quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

TERÇA-FEIRA, 08 DE FEVEREIRO DE 2011


Este blog, nestes mais de dois anos de atividades, nunca ficou quatro dias sem atualização, como aconteceu agora. Nada que justificasse esta paralisação a não ser a curiosidade. Estaria este espaço sendo frequentado por seres irreais? Como responsável pelo blog procurei ficar distante, pelo menos nestes últimos três dias, para esperar a resposta, curioso com a afirmação feita por um blogueiro que, nas horas vagas, ocupa um cargo de educador numa escola da Região do ABC Paulista. Este cidadão, com pouco mais de um metro de altura, cabeça enorme, olhos estatelados e a semelhança com um sapo boi, lembra, em muito, seres extraterrestres. Comprovado ficou que tem ele fértil imaginação. Continuamos a receber muitas visitas e seguidores, mesmo sem um assunto novo e, clicando nas fotos, percebemos que são seres reais, possuem blogs e se comunicam.

São cinco horas da manhã desta terça-feira. Abro minha janela e vejo, entre as inúmeras árvores seculares que cercam minha casa, o céu azul, pontilhado de estrelas. Fascinado pela beleza do espetáculo que já estou acostumado a ver, mas não me canso de admirar, um risco repentinamente cortou o céu e transportou-me para os anos 60, quando uma febre coletiva tomou conta da população. O assunto naquela época, em todas as rodinhas que se formavam era a aparição de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs), popularmente chamados de discos voadores. Deixo claro, antes que alguém possa imaginar que estou vendo ufos de madrugada, que o brilho que se arrastou pelo céu e que eu avistei, com certeza foi causado por uma estrela cadente, comum aqui no interior, principalmente à noite. Nunca vi nada que pudesse ter a semelhança de um disco voador, bem que gostaria de ter esta experiência, mas sinto-me recompensado em não ter sido contemplado com a visão de um elefante voando, coisa que já aconteceu com muitos amigos que exageraram na dose.

Os adeptos do homem como única forma de vida inteligente neste cosmos afirmam que se houvesse outro tipo de vida já teriam entrado em contato conosco. É precipitado. Podem existir vidas em estágios de desenvolvimento inferior que não tenham ainda as condições de viajar pelo espaço ou podem existir vidas em etapas tão avançadas que absolutamente não se interessem por esses bípedes peludos que ainda usam a força da explosão para chegarem a seu único satélite.

Há adeptos da teoria de que já fomos visitados diversas vezes e que continuamos a ser observados. Vejo com certa desconfiança essa tese, pois acredito que qualquer espécie com inteligência suficiente para chegar ao planeta Terra teria igualmente a inteligência de procurar um contato, trocar informações ou quem sabe estabelecer pontes. Isso é um ato natural de quem desbrava ou de quem procura novos horizontes. Se eles vieram pacificamente não havia por que se esconderem e se vieram com intenções conquistadoras, já teriam nos aniquilados.

Voltando aos anos 60 e a onda dos discos voadores, relato um fato verídico e muito engraçado ocorrido em Franca, cujo personagem principal foi meu avô, Joaquim Follis, um italiano alegre, falante, olhos verdes e... Medroso. Extremamente medroso, tanto que em sua vida, levado pela imaginação fértil, tal qual a figura do ET de Diadema, via seres irreais por todos os cantos. Eu me encantava com suas histórias compridas e exageradas. Uma que sempre narrou foi seu encontro, numa pescaria, com o “Saci-Pererê”. O “negrinho” de uma perna só e cachimbo numa das mãos estava sobre um tronco de árvore que boiava no rio. Deu o que fazer para meu avô livrar-se dele. Mas, essa é uma das suas muitas histórias que conto em outro texto.

Certo dia pela manhã, como eu sempre fazia quando criança, fui ao empório do meu “tio Carlinhos” – Carlos Maranha – já falecido. Era irmão de minha avó Anita e cunhado do meu avô Joaquim Follis. Os dois conversavam sobre discos voadores. Sentei-me sobre um saco com milhos, saboreando um gostoso “pé de moleque”, aqueles com amendoins inteiros que não se encontra mais hoje em dia, e fiquei ouvindo o papo entre os dois. “A hipótese de haver vida em outros planetas provoca um verdadeiro fascínio em algumas pessoas, que acabam espalhando mitos e informações inventadas.

”Tio Carlinhos”, também italiano e brincalhão era um destes, sabia da fama de medroso do meu avô e aproveitou-se disso para assustá-lo, narrando algumas aparições de discos-voadores e ETs que havia visto (sic) em sua vida. Meu avô, era fácil de perceber, estava apavorado com os casos do “tio Carlinhos”, que no final da conversa sentenciou: “soube que esta noite está previsto a vinda de discos-voadores em Franca, bom não sair de casa a noite de jeito nenhum, nunca se sabe o que eles podem fazer com a gente”. Vovô saiu assustado do empório, sem imaginar que o cunhado estava lhe preparando uma peça. O “tio Carlinhos” riu muito depois que o vovô saiu, mas não me disse nada.

A residência onde eu morava com meus pais ficava ao lado da casa dos meus avós, na Rua General Osório, hoje centro de Franca. Meu pai, Arlindo (foto a direita), ainda mora lá, aos 92 anos de idade. Pela madrugada ouvimos um barulho estranho, forte, um zunido que chegava a assustar. Os minutos se passavam e nada do ruído cessar. Meu pai, ao contrário do meu avô, sempre foi corajoso, saltou da cama e foi ao alpendre de casa ver do que se tratava. Eu o segui, mesmo temeroso, confesso. Também estava impressionado com as histórias sobre discos-voadores contadas pelo “tio Carlinhos”. Papai debruçou-se sobre a sacada do alpendre, colocou seus óculos e exclamou: “bom dia, Carlinhos, o que faz uma hora dessas na rua”?

Ainda consegui ver o “tio Carlinhos” acenar sem graça para o meu pai e rapidamente desaparecer pela rua abaixo, segurando um berrante nas mãos, instrumento usado por ele para fazer toda aquela algazarra de madrugada na janela do meu avô. Soube depois que o “tio Carlinhos” havia amarrado o berrante (foto) numa corda e o agitava em frente a janela do vovô, para que ele pensasse que eram discos-voadores que estavam descendo na Terra. Vovó Anita contou que meu avô, assim que ouviu os primeiros ruídos foi para baixo da cama, apavorado. Mal feito descoberto, no dia seguinte o empório estava fechado e o “tio Carlinhos” escondido em algum canto da cidade, sabe-se lá onde. Vovô, com uma espingarda de caça, estava em seu encalço. Felizmente não o encontrou e tudo acabou em pizza, depois que a poeira assentou.
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*Edward de Souza é radialista e jornalista
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