quinta-feira, 4 de março de 2010

Garcia Netto e Cesar de Alencar, na Rádio Nacional, RJ

FLAGRANTES DA VIDA (VI)


Ao completar a prazerosa missão de entregar a vocês a série Relembranças, não basta fazer a retrospectiva de uma história que sempre será bonita, merecendo ser guardada com o carinho que mostraram ter pelo rádio brasileiro, seus astros e estrelas, seus serviços de utilidade pública, seu entretenimento. Foi assumido compromisso de esclarecer questionamentos a certas dúvidas ao final, promessa que agora tentarei cumprir. Devo, por justiça, acrescentar: tornou-se obrigatório, para mim, confessar que muito aprendi e recordei nas colocações feitas em suas postagens.

Agradecimentos são devidos a todos os participantes do Blog, pela camaradagem, educação e nível cultural reinante entre todos. Honra-me o fato de ter sido convidado a fazer parte de tão selecionado grupo.

Permitam-me, amigos, destacar gratidão ao Edward de Souza pela reunião do grupo de mente iluminada circulando em seu Blog. À amiga Nivia Andres, ­– competente revisora, diagramadora e ponto de equilíbrio de meu texto e ilustração – pelo carinho que vem dedicando ao nosso Blog. À Cris, igualmente por dar roupa bonita às matérias.

Meu caro professor João Paulo. A casa de danças a que se refere, na Avenida Ipiranga, bem perto da Avenida São João, chamava-se Maravilhoso, ao lado do Restaurante Spadoni, finito há muitos anos. Nas proximidades existiu o famoso cabaré Ok. Taxi girls, me parece, o primeiro foi o Salão Verde, no Edifício Martinelli, na sequência, Maravilhoso, Cuba, Lido e Avenida, na Rio Branco. O Blota formava com Sônia um casal de comportamento exemplar: grande amigo.

Milton Saldanha. Havia, sim, um passado entre Geisel e Souza Aguiar que serviram, ainda tenentes, na mesma guarnição, nada, no entanto, que se relacionasse com o projeto daquela obra extraordinária. A rivalidade nascera, segundo consta, em nome de uma promoção onde o general presidente teria sido preterido em favor de Aguiar. Não creio ser essa a questão principal do desmonte do histórico Monroe. Comungo com você no espanto do aconselhamento de Lúcio Costa, profissional que deveria cuidar com mais acuidade dos temas específicos de sua área e memória. Para mim, a resolução presidencial ganhou fundamento nas ingerências políticas e técnicas.

Gabriela. Fico mais a vontade ao inquirir-me sobre o tratamento em igualdade. Deve ser assim mesmo, para você e demais navegantes do nosso barco, eu devo ser você. Confesso que na rua ao ser chamado de “tio”, modismo que rejeito, arrepio. Nunca fui de anotar nada, concluo hoje que faz falta a guarda de documentos e fotos.

Ana Paula. Ao agradecer suas referências declaro minha alegria por estar no Blog do Edward e somar com a competência das maravilhosas figuras que aqui estão. Se um sabe e passa saber adiante, é justo juntarem-se na ampliação de conhecimentos.

Tanaka. Ao iniciar a apresentação da série havia, na verdade, outro objetivo. Não programei o tema Monroe. Confesso minha surpresa pela discussão aberta e proveitosa. Gratificou-me. Sabe você que o Brasil, ainda jovem, não sabe cultuar o hábito de respeito à memória, feitos do seu povo. O debate que estamos promovendo pode ser mais um instrumento eficaz de vanguarda para despertar nas autoridades a urgente necessidade de estabelecer projetos de prioridade para o assunto. Muitos de nossos leitores conhecem os princípios adotados na Holanda, na Áustria, na França. Para citar poucos, Amsterdan guarda riquezas trazidas dos mares por seus piratas, 25% do produto saqueado, da mesma forma que guarda a arte de Van Gogh em seus museus. Paris não permitiu o extermínio de sua velha estação ferroviária - Gare d’Orsay - cuidando de sua restauração sem medir investimento, em nome da preservação da memória. Ela está lá transformada no invejado Musée D’Orsay, para orgulho de franceses, com festa de olhos do turismo internacional. Do mesmo cuidado, o Musée de L’armée conserva do cavalo ao cachorro de Napoleão embalsamados. Suas armas e suas lutas lá estão, retratando a história. Maria Thereza, a poderosa, está revivida em Viena, com suas descendentes dominantes. Esperemos, Tanaka, frutificar nossa pregação. Em outro comentário, perguntou se a Rádio São Paulo, que dirigi, é a mesma famosa das novelas. Sim. Adquirimos seu controle do grupo Record. Pertencia ao senhor Amaral, cunhado de Paulo Machado de Carvalho.

Luiz Henrique e Ronaldo Cesar. No caso de Franca, há que considerar-se, além do Hotel Francano, o antigo Mercado Municipal – ferragem importada da Inglaterra – que um prefeito decidiu ignorar e demolir. Um coreto que acolhia a Banda Municipal, aos domingos e, agora, os restos da estação da Mogiana, em abandono.

Ademir Médici e João Paulo. Não convençam: exijam a preservação do bar da estação, em Santo André.

Vanessa. Precisamos dar tom a nossa cultura. Precisamos imprimir o espírito de preservação de nossas coisas. Acho que estamos fazendo isto agora. Vamos ampliar a discussão nas ruas, nas universidades, em nossas famílias.

Guaracy Mattos. Imagino que posso agradecer em nome de todos a referência que você nos atribuiu: “blog inteligente e frequentado por pessoas cultas”, onde incluo o amigo. Defender seu direito de expressão é obrigação cidadã e nós a praticamos. Acho que o Saldanha, muito acertadamente, colocou opinião que acompanho.

J.Morgado. Juntando as lembranças que guardamos, lotaremos um jacá e até um carro de boi. Especialista em centrão de São Paulo, deve ter escutado violinos na Confeitaria Vienense, da Rua Direita, onde mulheres bonitas e perfumadas tomavam chá todas as tardes. Deve ter ido comer sanduiche no Porco que Ri, início da São João; deve ter assistido a inauguração do invento americano - o restaurante automático, onde se colocava uma ficha valendo 400 réis e saía o prato escolhido da portinhola, parecendo caixa do correio. O Restaurante do Mappin que fechado virou Scot Bar, na Rua 24 de maio.

Liliana. Sempre existiu uma rivalidade entre Rio e São Paulo. O Rio se ligava em afinidade, mais com gaúchos e mineiros. O rádio do Rio não exibia dupla sertaneja, excetuando Lauriano e Paixão, que conseguiram furar o bloqueio. São Paulo era habitat. A Rádio Nacional havia criado uma condição de liderança imbatível, fazendo crer aos radialistas que o coroamento na profissão se daria com aqueles que passassem por lá.

Laércio Pinto. Era assim mesmo que se grafava o nome Antenor Mayrink Veiga, proprietário e diretor que deu nome à emissora.

Priscila. Você acertadamente respondeu à pergunta: velha rixa, prosa cantada. Sotaque não é conveniente quando exacerbado em microfones.

Bruna. Obrigado pela sugestão sobre livro estendida a outros do blog. Estou trabalhando nesta direção, com outro foco. A pesquisa busca provar ordem de surgimento das emissoras no país, onde defendo que a Rádio Clube Hertz, de Franca, é quarta colocada. Funcionou a primeira vez em 8 de novembro de 1925. Em muitas publicações que tenho as informações não batem com a realidade. Pode ser de bom alvitre ampliar o foco.

Tatiana. Já fui tratado aqui pela amiga Nivia e sua bondade de “memorialista”. De direito, não sou, quem sabe? De fato. Você referenda com gentileza – gostei - minha “vitalidade e memória de elefante” para perquirir o que faço: nunca fui de anotar as coisas. Falo muito delas, não abro mão dos meus prazeres que consistem em beber boas bebidas: whisky; vinhos tintos de uvas escolhidas; champanhe. Viajo dirigindo meu próprio carro, - quando não de avião – sem preocupação com a quilometragem. Nutro paixão por mulheres, mesmo sem conotação maldosa.

Liliana. Na curiosidade revelada não só por você com respeito à adoção de nome diferente no exercício profissional, vários fatores criaram a necessidade. Crendice popular, cabalístico, um diretor criando nome mais ao gosto público, quem não gosta do próprio nome. Uma grande cantora considerou feio seu nome Abelim. Meu caso foi diferente e o intento foi homenagear meu avô José Flavio Garcia. Na Espanha as famílias transportam a herança nominal materna. O Brasil tem opção diferente, a continuidade leva o nome paterno. Meu pai e eu, por engano, fomos identificados pela origem materna. Ai está à razão do resgate do avô com a adoção do Garcia Netto.

Osmar Pacheco Goulart. O Sarmento encarnou por muitos anos o verdadeiro sentimentalismo popular do rádio e seu nome à Rádio Bandeirantes.

Adilson Machado. Fiquei feliz ao constatar sua presença, o que me levou a recordar seu início e nossos encontros em São Paulo.

Luciana. Microfones a carvão - o microfone mais antigo e mais simples usava pó de carvão. Esta era a tecnologia usada nos primeiros telefones O pó de carvão apresenta um fino diafragma metálico ou plástico em um lado. Conforme as ondas sonoras atingem o diafragma, elas comprimem o pó de carvão, que muda sua resistência. Seu aparecimento ocorreu no final dos anos 1800. SQBL foi a série de primeiros prefixos de rádio usados no Brasil. Em próximos capítulos, falarei de legislação e ordenação de uso de prefixos.

Na seqüência que farei, com muito gosto, motivado pelo carinho quase unânime, cuidar do interesse dos inúmeros acadêmicos aqui freqüentes será meta, com informações pertinentes a eventuais trabalhos que pretendam desenvolver.

Garcia Netto e Ângela Maria
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*José Reynaldo Nascimento Falleiros
(Garcia Netto), 81, é jornalista, radialista e escritor francano. Autor dos livros Colonialismo Cultural (1975); participação em Vila Franca dos Italianos (2003); Antologia: Os contistas do Jornal Comércio da Franca (2004); Filhos Deste Solo - Medicina & Sacerdócio (2007) e a novíssima coletânea Seleta XXI - Crônicas, Contos e Poesias, a ser lançada hoje. Cafeicultor e pecuarista, hoje aposentado. A Série Relembranças foi editada em cinco capítulos semanais (e mais um extra, com as respostas aos leitores), às quintas-feiras, quando o profissional revisitou, com sua memória privilegiada, flagrantes da vida que fazem parte da história de nosso país.
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