terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

REFLEXÕES
.
DE UM REGENTE OUTONAL

Solicitado a escrever sobre o fascinante e, ao mesmo tempo, árduo ofício de educador que tem a missão de informar e formar pequeninos cidadãos, preparando-os para a vida, inicio minhas reflexões a partir das competências que me levaram ao Magistério.

Comecei minha vida profissional como escriturário, em 1971. Em 1976 ingressei no funcionalismo público estadual, exercendo funções administrativas até o início de 1992, quando ingressei no Quadro do Magistério Estadual, ocupando do cargo de Professor I.

Na verdade, meu ingresso no Magistério não foi premeditado, porque no ano de 1990, o Governo de São Paulo promoveu um Concurso Público para o provimento de cargos vagos de Professor I. Prestei esse concurso, inicialmente, não com o intuito de tornar-me um regente, mas sim para verificar meus conhecimentos pedagógicos, ainda palpitantes, porque terminara a graduação de Pedagogia, na Faculdade Don Domênico, em Guarujá. Fiz este curso com vistas a atuar na área de Recursos Humanos, no IPESP, onde então ocupava o cargo de chefe de seção dos Recursos Humanos.

Fiquei surpreso com minha aprovação, tendo em vista a grande concorrência e minha falta de experiência docente. Isto posto, ingressei no Quadro do Magistério no ano de 1992 (em Guarujá, mais precisamente na Praia do Perequê...) muito apreensivo com minha inexperiência na área, além de já contar com quase 39 anos de idade. Mas minha inquietação se dissipou um pouco depois de ser investido no rol de atribuições atinentes à função de regente!... É evidente que o primeiro ano não foi fácil, além do fato da minha regência estar única e exclusivamente alicerçada nos livros didáticos.

No ano de 1993 fui efetivado no cargo de regente, na cidade de Diadema (Por Dionísio, já perdi a conta dos anos que subi e desci a serra diariamente, por conta dos meus ofícios!!!...). Nesta fase comecei a fazer cursos ministrados pela Diretoria de Ensino de Diadema e não parei mais!!!...

Em 2004 obtive o título de Mestre em Educação, pela Universidade São Marcos. Este título tornou-me hábil a lecionar no Ensino Superior, mas por opção, continuo atuando nas séries iniciais do Ensino Fundamental, porque é um deleite inefável mediar e facilitar o adentramento dos pequeninos no fascinante e interminável mundo do conhecimento!

Até o ano findo lecionei para turmas de faixa etária entre 9 e 10 anos. No ano em curso terei uma turma de 8 anos. Novos desafios me aguardam!!!... É inefável a sensação que dá quando percebo aqueles olhinhos primaveris brilharem quando vibram ao descobrirem algo que não sabiam ou então quando dizem: - Ah!!!!... Agora entendi!!!!...

Minha regência é alicerçada num foco interdisciplinar, isto é, abordo os conteúdos curriculares de várias disciplinas. Por exemplo, semanalmente tenho a rotina de trabalho com jornal (Alício Capel, proprietário do periódico “Diário Regional”, gentilmente reserva exemplares de uma edição recolhida das bancas suficientes para que cada aluno tenha o seu exemplar). Após o manuseio do jornal, escolho uma notícia, fotografia, charge, anúncio... e as exploro de modo a trabalhar os conteúdos das disciplinas. São muitas as possibilidades no trabalho interdisciplinar, porque não preciso necessariamente utilizar um livro didático para criar situações-problema a partir de um fato do cotidiano ou então enfatizar zona rural ou urbana, através de um texto ou fotografia que trata dos problemas de enchente. O grande desafio nesta abordagem interdisciplinar é que nem sempre é possível planejar previamente todos os conteúdos que poderão surgir do trabalho com o jornal.

Também tenho como premissa na minha regência tornar meus pupilos leitores vorazes, a exemplo do personagem do inesquecível conto “A paixão de Bastian”, em que o personagem, Bastian Baltazar Bux, um leitor apaixonado, finalmente encontra a história perfeita, com a qual havia sonhado muitas vezes: - aquela que nunca acaba, que não tem fim!:

No início de cada ano letivo, a princípio, os pais e os pequeninos estranham, primeiramente, o fato “insólito” de um professor lecionar para crianças e, depois, com minha metodologia de ensino, que utiliza somente um caderno para o apontamento das atividades desenvolvidas, deixando em segundo plano os livros didáticos, mas com o passar das semanas, os pais já notam que seus filhos estão mais “especulas” e querendo saber até quem eram os tataravós dos seus tataravós, bem como não pegam mais produtos das prateleiras dos supermercados sem verificar as datas de validade, além de gostarem mais de ler e ficarem deixando os pais atarantados para levá-los em museus, teatro e cinema!!!...

Quando este auspicioso fato ocorre, me dou conta que as sementes que lancei encontraram terreno fértil!

Claro que nem tudo é um “mar de rosas”, porque lido com uma clientela onde uma parcela significativa é oriunda de lares onde as competências leitora e escritora não fazem parte do cotidiano familiar, além de trabalhar numa estrutura de ensino que não oferece condições de colocar em prática o conceito de “cidade educadora” porque, neste viés, os espaços públicos tornam-se uma grande escola; entretanto, não esmoreço, pois de nada adiantarão também minhas lamentações sobre os parcos proventos recebidos ou então como é extenuante trabalhar os três períodos...

O que interessa dizer, ainda, se preciso for, é que aprecio o que faço. Ensino com amor!!!
...........................................................................................................................................
*João Paulo de Oliveira pertence a uma das mais antigas famílias do Grande ABC, com raízes na Freguesia de São Bernardo. Andreense de nascimento, é professor e leciona na Escola Municipal Anita Catarina Malfatti, em Diadema, na Região do ABC Paulista. Ocupa também o cargo de Coordenador Pedagógico na EMEF Dr. Habib Carlos Kyrillos, na Prefeitura de São Paulo. Tem 56 anos, além de Pedagogo é Mestre em Educação. Especializa-se no estudo da árvore genealógica familiar. Nas horas de lazer, quando sua mansão no litoral não é invadida por ladrões, busca refúgio nas belas praias do Guarujá. Amigo e colaborador deste blog, João Paulo escreve, mais uma vez, um artigo neste espaço.
............................................................................................................................................