quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

BRASILEIRO EMPURRA COM A BARRIGA

Edward de Souza

O brasileiro tem fama de ser um povo pacato. Que não reage fácil nem quando assiste o patrimônio público ser roubado ao vivo e em cores. Grande parte dos estereótipos é injusta. Mas esta imagem que carregamos é difícil de ser contestada. É um traço que, às vezes, demonstra qualidade, outras vezes, defeito: adaptamos-nos muito facilmente a quase tudo. Damos de ombro, nos conformamos: "é a vida”, "Político é assim mesmo”, "a violência está feia”. Problemas sérios viram papos de elevador e voltamos à vida privada, às preocupações mais ‘urgentes’ do dia-a-dia. "Os problemas do país não somos nós quem tem de resolver, são eles”, dizem alguns. Empurramos tudo com a barriga e procuramos bodes expiatórios lá longe. Brasília está distante demais para ser problema nosso. Enquanto isso assistimos na televisão a uma guerra terrível no Oriente Médio. Descendentes de libaneses e judeus sofrem à distância, sem saber até quando seus parentes do outro lado do mundo agüentarão aquela carnificina. E o Brasil vai ficando cada vez mais parecido com o Oriente Médio. A violência atingiu níveis antes impensados aqui na nossa esquina, aqui ao nosso lado. A grande diferença entre o que está acontecendo no Estado de São Paulo e a guerra entre libaneses e judeus é que lá o que motiva os ‘soldados’ é uma crença cega, o pensamento religioso ortodoxo.
Aqui, acontece exatamente o contrário. De tanta descrença nos costumes e vícios do país, ocorreu uma inversão completa de valores e o que se vê hoje é o cidadão comum se escondendo de um inimigo que ele não sabe quem é, mas tem certeza de que está próximo.