quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

TERÇA-FEIRA, 18 DE JANEIRO DE 2011

FOTOS AE: WILTON JUNIOR - MARCOS DE PAULA E JOSÉ PATRÍCIO
As águas que despencam do campo azul inundam não apenas cidades, mas também almas. Muitas ainda secas de sentimentos e isentas de esperanças. O sonho de ver um rio de alegrias jamais sentido por tais seres. Outras almas fartas de tudo, imponentes, intocáveis para os homens, mas frágeis aos céus. Não há como saber o propósito e a intensidade dessas águas das chuvas, dos dilúvios que sempre alastram a terra. Mas uma coisa é certa, é preciso chover, deixar a chuva cair. É preciso ajudar constantemente, deixar os braços se abrirem.

As enchentes, as ventanias, os fenômenos naturais que assolam o homem despertam o lado humano dos seres. O homem, em sua totalidade, só consegue ser o reflexo da benevolência divina em momentos trágicos. A constância do bem não faz parte da natureza humana. As ações cotidianas de ajuda, raras vezes, são tão fortes quanto à comunitária e apelativa solidariedade dos tempos de pavor. É claro que existem almas repletas de altruísmo que agem caladamente. Abrem suas gargantas para os mais necessitados e, em momentos de grande crise, não economizam palavras para clamar auxílio. A essas almas deveriam se ajuntar todas as outras almas que, frente a um terror tão intenso, abrem os braços, outrora fechados, para estender um pedaço de pão ou um agasalho.

Campanhas de solidariedade bem marcadas durante o ano, como o Natal sem fome. Único momento anual de certeza da não mendicância. No Natal, poderão comer um pouco mais de arroz e feijão que, durante todo o ano, são tão minguados quanto o sentimento vital de tais seres. Roupas, brinquedos, presentes natalícios que crianças só vêem uma vez ao ano. Seus brinquedos devem durar exatamente doze meses, instante em que são renovados. Nesse intervalo, a imaginação e criação pueril entram em vigor. Assim são os olhos racionais que não querem ver o seu próximo sem um sorriso nos lábios durante o nascimento do Senhor.
.
Aos períodos de festividades, sobretudo religiosos, atrelam-se os tempos de horror ocasionados pela natureza. Há aqui um vocativo marcadamente conativo. O tão conhecido sensacionalismo televisivo desperta uma comoção originária inexistente. Vibra-se mais por uma morte que por um nascimento. Nas capitais, quando uma criança é arremessada de uma janela, campanhas contra violência e morte aos culpados. Entretanto, no grotão brasileiro, crianças são lançadas todos os dias na lama, violentadas, trastes imundos.

O choro dos que perdem moradias por causa das enchentes deve, sim, ser lamentado. O desespero deve ser, sim, acalentado. Campanhas devem ser feitas. As cenas trágicas devem, sim, aparecer nas telas de cada casa não submersa. Porém, todos os dias, há milhares de casas que são inundadas de ódio, desespero; casas que são inundadas de calor e sequidão. No sertão nordestino e em gretas desse vasto Verde-Amarelo, há tantos querendo aparecer na mídia para que a Defesa Pública olhem para eles. Há tantos querendo um copo d’água, ainda que seja dos lamaçais dessas enchentes.
.
Por que fechar os olhos para os que perpetuamente sofrem desde arcaicas eras? Não perderam casas em enchentes nem familiares, mas não vivem dignamente há tempos. Suas vidas são enchentes. Que as tragédias da vida permitam descerrar os olhos e enxergar durante todo um ano, toda uma vida. E ver que as mãos que hoje levantam provisões possam levantá-las perenemente. E que as lentes das câmaras possam se tornar autônomas e flagrarem o sofrimento oculto de seres que esperam um dilúvio. Um dilúvio de humanidade...
__________________________________________
*Edward de Souza é jornalista e radialista
__________________________________________

Os municípios mais afetados pelas chuvas estão recebendo doações de dinheiro em contas abertas pelo Banco do Brasil em nome das prefeituras municipais. Para fazer doações, os números de agência e conta são os seguintes:

Areal

Agência: 2941-6

Conta corrente: 15708-2

Bom Jardim

Agência: 1652-7

Conta corrente: 20000-X

Nova Friburgo

Agência: 0335-2

Conta corrente: 120000-3

Petrópolis

Agência: 0080-9

Conta corrente: 76000-5

São José do Vale do Rio Preto

Agência: 0080-9

Conta corrente: 77000-0

Teresópolis

Agência: 0741-2

Conta corrente: 110000-9

A cidade de Sumidouro, até a tarde de ontem, segunda-feira, não tinha conta corrente para doações devido à dificuldade de comunicação entre a agência bancária local e a Prefeitura.
_______________________________________