sexta-feira, 19 de junho de 2009

JOÃO GOULART, ÚNICO PRESIDENTE BRASILEIRO
QUE MORREU NO EXÍLIO
Quarenta e cinco anos depois de derrubado, João Goulart – o presidente que morreu no exílio – continua sendo um personagem esquecido pelos brasileiros. Ele dobrou o salário mínimo, recebeu o legado do mito Getúlio Vargas, aproximou o Brasil da China, governou no parlamentarismo e no presidencialismo, impôs à agenda nacional a reforma agrária e o limite de remessa de lucro das multinacionais e, derrubado pela última das ditaduras, foi o único presidente a morrer no exílio. Só os detalhes explosivos da biografia do gaúcho João Belchior Marques Goulart já seriam suficientes para alçá-lo à galeria das grandes figuras do País, batizar praças e ocupar espaços nobres nos livros de história. Trinta e três anos depois de sua morte e quatro décadas e meia após o golpe que derrubou o fazendeiro-sindicalista do poder, observadores da política ainda se debruçam sobre um dos enigmas da República: por que a figura de João Goulart é tão esmaecida? Por que Jango foi esquecido? Acompanhem agora o último capítulo dessa série assinada pelo jornalista Milton Saldanha.
(Blog Edward de Souza)
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Milton Saldanha
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Do livro inédito “Periferia da História”, adaptado para nosso blog.
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A LEGALIDADE
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EPÍLOGO
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A campanha da Legalidade acabou com uma conciliação, aceita por Jango, para evitar o confronto militar: seria implantado o regime parlamentarista. O presidente indicava o primeiro ministro, que por sua vez tinha que ser aprovado por dois terços do Congresso Nacional. No parlamentarismo o Congresso pode também retirar a confiança no primeiro ministro, derrubando-o.
A viagem de Jango de Porto Alegre para Brasília foi uma operação complicada, planejada pelo general Amaury Kruel, que tinha ido para o RS para lutar ao lado das forças legalistas. Depois, em 1964, comandando o II Exército, em São Paulo, esse general ajudou a derrubar Jango.
Vazou a informação de que oficiais da Força Aérea, inconformados, planejavam abater no ar o Boeing da Varig, especialmente cedido, que levaria o presidente. O próprio presidente da empresa, comandante Rubem Berta, pilotou o avião. Esse plano dos militares ficou conhecido como “Operação Mosquito”. Jango só deixou Porto Alegre quando recebeu garantias dos sargentos de Brasília, informalmente, nos bastidores, e formalmente do general Ernesto Geisel, então comandante da guarnição do Distrito Federal e chefe da Casa Militar do presidente interino Raniere Mazzili. No livro com as memórias de Geisel ele confirma esse episódio e conta como neutralizou os militares radicais. A atitude de Geisel não foi ideológica, ele tinha sido inclusive contra a posse de Jango e chegou a sugerir um plano de resistência à Legalidade a partir da tomada de Curitiba. Foi apenas uma questão de caráter pessoal, de honra, para cumprir a qualquer preço a palavra empenhada. Essa atitude engrandeceu a biografia do general, que muito depois, na ditadura, chegaria à presidência.
Tancredo Neves abriu a lista de primeiros-ministros. O tal parlamentarismo era ridículo e tornou o país ingovernável. Nenhum primeiro ministro durava no cargo e cada vez que mudavam era uma crise danada. O Exército vivia de prontidão. Para resolver o problema foi convocado um plebiscito. O povo decidiria Sim (ao parlamentarismo) ou Não. A campanha pelo Não ganhou as ruas. Brizola, Jango, Juscelino e muitos outros líderes faziam campanha pelo Não. O carro da minha família tinha um adesivo enorme, em vermelho e preto (as cores do PTB), com uma única palavra: Não! Esse adesivo estava por toda parte. O resultado do plebiscito foi esmagador, coisa assim de 90% em favor do Não. Com a irrefutável decisão popular ficava restabelecido o presidencialismo. Jango, finalmente, começava a governar, depois de vários meses de crises.
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*Milton Saldanha, 63 anos, gaúcho da fronteira, é jornalista profissional, com mais de 40 anos de atividades. Começou em Santa Maria, Rio Grande do Sul, em 1963. Foi repórter e exerceu cargos de chefia em alguns dos principais veículos do Brasil, como Rede Globo, jornais O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde, Diário do Grande ABC, revista Motor 3, Folha da Manhã (RS) e outros. Foi repórter em Última Hora, trabalhando com Samuel Wainer. Já assinou artigos e reportagens em mais de uma centena de publicações de todo o Brasil. Trabalhou também em assessoria de imprensa, para empresas e entidades públicas, como Ford Brasil, Conselho Regional de Economia e IPT- Instituto de Pesquisas Tecnológicas. É autor do livro “As 3 Vidas de Jaime Arôxa”, pela Editora Senac Rio, e participou como cronista da antologia “Porto Alegre, Ontem e Hoje”, pela Editora Movimento, do Rio Grande do Sul. Assinou também orelhas de diversos livros sobre dança e música, de autores brasileiros. Um ano antes de se aposentar, quando era editor-chefe do Jornal do Economista, em São Paulo, fundou o jornal Dance, que em julho completa 15 anos. Tem novo livro pronto, ainda inédito. É “Periferia da História”, onde conta de memória 45 anos da recente história brasileira. Trabalha em novos projetos editoriais, como jornalista e escritor. Na área de dança, organiza uma coletânea com os melhores editoriais publicados no Dance. Atualmente prepara um livro sobre Maria Antonietta, grande mestra da dança de salão carioca, que morreu recentemente. Apaixonado por viagens conhece quase todo o Brasil e já visitou cerca de 40 países. Por hobby e paixão é dançarino de tango.
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