terça-feira, 15 de junho de 2010


LEIGO NA BOLA

No quartel, soldado em dia de folga pretende o quê? Serviço. Foi exatamente assim meu caso. Em momento de folga fui localizado no quartel pelo oficial de dia, Nívia Andres, ela de conluio com o general Edward de Souza, me colocaram de plantão durante a Copa a fim de interagir no processo com as feras valorosas escolhidas pelo comando.

Ordens são ordens não me cabendo discuti-las e sim, cumpri-las adequadamente, na qualidade de humilde soldado a serviço da pátria, especialmente neste momento em que tremula nossa bandeira no cimo do mastro, anunciando as esperanças de vitória.

Aos amigos e leitores, devo confessar que no rádio atuando por muitos anos, o departamento que nunca adentrei foi o esportivo.

Não fora minha falta de vocação pelo setor do futebol, o primeiro emprego teria sido na Rádio Pan-americana de São Paulo onde estava um dos grandes narradores do Brasil, Pedro Luiz (E), um profissional destacado, iniciado em Franca, cidade também de minha origem. Ao visitá-lo ainda na Rua São Bento, agradeci o convite para participar de sua equipe, por absoluta inaptidão nas jornadas esportivas, fato que o levou a apresentar-me ao Itá Ferraz, então na diretoria da Radio Cruzeiro do Sul.

A maioria dos amigos do Edward, colaboradores do blog, são oriundos das transmissões esportivas, portanto, dominam as célebres expressões criadas por famosos, através de microfones frente aos gramados, por onde a bola dançava seu balé, tocada pelas pernas tortas de Garrincha, fazendo explodir em alegria os estádios do mundo. “Pimba na gorduchinha”, “Balançooo o véu da noiva”, “Carimba que o golll foi leeegaaal”, “Olho no lance", "Olha lá, olha lá, olha lá”, “ripa na chulipa”, ”fala ôôô Valdir”, “Abrem-se as cortinas do espetáculo”. As expressões aqui lembradas devem na saudade trazer aos leitores outras tantas de narradores famosos. Osmar Santos (D2), Raul Longras, Silvio Luiz, Geraldo José de Almeida, Oduvaldo Cozzi, Jorge Cury, Ary Barroso e sua gaitinha, Fiori Gigliotti (D1), Pedro Luiz, Edson Leite, Valdir Amaral, Doalcei Camargo, alguns da grande constelação.

Advogado, político, ‘speaker’, (termo da época) cognominado “metralhadora do rádio” pela velocidade em que descrevia uma partida de futebol. Nicolau Tuma (E), pioneiro a correr atrás da bola para narrar emoções, o fez pela vez primeira no Brasil, no Campo Floresta, às margens do Tietê, em frente a Ponte Grande no ano de 1931 pela Rádio Educadora Paulista. Seu objetivo foi, com sucesso, transmitir uma partida inteira o que era feito antes em pequenos ‘flashes’.

Iniciou por traduzir muitas das expressões do inglês para português, podendo citar-se, como exemplo, ‘corner’ para escanteio e “goalkeeper” para goleiro. Esse primeiro embate foi travado pelas seleções Paulista e Paranaense, obrigando Tuma a bradar por 10 vezes o gol - 6 para a Paulista e 4 dos Paranaenses -.

Como incipiente, - nem isto - na trajetória do futebol brasileiro, pensei que memorizar fatos iniciais de sua história, acrescentaria aos novos, curiosidade de saber, aos sabedores antigos a oportunidade de contestar botando o trem nos trilhos da verdade. E assim entrarei no tema de forte acontecimento envolvendo o Brasil na Copa de 1938. Essa foi à terceira Copa Mundial e, no aspecto comunicação, a primeira transmitida pelo rádio graças à façanha de um sonhador, o denodo de um profissional construtor da história do rádio: Gagliano Neto (D). Armado com o mais absoluto entusiasmo aferrou-se ao propósito de ir à França, enfrentando os obstáculos presumíveis, tarefa culminada com a formação da rede Byngton, intregrada pelas Rádios Clube do Brasil e Cruzeiro do Sul, do Rio de Janeiro; Cosmos e Cruzeiro do Sul, de São Paulo, além da Rádio Clube de Santos, em colaboração com os jornais O Globo e Jornal dos Sports, sob o patrocínio exclusivo do Cassino da Urca. A polêmica Copa de 1938, com incontáveis desentendimentos, tinha Domingos da Guia, Perácio e Leônidas que foi artilheiro, com 8 gols. Em 1938 o Brasil parou para ouvir Gagliano Neto na Copa. Os alto falantes instalados no Largo Paysandu, Praça Patriarca, SP; Galeria Cruzeiro e Praça Mauá, Rio, reuniam pessoas suprindo a inexistência de rádios receptores na época.

A primeira Copa Mundial de Futebol teve lugar no ano de 1930, no Uruguai, sagrando-se campeão o anfitrião, que deixou de comparecer à Copa de 1934. O Brasil marca, na atualidade, a presença constante em todas as Copas, sendo o único país qualificado para festejar participação em todos os eventos ocorridos.
Li, na véspera da abertura da Copa, em nosso blog, texto do jornalista e amigo Edward de Souza, competente especialista no setor, com passagem por várias emissoras brasileiras, levando as torcidas a forte emoção do principal esporte nacional: o futebol. Se sua prática tem origem no Reino Unido, sua maior expressão e respeito à volta do mundo, pertence ao Brasil, maior exportador de atletas da área com nível de alta qualidade.

Edward fez alguns prognósticos e outros especialistas desfilarão pelo blog durante a Copa, para, certamente, mostrarem um saber que não tenho. Ligo-me ao futebol de quatro em quatro anos, como leigo na bola, mas com o fito e fidelidade ao meu país, para vibrar e torcer. Desejo ocupar-me, a seguir, com permissão dos amigos, em tirar das caixas as bandeiras com as quais ornamentarei uma sacada do apartamento, embalado pelo calor brasileiro. Esperemos a vitória.
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*José Reynaldo Nascimento Falleiros (Garcia Netto), 82, é jornalista, radialista e escritor francano. Autor dos livros Colonialismo Cultural (1975); participação em Vila Franca dos Italianos (2003); Antologia: Os Contistas do Jornal Comércio da Franca (2004); Filhos Deste Solo - Medicina & Sacerdócio (2007) e a novíssima coletânea Seleta XXI - Crônicas, Contos e Poesias, recentemente lançada. Cafeicultor e pecuarista, hoje aposentado. Garcia Netto é amigo e colaborador deste blog.
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RESULTADOS DOS JOGOS DESTA TERÇA-FEIRA (15-06) PELA COPA DO MUNDO NA ÁFRICA DO SUL:
Nova Zelândia 1 x 1 Eslováquia
Portugal 0 x Costa do Marfim 0
Brasil 2 x Coreia do Norte 1
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