SEQUESTRO RELÂMPAGO
O cara que dirigia, parecia ser menor, conduzia minha Brasília reluzente,
incrementada e de dois carburadores como se estivesse nas pistas de Interlagos. Eu estava no meio dos outros dois no banco traseiro. Na frente, o "motorista" e mais outro ao lado. No agitado caminho, cruzando com carros, caminhões e ônibus, o rapaz que parecia comandar o trio, apenas me alertava: "calma tio, não vai acontecer nada ao senhor. Vamos dar uns lances (roubos) lá na frente. Se aparecer alguma barca (viatura policial) aí a coisa complica, já que não vamos nos entregar numa boa e pode sobrar para o tio". Aguenta coração.
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Eram aproximadamente 23h. Apenas com a luz dos faróis da Brasília
iluminando, paramos no que deduzi ser o fim do caminho, já que seria impossível prosseguir. Antes, o cara que parecia ser o chefe havia me prometido: "tio vamos fazer um trato, a gente deixa o senhor ir embora com o carro, o tio não chama os "home" (polícia), assim tudo acaba bem pra todos". Já fora do carro, um dos moleques sentenciou: ”que nada mano a gente já apagou uns caras metidos a besta e não vamos deixar esse ‘véio” nos caguetar aos tiras”. Gelei, nem poderia ser diferente, mas o chefinho" ordenou: "senhor, pode entrar no carro e cair fora".
iluminando, paramos no que deduzi ser o fim do caminho, já que seria impossível prosseguir. Antes, o cara que parecia ser o chefe havia me prometido: "tio vamos fazer um trato, a gente deixa o senhor ir embora com o carro, o tio não chama os "home" (polícia), assim tudo acaba bem pra todos". Já fora do carro, um dos moleques sentenciou: ”que nada mano a gente já apagou uns caras metidos a besta e não vamos deixar esse ‘véio” nos caguetar aos tiras”. Gelei, nem poderia ser diferente, mas o chefinho" ordenou: "senhor, pode entrar no carro e cair fora". .
Depressinha pulei para o banco do motorista, mas na hora de dar a partida, cadê as chaves? O pilantra que vinha dirigindo sumiu na escuridão carregando o chaveiro. "ei, como vou embora, se o rapaz levou a chave", arrisquei. O líderzinho então berrou: "mano" (em nenhum instante se trataram pelo nome), volta aqui com as chaves senão vai sobrar pra você, fiz um acordo com o tiozinho e vamos cumprir, não é tio?O "mano" me entregou as chaves e o chefinho ainda me desejou boa sorte (ironia). Não podendo manobrar (o espaço não permitia) fui saindo de ré, sem enxergar nada (uns 300 metros), e encontrei a rodovia. Entrei para o lado que me deu na cabeça e depois de rodar cerca de 200 metros percebi que estava no rumo de Ribeirão Pires. Era o que eu queria.
Então, minha querida e estimada Brasília se encarregou de mostrar que
um amontoado de latas, embora conservada, não tem coração nem estima por ninguém. A gasolina acabou cerca de 50 metros de um posto de combustível com pouca iluminação, dando a entender que estava fechado. A pé, fui até lá. Deveria ser 23h30 (os "manos" levaram meu relógio de estimação e a grana que eu carregava). Entrei no posto onde um frentista veio me atender. Expliquei a situação e o rapaz mandou que fosse falar com o gerente, um gaúcho de quase dois metros, que me atendeu com cara de poucos amigos. Relatei o que ocorreu e pedi que liberasse alguns litros de gasolina pra chegar ao Centro de São Bernardo, onde eu residia. Falei que os "manos" levaram minha grana, mas deixaram meus documentos. Mostrei ao Paulão (esse era o nome do gerente, soube depois), minha identidade e minha credencial de jornalista/radialista. Quando viu os documentos, Paulão berrou: "o senhor é o Lavrado que trabalha na Rádio Diário com o Rolando Marques, Edward de Souza e o Jurandir Martins no esporte? - "sim, sim, eu mesmo", respondi. O gauchão deu ordem para o frentista encher o tanque. Queria acionar a polícia para pegar os "manos", mas não permiti. Ele então disse que era sócio do Santo André, do qual não perdia um jogo, ouvindo a Rádio Diário do Grande ABC.
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Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no ABC.
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