As eleições do passado empolgavam o Brasil de ponta a ponta, com
paixões e discussões acaloradas entre os eleitores. Quando se aproximava o dia de votar, só se ouvia esse assunto em toda parte, em cada botequim, em cada esquina. O rádio tinha alcance regional limitado, e as poucas emissoras de TV só alcance local, municipal. A grande arma das campanhas eram os comícios. Os candidatos faziam uma maratona percorrendo o país de ponta a ponta, um comício em cada cidade, repetindo sempre o mesmo discurso, claro. Haja voz. Quando chegavam lá no nosso interior gaúcho já era um sacrifício falar, todos com voz rouca, que lhes conferia um tom dramático. Deixavam a barba por fazer, usavam paletós surrados, para passar uma imagem de heróis despojados, em luta e sacrifício pela salvação do mundo.
paixões e discussões acaloradas entre os eleitores. Quando se aproximava o dia de votar, só se ouvia esse assunto em toda parte, em cada botequim, em cada esquina. O rádio tinha alcance regional limitado, e as poucas emissoras de TV só alcance local, municipal. A grande arma das campanhas eram os comícios. Os candidatos faziam uma maratona percorrendo o país de ponta a ponta, um comício em cada cidade, repetindo sempre o mesmo discurso, claro. Haja voz. Quando chegavam lá no nosso interior gaúcho já era um sacrifício falar, todos com voz rouca, que lhes conferia um tom dramático. Deixavam a barba por fazer, usavam paletós surrados, para passar uma imagem de heróis despojados, em luta e sacrifício pela salvação do mundo. .
Hoje, a TV, numa pincelada de dois minutos, faz o trabalho que naquele tempo, década de 1960, consumia no mínimo seis meses de jornada cansativa dos candidatos, sem direito a domingos. Era puxado. Mas, por outro lado, o país inteiro conhecia todos eles ao vivo, nas praças, ou, em caso de chuva, em algum cinema local ou ginásio fechado, alugado às pressas. Com 13 ou 14 anos, não mais do que isso, eu já comparecia em todos os comícios do PTB, passava a mão numa bandeira, me infiltrava no palanque, e na maior cara de pau ia ficar lá na frente, ao lado do candidato. Essa presença infantil não só era tolerada como virava um prato cheio para os candidatos. No dia seguinte eu estava na foto do jornal local, na primeira página, junto com o homem.
.Quando Leonel Brizola, ainda muito jovem, concorreu ao governo gaúcho,
em sua primeira grande eleição majoritária, se não me engano em 1959, passei o comício todo ao lado dele, num entusiasmo que certamente ajudava a empolgar a multidão ali na frente. Tudo indicava que eu seria político. Até minha família comentava isso. Mas o jornalismo falou mais alto, foi e continua sendo minha grande paixão.
.O dia da decisão está chegando. Por favor, me poupem agora de qualquer
polêmica. Com toda sinceridade, não terei mais fôlego, isso é exaustivo. Só estou vindo aqui para cumprimentar o Edward de Souza e a todos vocês por essa oportunidade ímpar do exercício democrático e para fazer um último apelo: votem conscientes, com profundo senso de responsabilidade.
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*Milton Saldanha - Jornalista, escritor, eleitor há 47 anos.
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