sábado, 21 de agosto de 2010

SEXTA-FEIRA, 20 DE AGOSTO DE 2010

MITOS E CRENDICES


J. MORGADO



As estradas com destino à Baixada Santista sempre tiveram um trânsito intenso algumas horas antes do término de cada ano. Milhares de veículos com seus ocupantes sofrendo um calor de mais de 37 graus. Na verdade, juntam-se aos numerosos turistas que, aproveitando a temporada de férias e os feriados consecutivos, já ali se encontram.

As ruas de acesso às praias ficam tomadas por veículos procedentes de várias partes do país.

Alguns milhares de pessoas passam a noite de 31 de dezembro para 1º de janeiro, dormindo nos carros sem nenhum conforto, suportando calor de mais de 30 graus. Sem sanitários, pouca comida, etc. aguentam com estoicismo a passagem do ano. E, logo em seguida, começam o retorno aos seus locais de origem.

As roupas formam um colorido interessante; branco, vermelho, amarelo, verde, etc. Cada uma com seu significado místico. Nas mãos, garrafas de espumante, cachaça, vinho...

A finalidade de tudo isso é pular a tal de sete ondinhas, fazer oferendas e pedir aos deuses saúde, paz e dinheiro (deveriam pedir paciência para enfrentar as dificuldades da volta). Não sei bem se e é essa a ordem dos pedidos. Provavelmente dependerá do estágio evolutivo de cada um.

Não vai aqui nenhuma crítica ou censura a quem quer que seja mesmo porque, este é um costume, com algumas variações, dependendo das tradições de cada povo, em qualquer parte do planeta.

As sete ondinhas têm origem, segundo alguns, na Itália e segundo outros, de povos afros.

Esse rito se completa quando se usa roupas brancas, inclusive a calcinha ou a cueca.

A terapeuta holística Rúbia Galante (veja na Internet) diz que a lista de simpatias que se aplica nessa época do ano é muito grande e remonta a centenas e até milhares de anos.

Além das ondas, é comum passar o ano com uma nota de dinheiro no bolso, comer sete bagos de uvas ou o seu número de sorte. As lentilhas, as flores e um sem número de outras coisas são utilizados para atenderem as simbologias supersticiosas enraizadas na população, herdadas de seus antepassados, que nem mesmo sabem sua procedência.

A terapeuta completa: “As pessoas gostam de rituais. A simbologia das simpatias serve para intensificar o que você sente, mas as pessoas têm de entender que as soluções para seus problemas estão na força de seu pensamento”. Para ela (terapeuta), as superstições atrapalham a evolução.

Realmente, EVOLUÇÃO é a “palavra mágica”! Em pleno século XXI, a contar do nascimento de Jesus que nos deixou a frase “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao Próximo como a ti mesmo” que resume todo o ensinamento por ele transmitido que se encontra no Novo Testamento. A partir de 1857, com a introdução do Livro dos Espíritos, seguido de o Livro dos Médiuns e, em 1864, o Evangelho Segundo o Espiritismo, onde os preceitos cristãos são explicados sem as deturpações que os homens nele introduziram, durante séculos (ritos, mitos e crendices).

Nós, espíritas, devemos estar convictos de que não existem milagres e QUE DEUS NÃO REVOGA SUAS PRÓPRIAS LEIS, muito menos que somos regidos pela sorte. Se tal acontecesse, seríamos como marionetes nas mãos de um “destino brincalhão” que nos manusearia ao seu bel-prazer, divertindo os milhares de deuses criados pela imaginação de sabichões (sacerdotes ou sacerdotisas) para dominar pelo medo os povos de que faziam parte. Com isso, adquiriam poder e riquezas, governando, como iminências pardas, países inteiros. Como exemplo, basta nos reportarmos ao Velho Testamento, na passagem do afastamento de Moises para receber os Dez Mandamentos. O povo, liderado por um indivíduo astuto, resolveu criar o bezerro de ouro e adorá-lo como um deus. Isso faria com que eles se liberassem para a luxúria e outros prazeres que a Porta Larga oferece.

Acredito que seria muito mais fácil e confortável que, em vez de enfrentar inúmeros obstáculos, entre eles, acidentes com mortes a lamentar, a fim de pular as tais de sete ondinhas, as famílias devessem se reunir em torno do Evangelho e buscar as palavras de consolo e respostas para suas aflições.

No Capítulo XXI, item 10, do Evangelho Segundo o Espiritismo, há um trecho que diz “Repeli impiedosamente todos esses Espíritos que se apresentam como conselheiros exclusivos, pregando a divisão e o isolamento. Eles são quase sempre, Espíritos vaidosos e medíocres que tendem a se imporem aos homens fracos e crédulos, prodigalizando-lhes louvores exagerados, a fim de fascinar e tê-los sob a sua dominação. São geralmente Espíritos ávidos de poder que, déspotas públicos ou privados durante a sua vida, querem ainda vítimas para tiranizar após a sua morte. Em geral, desconfiai de comunicações que trazem um caráter de misticismo e de estranheza, ou que prescrevem cerimônias e atos bizarros; então há sempre um motivo legítimo de suspeição” (a mensagem é assinada por Erasto, discípulo de São Paulo, 1862) - Edição IDE- outubro/1984.

Nota-se, então, que o homem sempre foi influenciado por espíritos inferiores para criar as crendices, mitos e ritos a fim de satisfazerem desejos impuros, indo de encontro ao estado evolutivo em que se encontravam. Na sua ignorância ingênua, o ser humano não consegue perceber que é manuseado constantemente para praticar atos bizarros, inconsequentes, criminosos, etc...
A vinda de Jesus nos ensinando o Evangelho e a Codificação, colocando em seus devidos lugares o que foi deturpado por sugestão de “espíritos doentes”, trouxe a LUZ DA VERDADE, que os homens insistem em ignorar.

“Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade” (Allan Kardec).

Naturalmente, as superstições só terminarão quando o último sugestionado atirar no lixo o seu pé-de-coelho.
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*J. MORGADO é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista: jgarcelan@uol.com.br
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