terça-feira, 5 de outubro de 2010

SEGUNDA-FEIRA, 4 DE OUTUBRO DE 2010


Não sei por que tanta surpresa e indignação contra o Tiririca, se o Brasil sempre foi assim. Errado não é ele nem são os espertalhões que lançaram sua candidatura para surfar docemente no voto de legenda. Errada é a lei que permite esse absurdo. Com Tiririca, estão indo de carona mais quatro desconhecidos, com meia dúzia de votos de suas famílias. É mais uma brincadeira dessa lei eleitora totalmente maluca. O problema é que nós vamos pagar a conta, não só com a grana dos nossos impostos, mas também com as consequências de longo prazo no campo legislativo.

Defendo a tese de que todo candidato só poderia ter seu nome homologado após aprovação num vestibular, que teria outro nome, mas seria um vestibular. Se o sujeito não souber responder, por exemplo, o que significa Comissão de Constituição e Justiça, perde dois pontos. Se não souber explicar o que vem a ser “acordo de lideranças”, perde mais dois pontos. E que tal estas perguntas: Qual a diferença entre Câmara dos Deputados e Senado? O que é um projeto de lei? Um decreto? Uma resolução? Uma norma? Em que circunstância ocorre uma sanção ou veto presidencial? Como saber que uma lei é inconstitucional? Quais são as instâncias judiciais e quais as atribuições dos tribunais? E vai por aí, entrando também no campo do Executivo, seus ministérios, estrutura, etc.
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Surgiriam, então, os cursinhos pré-vestibulares para candidatos a candidatos, o que seria uma maravilha. Os vestibulares são filtros para evitar, teoricamente, que despreparados venham a ser tornar médicos, advogados, engenheiros, etc. Por que esse mesmo filtro não é aplicado também a quem vai pretender legislar e governar uma cidade, um estado, o país? O que é mais grave, um advogado de porta de cadeia despreparado ou um governador no lugar errado? Em respeito à inteligência do leitor torno a resposta dispensável.

Se existisse esse processo depurador jamais um Tiririca da vida chegaria lá, ainda mais com essa votação assustadora, retrato da miséria mental de tanta gente alienada e irresponsável. Porque o problema é que não são só eles que pagam. Nós também pagamos, e muito caro, por essa palhaçada sem nenhuma graça.
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*Milton Saldanha - Jornalista profissional e escritor, 65 anos, SP. Acesse: jornaldance@uol.com.br
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Não deixem de acompanhar nesta quarta-feira, o 25º capítulo de "Memória Terminal", série inédita escrita pelo saudoso jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso Nacional de Jornalismo.
(Edward de Souza)
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