sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Envelhecimento é um processo e não um castigo

Edward de Souza

Faz-se necessário uma mobilização de todos os segmentos sociais brasileiros em prol do cumprimento integral das leis que beneficiam os idosos! Seria bom que as pessoas com cargos na administração federal, estadual e municipal sejam alertadas para a gravidade do momento por que estão passando os idosos, prejudicados até pelos motoristas de ônibus que ao perceberem um passageiro de cabeça branca, passam direto, como vi outro dia. Acontece que muitos deles estão seguindo para consulta médica e alguns motoristas de ônibus não estão nem aí. Certamente acreditam que jamais ficarão envelhecidos! Deveriam ser punidos pela discriminação. Estou destacando a questão dos transportes, mas os idosos brasileiros são discriminados por vários segmentos da sociedade. O envelhecimento é um processo pelo qual todo ser vivo passa porque ninguém acorda velho de um dia para o outro. Só existem dois caminhos para o ser humano: Ou morre quando ainda jovem ou envelhece, não tem outra hipótese!
Parece óbvio, mas muitas pessoas não conseguem enxergar desta maneira devido à imagem equivocada que têm do idoso e do envelhecimento. A falta de crédito em relação ao idoso faz parte de nossa cultura onde tudo de bom é para o jovem e o de ruim fica para o velho. Quando algum idoso consegue sair do "padrão" estipulado pela sociedade voltando a estudar, praticando esportes radicais, ou até se casando na terceira idade, as pessoas levam o caso com uma mistura de repulsa e fascinação. E está aí a grande diferença entre envelhecer e ser velho.
Hoje os idosos somam 20 milhões em todo o Brasil, mas talvez ainda não tenham se conscientizado do poder que está em suas mãos. O voto é uma grande arma para mudar o rumo do nosso país e os idosos precisam utilizá-lo com responsabilidade e muita clareza, pois não perderam sua cidadania, possuem direitos e deveres como todo o cidadão, pois a idade não lhes tira qualquer responsabilidade. A cidadania começa dentro de casa e poucas pessoas se dão conta disso. É dentro de casa que decidimos que tipo de idoso ou velho seremos um dia. Se formos coitadinhos, provavelmente seremos idosos coitadinhos. Se formos normais, provavelmente seremos idosos normais. Tudo depende de nosso posicionamento durante a vida.
Costumo definir de "coitadinho" aquele que acaba dentro do quartinho no fundo da casa. Estes são idosos que se acomodaram na preguiça e deixaram que os outros tomassem conta de tudo o que é seu. O idoso que vive nesta condição, quando se dá conta, realmente tornou-se "coitadinho" e se vê junto á máquina de costura, bugigangas e coisas sem valor. Um lugar onde não é possível atrapalhar, pois tudo que não queremos ou que atrapalha, é lá que colocamos. Já o "normal", é aquele que se posicional perante a família e toma as próprias decisões, tendo controle, autonomia, coragem, mas responsabilidade. Claro que me refiro a idosos sem patologias, pois estes realmente acabam se tornando dependentes.
Só conseguiremos mudar a imagem com relação à velhice e ao envelhecimento, quando pensarmos de forma diferente. Quando acreditarmos que envelhecimento é um processo e não um castigo. Quando tivermos um novo olhar com relação ao tempo e a história que ele nos ajuda a escrever.