domingo, 22 de março de 2009

AS HISTÓRIAS DAS REDAÇÕES DE JORNAIS

Guido Fidelis

João Colovatti, O COMEÇO
Parte VI

Idos de 1962/1963. O Grande ABC, particularmente Santo André, iniciava um ciclo de modernização, construíam-se escolas, o movimento cultural se intensificava, novos estabelecimentos comerciais se abriam. Na Rua Bernardino de Campos, proximidades da estação, funcionava a sede do News Seller, que se transformaria no Diário do Grande ABC. Do outro lado da rua, bem em frente, foi inaugurada uma lanchonete moderna para a época, especializada em cachorros quentes, alguns outros sanduíches, sucos, refrigerantes etc. Na esquina, já na Rua Carlos de Campos, havia a sucursal do jornal Última Hora. Um pouco acima, a dos Diários. E na Oliveira Lima, surgia o jornal O Repórter. A imprensa fervilhava, cobria tudo, política (o primeiro impeachment no Brasil, do prefeito Oswaldo Gimenez, de Santo André), sindicalismo, que iniciava intensa movimentação, poluição em seus primórdios. Enfim, temas para inúmeras pautas. A violência ainda estava adormecida. João Colovatti atendia na lanchonete. Atencioso, gentil, logo se tornou amigo dos jornalistas que frequentavam o estabelecimento. Ficou íntimo do jornalista Geraldo Cunha, excelente fotógrafo, profissional que atendia tanto o jornal Última Hora quanto a Polícia Técnica, além de grande boêmio. Laços fraternais solidificados, Colovatti passou a acompanhar Cunha noite adentro, frequentando delegacias de polícia. Muitas vezes carregava as câmaras do Cunha. Com ele aprendeu as artes do ofício. Inteligente, descobriu os mistérios das boas imagens jornalísticas, movimentadas, com iluminação adequada, bem como os segredos de sair na frente, furar. Na época havia uma guerra em torno de notícias policiais, uma batalha aguerrida entre Última Hora e Diário da Noite e A Hora. Nomes se projetavam: Nelson Gato, Cabral. Quando o News Seller se transformou no Diário do Grande ABC Colovatti estava preparado para assumir o mister e se destacar. A partir daí sua trajetória ascendente é conhecida na história da imprensa brasileira.
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Guido Fidelis é jornalista, escritor e advogado, amigo de longa data. Convidado, escreve hoje o que deveria ser o primeiro artigo dessa série que iniciamos sobre histórias das redações de jornais. De qualquer forma, para muitos que conheceram ou trabalharam com João Colovatti, essa figura folclórica, que tirou sarro anos atrás do metalúrgico Lula, atual presidente do Brasil, ao fotográ-lo com uma surrada cueca cor de rosa num hotel onde participava de uma convenção de trabalhadores, um surpreendente relato sobre o começo de sua carreira. Essa série ainda terá mais João Colovatti, falecido em 2001, aos 56 anos, depois outras histórias sobre os tempos das velhas máquinas de escrever.
*Edward de Souza - Blog