sábado, 13 de março de 2010


AS MÚLTIPLAS FUNÇÕES

DO PALITO


Estava absorvido com o que estava escrevendo no computador quando escutei a voz de minha esposa dizendo que precisava de palitos. Palitos? Argui-me! Em seguida, no mesmo tom de voz perguntei: “- O que você vai fazer com os palitos?”. “- Estou fazendo bracholas...” Não precisou completar a frase, adivinhei para o que seriam os danados dos palitos. Uma comida de origem italiana. Bife enrolado com legumes, coisa mais ou menos assim. Gostoso.

Interrompi meu trabalho, vesti minhas sandálias, coloquei alguns trocados no bolso e lá fui eu. A padaria fica a duas quadras de casa. Tempo suficiente para que minha imaginação viajasse no tempo e no espaço.

Quantos palitos se fazem com uma árvore derrubada? Um pinus ou eucalipto... São plantas renováveis, daí...Já tive um palito permanente feito de marfim. Não sei onde foi parar. O trágico é que foi preciso matar o elefante. Barbaridade!

Já vi palitos de osso, de ouro e de outros metais em minhas andanças pelo mundo. Esses são laváveis e desinfetáveis. É só usá-los e guardá-los no bolso ou na carteira.

Dependendo do local onde se está (meio social), o uso desse milenar “quebra galho” pode ser nojento, dependendo da posição social do indivíduo ou ser simplesmente um ato comum.

Esgaravatar os dentes depois de uma refeição, cobrindo a boca com a mão e mesmo não cobrindo, não é coisa agradável de ver.

O palito tem múltiplas funções. Serve para limpar as unhas. Para coçar ouvidos. Enrolar um algodão em suas pontas e aplicar remédios em feridas e ainda, limpar os dentes depois! Não estou inventando não. Viagem pelo nosso imenso país e vejam vocês mesmos.

Mas com o danado do palito se podem fazer belos trabalhos artesanais para quem tem talento e imaginação.

O sexo frágil e os não tão frágeis também usam o palito para tirar o esmalte das unhas e limpar o excesso.

O palito é um objeto de “mil e uma utilidades” como diz aquela propaganda da esponja de aço.

Afinal, há o verbo ”palitar”: Eu palito, tu palitas, ele palita, nós palitamos, vós palitais, eles palitam. Isso no presente indicativo. Há os outros tempos. Nos bons tempos, daria até uma boa marchinha de carnaval. Nos dias de hoje, músicas de duplo sentido fariam sucesso efêmero nas rádios e na televisão.

E quando não houver um palito à mão? Se o sujeito tiver uma caixa de fósforos no bolso, dará um jeito. Basta desbastar a ponta e pronto! Terá um esgaravatador excelente.

Eu não uso palitos para limpar os dentes. Sou prático. Vou ao sanitário, arranco-os e deixo-os alguns segundo debaixo do forte jato de água. Depois é só colocá-los de volta fresquinhos. “Nada como um sabor refrescante” de água limpa!

E falando em caixa de fósforos, lembro-me de um sambista do passado. Trata-se de Ciro Monteiro e sua indefectível caixinha. Enquanto cantava, marcava o compasso do samba, transformando a caixa de palitos em pandeiro.

Cheguei da padaria e não disse o que tinha a ver os palitos com as bracholas. Afinal, foi para isso que fui comprar palitos.

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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista pelo e-mail jgarcelan@uol.com.br
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