quarta-feira, 3 de junho de 2009

BASTIDORES DA HISTÓRIA
WANDERLEY DOS SANTOS
Ademir Medici
***
SEGUNDO CAPÍTULO- A CHEGADA AO ABC PAULISTA
*
O trabalho de Wanderley dos Santos sobre a construção da memória histórica chega ao Grande ABC via municípios de Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Com o apoio das Prefeituras de Mauá e Ribeirão Pires, Wanderley edita monografias em 1974 sobre a história das duas cidades. Em 1975 entrega à Prefeitura de Diadema uma monografia semelhante, mas esta somente seria editada após a sua morte. Em 1976 escreve a história de Rio Grande da Serra, que permanece inédita.
Wanderley dos Santos recupera uma discussão que chegou a ser calorosa na primeira metade do século 20 e no início da segunda metade do mesmo século: a localização da Vila de Santo André da Borda do Campo e a fundação do bairro de São Bernardo.
A Vila de Santo André da Borda do Campo está presente em todos os livros didáticos sobre a história e geografia brasileiras. É a história de uma vila entre a Serra do Mar e Piratininga, num espaço hoje conhecido por Grande ABC, e onde estão cidades importantes, conhecidas no Brasil e no exterior pelos grandes movimentos sociais dos metalúrgicos da virada dos anos 1970 para 1980.
Os livros didáticos falam desta vila e citam suas figuras mais relevantes: João Ramalho, Cacique Tibiriçá e Bartira, filha do cacique e mulher do português Ramalho. Uma data, particularmente, é sempre citada: o 8 de abril de 1553, dia em que a Vila de Santo André da Borda do Campo foi oficializada.
O enigma – que deixou com cabelos brancos ou sem eles historiadores importantes, entre os quais Frei Gaspar, Taunay, Azevedo Marques, Teodoro Sampaio, Gentil de Assis Moura e Luiz de Toledo Piza – era saber exatamente onde esta vila se localizava. Sua vida foi tão efêmera – extinguiu-se em 1560 – que nenhum traço concreto restou do ponto onde existiu uma capela, um rocio e também onde foi erguido um pelourinho.
Wanderley mexeu nesse verdadeiro vespeiro, corajosamente. Estabeleceu uma tese – a vila de Ramalho ficaria às margens do Córrego Guarará, no atual Município de Santo André – mas, principalmente, levantou um tema que se imaginava superado e esquecido.
Seu trabalho parte dos estudos já então realizados. Um verdadeiro rol de todos os trabalhos e seus autores é reunido por Wanderley que depois, à luz de uma documentação nova ou pouco estudada, costura uma teia que oferece informações novas hoje reunidas na sua obra maior: “Antecedentes Históricos do ABC Paulista: 1550-1892”, lançado na noite de 17 de novembro de 1992, em São Bernardo, como um clássico da historiografia local bancado pela municipalidade são-bernardense.
Tivemos o privilégio de editar esse livro de Wanderley dos Santos, e pudemos reunir num só trabalho três nomes importantes da História local: Wanderley, Esther Mazzini Le Var e Mario Ishimoto.
Dona Esther, a nosso pedido e com a autorização do Wanderley, idealizou telas a óleo belíssimas com imagens de igrejas históricas e outras paisagens, todas coloridas, que ilustram o livro; Mário cuidou da parte fotográfica.
Na última página do livro, Wanderley dos Santos escreve sua biografia, cujo original, à caneta, guardamos até hoje. No último parágrafo, os planos imediatos do nosso focalizado, semiprontos: Dicionário Histórico e Geográfico de São Paulo, Histórias dos Bairros de Tatuapé e de Vila Carrão; e História dos Municípios de Franca, Peruíbe, Rifaina e Tapiratiba.

LINHA DO TEMPO

1980 – Wanderley dos Santos é premiado pela Prefeitura de São Paulo pela monografia, transformada em livro, sobre a história do Bairro da Lapa.
______
1981 – Eleito sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e do Instituto Genealógico Brasileiro.
______
1983 – Eleito membro do Instituto Histórico e Genealógico de Santa Catarina.
- Participa do projeto paulistano do Museu de Rua do Tatuapé.
- Participa da Comissão Pró-Tombamento de Monumentos Históricos de São Bernardo do Campo.
______
1985 – Participa do projeto paulistano do Museu de Rua da Lapa.
- Representa a Arquidiocesana de São Paulo no conselho Municipal do Patrimônio Histórico de São Bernardo do Campo.
______
1987 – Eleito membro do Instituto Histórico e Genealógico de Minas Gerais.
______
1989 – Eleito membro do Colégio Brasileiro de Genealogia, no Rio de Janeiro.
____________________________________________________________
*Ademir Medici é jornalista e escritor, formado pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Trabalha na imprensa do Grande ABC desde 1968 e especializou-se na área de resgate e reconstituição da memória. Membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Possui um acervo de 32 livros escritos, sendo 24 publicados e oito inéditos. Ademir também ganhou, em 1976, o Prêmio Esso de Jornalismo, em parceria com o jornalista Édison Motta, pela série “Grande ABC: A metamorfose da industrialização”. Atua no jornal Diário do Grande ABC desde 1972. Foi repórter especial, editor de Cidades e Política e secretário de Redação. Atualmente é responsável pela coluna Memória, uma das mais lidas do jornal e do quadro "MEMÓRIA", no programa "ABCD Maior em Revista".
______________________________________________________________________
NESTA QUINTA-FEIRA- ÚLTIMO CAPÍTULO DA SÉRIE - A chegada à Franca; a sistematização da documentação histórica local; as primeiras exposições; nasce um novo arquivo histórico.
_____________________________________________________________