sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O PASSADO, O PRESENTE E O DESCASO

O MUNDO ESTÁ ROBOTIZADO
*
J. MORGADO

Garoento, o dia se anunciava triste. Olhando pela janela, pus-me a pensar... Estas duas últimas semanas foram bem estressantes, apesar de não sair de casa. Problemas com telefônica, com companhia de seguros, banco, etc. Minha memória me conduz a um passado distante; décadas de trinta, quarenta, cinquenta, sessenta... Nessa época a palavra “stress” era praticamente desconhecida. Porque razão? Paro um pouco de escrever e começo a fazer uma análise... Garoto ainda, não existia supermercados. Os empórios ou “vendas” abasteciam o povo da época. O atendimento poderia ser considerado hoje como “VIP”. Fazíamos as compras do mês atendido por um funcionário ou pelo próprio dono do Armazém. Ao final, depois de pagarmos a conta, ainda ganhávamos um presente, geralmente uma lata de goiabada ou de outro doce qualquer, além dos agradecimentos do proprietário. Uma ou duas horas depois, as compras eram entregues em nossa residência.
Hoje, nos supermercados, os funcionários “robotizados” não respondem aos nossos cumprimentos. Quando passamos pelo caixa, com caras de poucos amigos nos servem como se estivessem nos fazendo um favor e ainda interrompem seu trabalho para conversas com colegas de serviço. E não adianta procurar o gerente, porque não vai encontrá-lo, com raras exceções que confirmam a regra. E os bancos? “É um Deus nos acuda”. Tarifas diferenciadas, exorbitantes, funcionários que não sabem suas funções e filas intermináveis. O lucro é divulgado pela imprensa. E ai fica a pergunta: qual a razão de não se colocar mais funcionários? A resposta é: Mais lucros! Se já não bastasse aquele que é amplamente divulgado pela mídia.
Nas décadas acima referidas, numa agência bancária, íamos até o balcão, entregávamos os documentos que deveriam ser pagos e recebíamos uma ficha metálica com um número. Havia acomodações para todo o mundo. Quando chegava a nossa vez nos chamavam e tudo se resolvia com tranquilidade. Isso não levava mais do que dez minutos. Funcionários atenciosos que respondiam com propriedade e educação qualquer dúvida a ele exposta.
Mas foi com o advento do tal “0800” que a coisa ficou ruim. Qualquer auxílio, reclamação, socorro, ou seja, o que for “O bicho pega”. Uma voz robótica atende pedindo dados pessoais. Em seguida diz: disque 1 para isto; disque 2 para aquilo; e vai prosseguindo. Ao final diz: disque 9 (ou outro número qualquer) para repetir o “menu”. Começa o martírio; você conta o que pretende. A pessoa se mostra incompetente e passa o problema para outro e assim por diante... Então, você desiste.
Ainda naquele passado distante, as pessoas o atendiam com deferência e resolviam o problema, pois estavam cônscias de que o cliente era importante e precisavam dele. Hoje é apenas um número ou uma sombra na multidão, nada mais! Se você ameaça ir a Justiça, dão de ombros, como dizendo, pode ir. Sabem que a nossa lenta Justiça trabalha a favor deles, justamente por ser morosa e cara para a maioria da população brasileira.
Pela janela vejo a garoa que continua a cair. Olho para o quadro de Jesus pintado a óleo - uma obra de arte - e lá bem do interior do meu Eu, faço uma súplica desesperada: "Mestre, não permita que eu me transforme num robô".
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
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