terça-feira, 25 de agosto de 2009

OS VIGARISTAS SE CONSIDERAM ATORES

SEGUNDO CAPÍTULO

O verdadeiro vigarista é aquele que usa a inteligência diretamente em contato com a vítima, segundo dizem os primitivos passadores do "conto do paco", "conto do milionário", "conto do violino" e outros mais. Eles se consideram atores, embora na maior parte dos casos mal pagos. A grande alegria dos vigaristas é ver suas façanhas contadas e admiradas pelos que eles chamam de otários. Os malandros dizem que conto bom é o que desperta a cobiça das vítimas, transformando-as também em vigaristas, assim, não podem recorrer à polícia. "O conto do violino", um dos mais antigos, foi um dos primeiros a explorar este aspecto.

CONTO DO VIOLINO – Em determinada época, um "caipira" hospedou-se em um luxuoso hotel de São Paulo trazendo um violino. Depois de permanecer alguns dias, pediu a conta. Malas prontas, despesas pagas, solicitou um favor ao proprietário do hotel. Disse que iria viajar para o interior, mas não poderia levar o violino. Explicou que o instrumento pertenceu ao seu avô e como sua bagagem era muita, tinha receio de perdê-lo no caminho. Pediu para que o dono do hotel o guardasse, dizendo que comentavam que valia muito dinheiro. O proprietário do hotel concordou. No dia seguinte um senhor elegante, que dizia ser instrutor de violino hospedou-se no hotel. Depois de alguns dias fez amizade com o dono do hotel, que lhe disse ter um violino guardado, de muito valor, conforme as palavras do "caipira", proprietário do instrumento. Sabendo que o senhor elegante era professor de violino, mostrou a ele o instrumento. O "professor" surpreendeu-se e exclamou: "mas é um Stradivarius! Vale milhões. Quero comprá-lo imediatamente. Ofereço 600 mil cruzeiros" (dinheiro da época da publicação dessa série na Revista Realidade, uma verdadeira fortuna). O dono do hotel diz ao "professor de violino" que não pode vender o instrumento musical porque não era seu. O "professor" pede então que ele converse com o dono e deixa um cartão onde consta um endereço e seu nome, dizendo que volta em cinco dias para concluir o negócio. Quando o "caipira" voltou para buscar o violino, o dono do hotel foi logo lhe oferecendo 100 mil cruzeiros pelo aparelho musical, dizendo que de uma hora para outra resolveu ensinar música ao seu filho. O "caipira", depois de pensar uns instantes, andando de um lado para o outro, recordava que o violino era a única lembrança que tinha de seu avô, mas como estava em dificuldades financeiras, iria aceitar a oferta desde que fosse a dinheiro. O dono do hotel concordou, pediu uns minutos enquanto providenciava a soma, pagou o "caipira" e recebeu o violino. "O "caipira" se despediu e foi embora, deixando o dono do hotel a esperar o "professor" o resto da vida, ou até descobrir que o violino não tinha nenhum valor.

GOLPE MILIONÁRIO – Um dos golpes mais famosos aplicados no Brasil e que até hoje é contado como verdadeira aula de malandragem, ocorreu em uma grande loja de São Paulo. Na manhã de um sábado, um homem elegante entrou em uma concessionária no centro da cidade e pediu para experimentar um "Mustang", o carro mais caro em exibição naquela loja. Saiu em companhia de um funcionário da concessionária, voltou, gostou do carro e acertou os detalhes para a compra, entregando um cheque de alto valor ao gerente da loja. Assim que o homem elegante saiu com o carro, raspou o veículo em um poste, bem em frente a loja. Juntou gente e o homem, diante da multidão e dos funcionários da loja que acorreram curiosos, ofereceu o carro pela metade do preço que havia pago, a quem quisesse comprar. Os funcionários imediatamente comunicaram o fato ao gerente. Verificando o que ocorria, o gerente rapidamente telefonou a um distrito policial. Tinha ele quase certeza de que se tratava de um vigarista e que seu cheque não tinha fundos. Solicitou que o homem ficasse preso até segunda-feira, uma vez que todos os bancos estavam fechados. O homem protestou, dizendo que só estava vendendo o carro por superstição. Afirmou aos policiais que o levavam para o distrito que seu cheque tinha fundos, que estava de viagem marcada para o exterior e não poderia esperar. Apresentou inclusive um telegrama de seu sócio, com carimbo de uma cidade do exterior, falando de um negócio de milhares de cruzeiros. Junto ao telegrama seguia uma passagem de avião. Prometeu que acionaria a empresa no valor do negócio perdido se fosse preso. Mas, nada adiantou. O homem foi conduzido para o xadrez, onde deveria aguardar a segunda-feira, dia que seria apresentado seu cheque. O gerente não tinha dúvidas. Aquilo era conversa mole e o cheque não tinha fundos ou era roubado. Na segunda-feira, quando os bancos abriram, o cheque foi apresentado: tinha fundos. O homem recebeu uma pequena fortuna de indenização.

CONTO ENGRAÇADO – Na década de 70 eram muitos os contos engraçados, alguns com criatividade, como esse que apresento. Um senhor entra numa elegante barbearia acompanhado por um garoto com uniforme escolar. Após cortar o cabelo, fazer a barba, manicure e engraxar os sapatos, o homem coloca o garoto na cadeira do barbeiro para também cortar o cabelo e avisa que vai tomar um café. Após terminar o corte e recomendar que sentasse para esperar a volta de seu pai, o barbeiro foi informado pelo garoto que nem conhecia aquele homem, ele apenas o havia parado na rua e perguntado se não queria cortar o cabelo de graça...

AMANHÃ NESTE BLOG -
Você vai conhecer o criativo "conto do cleptomaníaco, o cruel "conto do pau de arara" e o "conto da guitarra", entre outros. Nesta série você vai ficar sabendo que no Brasil, até uma coruja foi vendida como papagaio para um português. Não deixe de acompanhar, nesta quarta-feira, o terceiro capítulo da série "contos do vigário" que fez enorme sucesso na década de 70.
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*Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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