quinta-feira, 2 de julho de 2009

CASA MAL-ASSOMBRADA
DESPEJA PEDRAS CONTRA O POVO
EDWARD DE SOUZA
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Penúltimo capítulo
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Exclusivo
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Depois da confusão estabelecida nas proximidades da “casa mal-assombrada”, como era conhecida pela população de Pirituba a residência onde ocorriam fenômenos, como chuvas de pedras, movimentação, quebra, pirogenia, sons, luzes, sem nenhuma explicação "normal", já estávamos com boas fotos feitas pelo Tarcísio Leite. Nosso tempo era curto. Na redação do Notícias Populares, Lázaro Campos, editor de Polícia, e Ebrahim Ramadan, diretor do jornal, nos aguardavam impacientes para fechar a edição do dia. Seria a grande manchete da capa, imaginei. Tarcisio e “Paletó” não ousavam me encarar, depois do fiasco que aprontaram. Jamais poderiam imaginar que o plano daria em nada e que terminaria com a queda cômica do motorista barranco abaixo logo depois de tentar me assustar. Os fenômenos que ocorreram naquele final de tarde na misteriosa casa se incumbiram de “melar” a trama e desmascarar os dois “amigos ursos".
Socorrido por uma moradora do bairro, “Paletó” exibia um exagerado curativo na testa. Estava em pé, ao lado do carro do jornal, nos aguardando. Chamei Tarcísio para o lado e ordenei: “quero uma foto do “Paletó”, bem caprichada”. Percebendo que o fotógrafo não estava levando a sério a ordem, não tive dúvida, e arrematei: “se a foto não estiver em minha mesa antes do fechamento da edição, vou denunciá-los à chefia, contando o que aprontaram”. Em segundos flashes foram disparados na direção de “Paletó”, que sorriu sem graça, julgando ser uma brincadeira. Na curta viagem de volta para a redação pouco se conversou. Não havia clima. Experiente ao volante, “Paletó” fugiu dos congestionamentos, pisou no acelerador e chegamos a tempo. O prazo para escrever 40 linhas sobre "a casa-mal assombrada" de Pirituba era de 15 minutos, não mais que isso. As fotos deveriam estar reveladas e entregues assim que o texto estivesse pronto, tarefa não muito dificil para o competente laboratório fotográfico da Folha. Lembrei ao Tarcísio que eu queria todas as fotos, inclusive as que havia feito de “Paletó”. Entreguei a matéria antes do prazo. Lázaro, aflito, olhando para o relógio, acabava de receber as fotos e as atirou em minha mesa, para que eu fizesse as legendas. Precisava de uma para a primeira página. Essa eu escolhi com carinho, fiz a legenda e entreguei ao Lázaro. Sorrindo, o Editor de Polícia do NP ergueu o polegar e fez o sinal de positivo. No dia seguinte, sábado pela manhã, teríamos que voltar e entrevistar os moradores daquela estranha casa de Pirituba para a edição de domingo. Assim ficou estabelecido pela chefia do jornal.
Antes das 22 horas daquela sexta-feira o NP começava a ser distribuído, inicialmente nas principais bancas do centro de São Paulo, depois seguiria para outras partes do Estado e do Brasil. Trazia, em letras vermelhas e garrafais, o seguinte título: “Casa mal-assombrada de Pirituba despeja pedras contra o povo”. Ilustrando o título a foto do “Paletó” com um enorme esparadrapo na testa e a legenda: “Motorista do jornal atingido por uma pedra do além”. Missão cumprida. Coloquei o jornal debaixo dos braços e fui pra casa dormir o sono dos justos.
Duas notícias recebi assim que cheguei no sábado pela manhã na redação do jornal. A primeira era que a edição havia “estourado” em vendas nas bancas e não havia sequer um exemplar sobrando. A outra avisava que nosso motorista naquele sábado seria outro, “Paletó” não tinha aparecido para o trabalho. E com razão, imaginei. Como poderia sair às ruas com a foto estampada na primeira página do jornal de maior vendagem em bancas na época? No estacionamento da Folha de São Paulo, vários motoristas, empunhando a edição daquele dia, estavam esperando a chegada de “Paletó” para lhe tirar um “sarro”. Velhaco, pensou nessa hipótese e deve ter refletido que melhor seria esperar as pedras se assentarem para depois encarar o batente.
Tarcísio, comparsa de “Paletó” no episódio em que tentaram me assustar, atirando pedras do barranco atrás da casa, estava sem graça. Foi praticamente obrigado a fotografar seu sócio em sacanagens e entregá-lo de bandeja para as hienas de plantão. Estava claro. Eu havia conseguido dar o troco aos dois “amigos da onça”.
Naquele sábado pela manhã o dia amanheceu lindo, diferente do dia anterior, sexta-feira carrancuda, com tarde chuvosa, mesclada com raios e trovoadas. Melhor assim, pensei. Entrar naquela casa com os raios de sol marcando presença seria mais animador, menos aterrorizante. Eu e Tarcísio descartamos o fusquinha azul do NP. Melhor seria seguirmos com um carro da Folha de São Paulo, não iria chamar tanto a atenção. Pouco depois das 9 horas da manhã descemos em frente a “casa mal-assombrada”. Apenas uma vizinha estava por perto e nos ajudou a conseguir uma entrevista com os moradores da casa. Essa senhora conversou com o casal à distância, nitidamente mostrando receio de se aproximar da porta de entrada. Alguns minutos se passaram e nossa expectativa era enorme. Repentinamente as portas da casa se abriram e uma jovem senhora acenou para que nos aproximássemos. Voltei-me para agradecer a ajuda dessa moradora, bem a tempo de surpreendê-la fazendo o sinal da cruz. Foi o suficiente para arrefecer meu ânimo. Senti um frio na barriga e comecei a suar frio. Mas, não podia recuar. Suspirando fundo, empurrei Tarcísio e o obriguei a servir de escudo. Enfim, estávamos no interior da “casa mal-assombrada”...
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*Edward de Souza nasceu em Franca, é Jornalista e radialista. Trabalhou nos jornais, Correio Metropolitano, Diário do Grande ABC e O Repórter, da Região do ABC Paulista. Em São Paulo, na Folha da Tarde, Jornal da Tarde, Gazeta Esportiva, sucursal de “O Globo”, Diário Popular e Notícias Populares, entre outros. Atuou na Rádio Difusora de Franca, Difusora de Catanduva, Brasiliense de Ribeirão Preto, Rádio Emissora ABC e Clube de Santo André; também nas rádios Excelsior, Jovem Pan, Record, Globo – CBN e TV Globo de São Paulo. Medalha João Ramalho, principal comenda do município de São Bernardo do Campo, outorgada pela Câmara Municipal daquela cidade pelos relevantes serviços jornalísticos prestados à região. Troféu Pmzito, entregue pelo alto comando da Polícia Militar de Santo André por ter se destacado como o melhor repórter policial do ABC nos anos 70. Prêmio Sanyo de Rádio nos anos 80, como o melhor narrador esportivo do ABC Paulista. Menção Honrosa entregue em 2007 pela Câmara Municipal de Franca e outra pelo Rotary Clube Norte pela atuação brilhante na radiofonia da cidade. Participou da antologia O Conto Brasileiro Hoje, 7°, 8º, 9º e 10º edições, com os contos “Um Visitante Especial”, “Sonhos Dourados” “A Lua de Mel” e “O Sacristão”, além de diversas outras antologias de contos e ensaios. Assina atualmente uma coluna no Jornal Comércio da Franca, um dos mais tradicionais do interior de São Paulo.
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Acompanhe nesta sexta-feira o capítulo final desse relato exclusivo sobre os fenômenos de efeito físico ocorridos na “casa mal assombrada” de Pirituba. Moradores conviviam com batidas, ruídos, pancadas, rumor de passos, barulho de queda de objetos, etc. Segundo eles, parecia brincadeira de espírito que procurava se divertir ou aterrorizar. Bom ressaltar que esse caso, acompanhado pelo Jornal Notícias Populares e outros órgãos de imprensa da metade da década de 70 é fenômeno compreendido e estudado com zelo pela Parapsicologia e pelo Espiritismo.
Exclusivo para o blog.
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