que pedem. Seria essa uma educação para uma existência útil e evolutiva? A história, as crônicas e a mídia atual nos mostram o contrário. Tive a oportunidade de presenciar jovens ricos que nada lhes faltava e, buscando alternativas para preencher o vazio em seu interior, desafiavam as leis e a moral, roubando veículos, furtando simples calotas ou emblemas de veículos de luxo para fazerem coleção e se vangloriarem disso. A droga, o sexo desvairado, a violência, o vandalismo são válvulas de escape para espíritos conturbados. Vez ou outra um homicídio envolvendo jovens de ambos os sexos escandalizam a sociedade. Quais seriam os motivos? Não que isso não ocorra com adolescentes de outras categorias econômico-sociais, mas isso poderia ser levado à conta da ansiedade pela aquisição de bens de consumo, longe do poder de adquiri-los legalmente. Nós, espíritas, que estudamos a Doutrina, sabemos muito bem quais são as causas de tudo isso. Mas a sociedade ainda materialista se deixa levar pela Porta Larga e o resultado é o sofrimento na matéria e do espírito. A experiência nos mostra que filhos mimados em excesso, que tenham suas vontades realizadas sejam elas quais forem, acabam se tornando tímidos demais ou violentos; exceções confirmam a regra. A indiferença e o preconceito é uma marca registrada nesses jovens que não tiveram uma educação adequada. O trabalho, o ensino, a disciplina e o exemplo dos pais moldam o caráter dos filhos e os preparam para uma vida útil e dignificante. Cada ser humano antes de reencarnar recebe orientação de como deverá se comportar quando na carne. Seu esquecimento do passado é uma dádiva de Deus para que o amor seja a rota segura rumo à perfeição. Porém, o livre-arbítrio é respeitado e cabe a cada ser vivente discernir entre o bem e o mal, entre a Porta Estreita e a Porta Larga (Capítulo XVIII, item 3 – Evangelho Segundo o Espiritismo).
Verifica-se nos dias de hoje psicólogos, educadores e demais especialistas em educação infantil mostrarem métodos para a educação de crianças. Há muita divergência entre eles sobre quais seriam os métodos. Uma coisa, porém é clara: a violência jamais deverá ser empregada, seja ela física, moral, ou psicológica. Este articulista não tem a pretensão de mostrar nenhuma fórmula mágica para educação infantil, mas acredita que o amor, a religião e a disciplina sejam os ingredientes para uma boa orientação. O hábito para uma leitura sadia e adequada para cada etapa de vida da criança é muito importante.
Lembro-me quando fazia o primário minha professora me orientava para ler livros sobre contos de fadas. Assim, Os mais belos Contos de Fadas irlandeses, ingleses, russos, etc., junto com outros de fábulas, embalaram minha meninice. Um pouco mais tarde, fui orientado para a biblioteca infanto-juvenil: Julio Verne, Alexandre Dumas, Monteiro Lobato com sua Mitologia Grega Para Crianças, etc. Naquela época não havia televisão, vão dizer alguns que lerem este artigo; e eu digo, havia o rádio com o “Homem Pássaro”, “Jerônimo Herói do Sertão” e outros programas infantis tão a gosto da molecada de então. Enfim, o que acontece hoje, é o conceder por conveniência. Eu concedo e ela (a criança) me deixa em paz; ou ainda a concessão por orgulho: meu filho (ou filha) não pode deixar de ter tal objeto ou frequentar tal lugar, ou então, ele não pode ser tratado desta ou daquela maneira...
Continuando a lição que deu início a este artigo, “Deus, que melhor vê, e não quer senão o nosso bem, pode recusar, como um pai nega ao filho o que pode ser nocivo”. Assim, Deus, infinitamente Bom, pode ou não recusar o que pedimos uma vez que sabe exatamente o que somos, o que fizemos e o que faremos se atender este ou aquela rogativa. Os pais carnais, conhecendo o mundo que o cerca e suas realidades (têm a obrigação de conhecer) são os guias morais de seus filhos e assumiram ainda na erraticidade o compromisso de cumprirem essa missão. Negar o que for nocivo é um ato de amor e não um ato despótico. .
Para encerrar, vou transcrever alguns tópicos de uma página de EMMANUEL, psicografada por Francisco Candido Xavier, que tem o título “Jovens”, inserida no livro Religião dos Espíritos, edição FEB/1988.
“No estudo das idéias inatas, pensemos nos jovens, que somam às tendências do passado as experiências recém-adquiridas”.
“Com exceção daqueles que renasceram submetidos à observação da patologia mental, todos vieram da estação infantil para desempenho de nobre destino”.
“Entretanto, quantas ansiedades e quantas flagelações quase todos padecem, antes de se firmarem no porto seguro do dever a cumprir!...”
“Ao mapa de orientação respeitável que trazem das Esferas Superiores, a transparecer-lhes do sentimento, na forma de entusiasmos e sonhos juvenis, misturam-se as deformações da realidade terrestre que neles espera a redenção do futuro”.
“Muitos saem da meninice moralmente mutilados pelas mãos mercenárias a que foram confiados no berço, e outros tantos acordam no labirinto dos exemplos lamentáveis, partidos daqueles mesmos de quem contavam colher as diretrizes do aprimoramento interior”.
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*J. Morgado é Jornalista e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico: jgacelan@uol.com.br
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