quinta-feira, 6 de maio de 2010

SEMANA DE HOMENAGEM ÀS MÃES

REFLEXÕES ACERCA DE UMA

SAUDADE INFINDA

"Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche." (Martha Medeiros)

Diadema, 26 de outubro de 2008.

Profundamente consternado, comunico o falecimento da minha adorada e saudosa mãe, a Sra. Matilde Pinheiro de Oliveira, ocorrido no fatídico dia 24 de outubro de 2008.

Ela veio à luz em 14 de março de 1923, no bairro paulistano de Santana, onde moravam meus avós maternos Júlio Xavier Pinheiro e Belmira Pedroso Pinheiro, que ficaram jubilosos com o nascimento da sua primeira filha! Mas, quando ela tinha um ano de idade, meus avós fugiram, apavorados, da capital, por causa da Revolução, que ceifou muitas vidas de cidadãos paulistanos, refugiando-se no sítio do pai da minha avó materna, Antônio Manoel Pedroso, no atual município de São Bernardo do Campo-SP.

Findo o período belicoso, meus avôs maternos não retornaram ao bairro de Santana, preferiram continuar morando no interior, no sítio do meu bisavô materno, onde mamãe viveu até a adolescência, mudando-se, a seguir, com os pais e mais três irmãos, para Santo André. Tempos depois, mais precisamente no dia 4 de dezembro de 1941, contraiu matrimônio com meu adorado e saudoso pai (meus pais eram primos em 4º grau), que faleceu no também fatídico dia 9 de agosto de 1997. Eles tiveram sete filhos (o primeiro partiu após quatro horas de existência, no dia 18 de novembro de 1942).

Dona Matilde sempre se dedicou com amor, zelo e presteza à sua numerosa prole, que era provida com o labor de chauffer do meu pai, no antigo Ponto de Táxi do Cine Carlos Gomes, em Santo André, telefone: 44-31-06 (será que se eu ligar ele me atende?!...) Além deste reles e desolado escrevinhador outonal, minha adorada e saudosa mãe deixou mais 5 filhos, 13 netos e 9 bisnetos desamparados e aniquilados...

Depois que o meu pai faleceu, o estado de saúde da minha adorada e saudosa mãe começou a ficar combalido. Ultimamente ela se locomovia com ajuda, mesmo assim, com muita dificuldade, precisando da assistência de minha valorosa e prestimosa irmã, Maria Inês, para todas as situações do cotidiano.

Na manhã do fatídico dia de sua partida, começou a revirar os olhos e minha irmã, apavorada, chamou o SAMU andreense, que prontamente a levou ao Pronto-Socorro da Vila Luzita. Entretanto, ela lá chegou sem vida.

Após os trâmites no IML (que horror...mas foram ágeis e prestativos), seu corpo foi trasladado para o Cemitério da Vila Euclides, no município de São Bernardo do Campo, onde foi velado e sepultado no final do dia.

É insuportável pensar que o corpo da minha adorada e saudosa mãe está se decompondo no silêncio sepulcral da 2ª gaveta à direita, do jazigo 53, no Sepulcrário da Irmandade do Santíssimo, que fica no Cemitério da Vila Euclides, que fica na Avenida Redenção, que fica no Jardim do Mar, que fica no município de São Bernardo do Campo, que fica na Região do Grande ABC, que fica na Grande São Paulo, que fica no Estado de São Paulo, que fica na Região Sudeste, que fica no país chamado Brasil, que tem a maior parte do seu território no Hemisfério Sul, que fica na América do Sul, que fica no Continente Americano, que fica no Planeta Terra, que fica no Sistema Solar, que fica na galáxia da Via Láctea, que fica no grupo de galáxias local, que é uma da bilhões de galáxias que ficam no Universo, que pode ser um dos incontáveis Multiversos...

Por que há existência, quando poderia não haver nada?!!!

Nunca mais ouvirei da minha saudosa e adorada mãe: - Oi João você está bom? - Cuidado na rua, por causa da ladroagem! - Se você não estudar, quando crescer vai puxar carroça!. - Não saia sem blusa, por causa da friagem! - Jamais tome banho, após o almoço! - Não volte tarde! - Onde você vai e com quem? - Já rezou para dormir? - Deus te abençoe! - Vá com Deus! - Você precisa ter uma religião! - Não me conformo de você ter ficado ateu! - Vá lavar as mãos antes de comer! - Venha cá, seu menino malcriado, levar umas cintadas! - Eu já lhe falei, nunca mais faça isto! Quem mandou prender o gato no armário da pia e colocar fogo no coitado! - Pare de ficar girando o botão da máquina de lavar roupas!...Suas palavras ainda ecoam no meu peito...

Minha vida tornou-se insulsa sem a presença radiante da minha adorada e saudosa mãe! Volte, mãe, volte!

Compungidamente,

João Paulo de Oliveira

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*João Paulo de Oliveira, 57, pertence a uma das mais antigas famílias do Grande ABC, com raízes na Freguesia de São Bernardo. Andreense de nascimento, é professor e leciona na Escola Municipal Anita Catarina Malfatti, em Diadema, na Região do ABC Paulista. Ocupa também o cargo de Coordenador Pedagógico na EMEF Dr. Habib Carlos Kyrillos, na Prefeitura de São Paulo. Além de Pedagogo é Mestre em Educação. Especializa-se no estudo da árvore genealógica familiar. Nas horas de lazer, quando sua mansão no litoral não é invadida por ladrões, busca refúgio nas belas praias do Guarujá. Amigo e colaborador do blog, João Paulo escreve, mais uma vez, uma crônica neste espaço. Visite seu blog, Celulóide Secreto, em http://joaopauloinquiridor.blogspot.com Contatos com o articulista pelo e-mail joaopauloinquiridor@ig.com.br
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