domingo, 27 de setembro de 2009

AS PESCARIAS NOS COSTÕES DO LITORAL

Ao falar sobre minhas pescarias nas praias e costões da orla paulista, lembro-me da década de 1950. Em 55 ou 56 já viajava para Peruíbe, então um pequeno lugar sem luz e outros recursos da vida moderna. O trem era a única alternativa. Uma viagem maravilhosa. Na estação Sorocabana pegávamos a composição e depois de algumas horas lá estávamos.
Uma paisagem indescritível. Acampávamos na praia. O problema eram os terríveis borrachudos. Junto aquelas tão lindas praias, as exuberantes matas. Grandes pescarias.
Dois ou três anos mais tarde começamos a frequentar a orla de Itanhaém, com suas lindas praias e costões, além da Ilha das Cabras, de fácil acesso, sem falar no rio do mesmo nome. A primeira vez que fui pescar na ilha com alguns amigos, depois de ter fisgado belos exemplares de sargos e sofrer um acidente que quase me mandou para o outro lado, fomos expulsos por um bombeiro salva-vidas. Achamos ruim, mas ele estava certo. Esse tipo de pescaria não é para pescadores neófitos.
As pescarias nos costões de nosso litoral são interessantes e gratificantes ou pelo menos o era em meu tempo. Na praia, vejo todos os dias os mesmos pescadores fazer seus lançamentos usando carretilhas ou molinetes. Há dias em que a pesca é farta e outros que os peixes não dão o ar da graça. Nos costões, o sucesso quase sempre é garantido. Peixes de boa qualidade como um grande pampo, uma anchova, um robalo de bom tamanho, as pescadas amarelas (cambucus), garoupas etc.
Apesar das praias serem bons pesqueiros, notadamente durante a noite, as pedras sempre teve a preferência dos pescadores de lançamento, e mesmo daqueles que não possuindo caniço e molinete, pescam com linhadas enroladas em garrafas ou latas vazias, para auxiliar no lançamento. Essa preferência por pedras se dá devido à maior frequência de peixes, pela simples razão de ali se localizar o alimento natural da fauna ictiológica.
Numa pescaria de praia, o pescador depende, essencialmente, de boas condições do mar. É preciso que as águas estejam calmas, sem grandes ondas, não fazendo correr lentamente as chumbadas; é necessário que a maré esteja enchendo ou já esteja cheia, pois a maior parte dos peixes não se aproxima da praia com maré vazia. Nas pescarias de pedra, o pescador não depende tanto dessas condições; a maré pode até estar vazia que sempre haverá peixes no local; e as águas poderão estar agitadas, que sempre se apanhará algum peixe bom. Os sargos, as marimbas, os pampos e os cambucus, por exemplo, são peixes que preferem o mar batido. Quando há grandes vagalhões, aí mesmo é que eles ficam à vontade. Saem de suas tocas e passam a comer os mariscos arrancados das pedras pelas ondas.
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OS PERIGOS
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Muitos acidentes podem ocorrer nas pescarias de pedra se os pescadores não observarem as regras de segurança necessárias. E devemos frisar que esse tipo de pescaria não é para novatos. O principiante deverá treinar na praia, passando depois para as pedras, onde não haja o menor risco, para só então, depois de assimilada a técnica, macetes e todos os conhecimentos indispensáveis, partir para a pescaria em costões, o que deverá ser feito em companhia de veteranos. Eis as principais regras de segurança:
1 – Jamais vá pescar em cima de pedras calçado com sapatos comuns, botas ou sandálias havaianas. A usar tais calçados é preferível ficar descalço. Deve-se usar alpargatas de solado de cordas, que estejam novas (não sei se ainda existem), ou algo similar.
2 – Nunca se deve pescar num rochedo se o mar estiver de ressaca, pois uma onda mais forte poderá atirar o pescador no mar.
3 – Ao pisar no limo, o pescador deve ter o maior cuidado, mesmo se estiver usando alpargatas. Pise com a ponta dos pés, de mansinho, e nunca plante o pé, chapando-o contra a pedra.
4 – Nunca deve ser deixada sobre a pedra pedaços de isca principalmente sardinhas – pois alguém poderá pisar e escorregar e cair para a morte. Ao terminar a pescaria, o pescador deve atirar as sobras de isca dentro d’água.
5 – Nunca use linha excessivamente grossa, nem anzóis muito reforçados. Se agarrar não soltam.
6 – Ao se dirigir para um costão, evite levar documentos, não use óculos; não traga faca desembainhada à cintura; leve apenas um caniço e um molinete (ou carretilha); se possível use um colete salva-vidas.
Boa pescaria.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, escrevendo crônicas, contos, artigos e matérias especiais.
Contato com o jornalista pelo e-mail: jgarcelan@uol.com.br
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