quarta-feira, 30 de setembro de 2009

domingo, 27 de setembro de 2009

AS PESCARIAS NOS COSTÕES DO LITORAL

Ao falar sobre minhas pescarias nas praias e costões da orla paulista, lembro-me da década de 1950. Em 55 ou 56 já viajava para Peruíbe, então um pequeno lugar sem luz e outros recursos da vida moderna. O trem era a única alternativa. Uma viagem maravilhosa. Na estação Sorocabana pegávamos a composição e depois de algumas horas lá estávamos.
Uma paisagem indescritível. Acampávamos na praia. O problema eram os terríveis borrachudos. Junto aquelas tão lindas praias, as exuberantes matas. Grandes pescarias.
Dois ou três anos mais tarde começamos a frequentar a orla de Itanhaém, com suas lindas praias e costões, além da Ilha das Cabras, de fácil acesso, sem falar no rio do mesmo nome. A primeira vez que fui pescar na ilha com alguns amigos, depois de ter fisgado belos exemplares de sargos e sofrer um acidente que quase me mandou para o outro lado, fomos expulsos por um bombeiro salva-vidas. Achamos ruim, mas ele estava certo. Esse tipo de pescaria não é para pescadores neófitos.
As pescarias nos costões de nosso litoral são interessantes e gratificantes ou pelo menos o era em meu tempo. Na praia, vejo todos os dias os mesmos pescadores fazer seus lançamentos usando carretilhas ou molinetes. Há dias em que a pesca é farta e outros que os peixes não dão o ar da graça. Nos costões, o sucesso quase sempre é garantido. Peixes de boa qualidade como um grande pampo, uma anchova, um robalo de bom tamanho, as pescadas amarelas (cambucus), garoupas etc.
Apesar das praias serem bons pesqueiros, notadamente durante a noite, as pedras sempre teve a preferência dos pescadores de lançamento, e mesmo daqueles que não possuindo caniço e molinete, pescam com linhadas enroladas em garrafas ou latas vazias, para auxiliar no lançamento. Essa preferência por pedras se dá devido à maior frequência de peixes, pela simples razão de ali se localizar o alimento natural da fauna ictiológica.
Numa pescaria de praia, o pescador depende, essencialmente, de boas condições do mar. É preciso que as águas estejam calmas, sem grandes ondas, não fazendo correr lentamente as chumbadas; é necessário que a maré esteja enchendo ou já esteja cheia, pois a maior parte dos peixes não se aproxima da praia com maré vazia. Nas pescarias de pedra, o pescador não depende tanto dessas condições; a maré pode até estar vazia que sempre haverá peixes no local; e as águas poderão estar agitadas, que sempre se apanhará algum peixe bom. Os sargos, as marimbas, os pampos e os cambucus, por exemplo, são peixes que preferem o mar batido. Quando há grandes vagalhões, aí mesmo é que eles ficam à vontade. Saem de suas tocas e passam a comer os mariscos arrancados das pedras pelas ondas.
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OS PERIGOS
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Muitos acidentes podem ocorrer nas pescarias de pedra se os pescadores não observarem as regras de segurança necessárias. E devemos frisar que esse tipo de pescaria não é para novatos. O principiante deverá treinar na praia, passando depois para as pedras, onde não haja o menor risco, para só então, depois de assimilada a técnica, macetes e todos os conhecimentos indispensáveis, partir para a pescaria em costões, o que deverá ser feito em companhia de veteranos. Eis as principais regras de segurança:
1 – Jamais vá pescar em cima de pedras calçado com sapatos comuns, botas ou sandálias havaianas. A usar tais calçados é preferível ficar descalço. Deve-se usar alpargatas de solado de cordas, que estejam novas (não sei se ainda existem), ou algo similar.
2 – Nunca se deve pescar num rochedo se o mar estiver de ressaca, pois uma onda mais forte poderá atirar o pescador no mar.
3 – Ao pisar no limo, o pescador deve ter o maior cuidado, mesmo se estiver usando alpargatas. Pise com a ponta dos pés, de mansinho, e nunca plante o pé, chapando-o contra a pedra.
4 – Nunca deve ser deixada sobre a pedra pedaços de isca principalmente sardinhas – pois alguém poderá pisar e escorregar e cair para a morte. Ao terminar a pescaria, o pescador deve atirar as sobras de isca dentro d’água.
5 – Nunca use linha excessivamente grossa, nem anzóis muito reforçados. Se agarrar não soltam.
6 – Ao se dirigir para um costão, evite levar documentos, não use óculos; não traga faca desembainhada à cintura; leve apenas um caniço e um molinete (ou carretilha); se possível use um colete salva-vidas.
Boa pescaria.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, escrevendo crônicas, contos, artigos e matérias especiais.
Contato com o jornalista pelo e-mail: jgarcelan@uol.com.br
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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ESPÍRITO DE JÂNIO BAIXOU EM JOSÉ SERRA

SÃO PAULO, REPÚBLICA DAS BANANAS
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Foi-se o tempo em que se podia dizer ter comprado determinado item "a preço de banana", expressão que significava preços baixos. No Estado de São Paulo, segundo lei em vigor desde o último dia 16, o feirante que for pego vendendo banana por dúzia e não por peso terá que pagar multas que variam de R$ 297,60 a R$ 297.600. Pelo visto, macaco paulista ou faz dieta ou dá uma banana para o Governo.
Começou a valer na semana passada a Lei 13.174/08, de autoria do deputado Samuel Moreira (PSDB), regulamentada em junho deste ano, que dispõe sobre a comercialização da banana no Estado de São Paulo. A proposta, que ficou conhecida como Lei da Banana, estabelece que a venda da fruta seja realizada com a expressa indicação do peso líquido do produto e o valor de referência em relação ao peso. Portanto, os feirantes podem continuar vendendo a banana por cacho, penca ou dúzia, desde que informem, em local visível, o preço por quilo e calculem o valor equivalente à quantidade em quilos que o cliente está levando. Por exemplo, o consumidor pode pedir uma dúzia de bananas e o feirante vendê-la por dúzia, mas informando o peso e o preço por quilo.
O problema da venda das bananas, não tem como esconder, é mais uma dessas leis que não fedem e nem cheiram do Governador José Serra. Se a comercialização de banana, de tomate, ou mesmo de chuchu deva ser a metro, a quilo, por unidade, ou seja lá como for, isso é irrelevante, porque não vai afetar em nada a vida dos milhões de paulistanos que têm problemas muitas vezes mais graves para se preocuparem. Por exemplo, tenho certeza que nossos irmãos paulistanos gostariam de contar com um sistema de saúde pública mais eficiente, onde pessoas carentes não morressem nas filas à espera de tratamento; com escolas de boa qualidade; com um sistema de segurança pública que realmente funcionasse, etc, etc, etc. Outra coisa que me espantou foi quando o distinto Governador distribuiu "bananas" para quantos fossem contrários a essa nova lei. Ora, todos nós sabemos muito bem que a democracia plena pressupõe aceitarmos a diversidade de opiniões, mormente num assunto tão banal como a comercialização das bananas. Agora, o Governador Serra não aceitar opiniões contrárias e ainda por cima mandar "bananas" para quem não concorda com seus pensamentos sem dúvida fica bem "ditatorial". E já que estarei sujeito a receber uma "banana", mas coerente com meu pensamento, permito-me dizer que não sou a favor e nem contra; apenas acho o assunto irrelevante.
As "brilhantes" leis do governador paulista, depois que causou polêmica no País com a proibição do cigarro em ambientes fechados continuam a ser assinadas. Tomado pelo espírito moralista de Jânio Quadros, o governador José Serra também sancionou outra, já publicada no “Diário Oficial”, na qual a compra e a venda, o fornecimento (mesmo que seja gratuito) e o consumo de bebidas alcoólicas são proibidos nas escolas e faculdades técnicas da rede estadual de São Paulo. A nova regra se aplica inclusive aos estudantes que já são maiores de idade e aos eventos promovidos pelas instituições de ensino fora de suas dependências. Com isso, é o fim do quentão e do vinho quente, muito comuns nas festas juninas realizadas pelas unidades de ensino. O veto também se estende a bailes, festivais e até formaturas. De acordo com a Casa Civil, o governo ainda vai analisar se o veto será aplicado também às universidades estaduais, como a USP, a Unesp e a Unicamp. Em um primeiro momento, a tendência é que não seja aplicado, por conta da autonomia administrativa das universidades. Ficam de fora da proibição também as escolas particulares e as das redes municipais. Ou seja, pagou a escola, pode beber a vontade. Pobre fica sem bananas, que passa a ser fruta de rico e sem a tradicional festa junina. Comentam que a próxima lei a ser assinada pelo governador tucano será a venda de ovos por quilo. Será? Tudo para assegurar a proteção ao consumidor. No caso das bananas, penso que deveriam vendê-la sem cascas, assim o pobre coitado não paga o que não vai comer. Seria mais justo. Falta ao Senhor José Serra proibir churrasquinho de gato, sanduíche de metro, pizza por pedaço, café de coador… Só não pode proibir a coxinha de padaria, aí a PM derruba o moço. Rinha de galo e biquíni na praia como o fez Jânio Quadros, nem pensar, Serra gosta de novidades. A questão é até onde e o que mais vai se proibir.

Começou com o cigarro e a apelação para que os fumantes sejam delatados, como se fossem marginais, depois com a dúzia de bananas, agora a bebida e vai-se tomando gosto pela proibição… Vivemos num mundo intolerante, onde o "politicamente correto" impera sem que as pessoas se questionem sobre os limites da invasão do Estado na sua vida privada, sem que a sociedade questione ou se pergunte qual será o próximo passo. De proibição a proibição vamos caminhando por atalhos perigosos, a utilização da justiça e da lei como controle total das distorções sociais via autoritarismo e truculência tendo como desculpa uma pseudo moralização. Imagine este homem com poderes de Presidente... Vade retro!
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Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

UMA OBRA QUE TRAFEGA NA FRONTEIRA DA AUTO-AJUDA E MEXE COM OS SENTIMENTOS

“Mackenzie, já faz um tempo. Senti a sua falta. Estarei na cabana no fim de semana que vem, se você quiser me encontrar.
Papai”
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Mackenzie Allen Philips recebeu este estranho bilhete, convidando-o a voltar à cabana onde, há quatro anos, Missy, sua filha mais nova, foi assassinada, durante férias familiares nas montanhas. Deprimido, ainda tomado por grande tristeza e sentimentos de culpa e revolta e ignorando alertas de que poderia ser uma cilada, ele viaja numa tarde de inverno e volta ao cenário de seu pior pesadelo. O que encontra lá muda sua vida para sempre. Num mundo em que religião parece tornar-se irrelevante, "A Cabana" invoca a pergunta: "Se Deus é tão poderoso e tão cheio de amor, por que não faz nada para amenizar a dor e o sofrimento do mundo?" As respostas encontradas por Mack estão no livro. Leia e avalie.
Um acidente levou o canadense William Young e seu livro "A cabana" (Editora Sextante) ao topo da lista de mais vendidos no Brasil e nos Estados Unidos. A obra sequer foi escrita para ser publicada. Segundo o autor, a fábula do encontro de um homem com Deus no mesmo lugar onde sua filha caçula foi brutalmente assassinada, foi escrita para ser dada de presente de Natal aos filhos.
Young esclarece: “Minha mulher me pediu para escrever uma história como um presente. Não tive dinheiro para imprimir o manuscrito no Natal de 2005. Mas consegui fazer 15 cópias de "A cabana" para entregar à família e amigos próximos. Era este o único objetivo. Muito da minha história está no livro”, lembrou o autor, canadense de nascimento que cresceu em Papua Nova Guiné, com seus pais missionários e estudou religião em Oregon, nos Estados Unidos. As crianças, como ele esperava, não se entusiasmaram muito. Mas alguns amigos leram imediatamente e começaram a repassar o livro para pessoas próximas. Young começou a receber e-mails de pessoas que nem conhecia dizendo que o livro impactara suas vidas. Ele decidiu enviar uma cópia de "A cabana" para um escritor que conhecia, que repassou o livro para dois produtores de cinema, Wayne Jacobsen e Brad Cummings.
Após um encontro entre os produtores e Young, a história de Mackenzie Allen Philips foi reescrita quatro vezes em 16 meses até que a versão final foi enviada a 26 editoras norte- americanas, metade delas religiosa. A maioria sequer respondeu. Young explica que as editoras cristãs acharam o livro herético. Já as que não eram religiosas acharam que havia muito Jesus. “Tínhamos um livro e nenhuma editora o queria”.
Então Jacobsen e Cummings criaram uma editora só para lançar "A cabana" nos EUA. Resultado: há mais de 20 semanas, o livro está na lista dos mais vendidos do jornal "The New York Times". Um fenômeno de público causado pelo marketing do boca-a-boca. A obra Já foi traduzida para 36 idiomas e, segundo o autor, vendeu em todo o mundo milhões de exemplares.
O livro foi escrito após William Young ter sofrido a perda de sua sobrinha e de seu irmão. O autor conta que também sofreu abuso sexual quando tinha quatro anos. Sua relação com o pai é complicada, assim como a de Mackenzie, no livro.
“Mack sou eu. Mas o que ele vive no livro em um fim de semana foi um processo que eu vivi em 11 anos.”
No livro, anos após o sequestro e a morte de Missy, sua filha mais nova, Mack recebe um bilhete misterioso marcando um encontro na cabana onde a menina foi assassinada. Ele vai e passa um fim de semana com a Santíssima Trindade. Contrariando todas as expectativas do personagem, Deus se personifica como uma mulher negra, grandona, de sorriso cativante, cozinheira de mão cheia. O Espírito Santo é uma chinesa ou mongol multicolorida, esvoaçante e volátil que cuida do jardim. Jesus é um bondoso jovem do Oriente Médio que conserta e constrói coisas. Todos pregam a igualdade, o fim das hierarquias, a liberdade e são contra a culpa, as regras e as instituições. É uma visão bastante libertária do amor, do perdão, da redenção, do sagrado e do humano.
“A cabana” é uma obra que trafega na fronteira da auto-ajuda, não apresenta força estilística que lhe empreste valor literário e nem seduziu a crítica. Mas caiu nas graças dos leitores porque comove, intriga e mexe com alguns sentimentos, emoções e crenças que causam constante perplexidade e sofrimento ao ser humano.
Avaliem a cena: um homem deprimido e revoltado por causa do assassinato da filha pequena tem a oportunidade ímpar de discutir seus ressentimentos com ninguém menos que Deus, em tríplice encarnação: Deus pai se manifesta como uma acolhedora dona-de-casa negra (parece uma mistura do misterioso Oráculo, da série Matrix, com a ama carinhosa de E o Vento Levou...), o Espírito Santo é uma diáfana e colorida mulher oriental e Jesus é um jovem carpinteiro que faz piada sobre o próprio narigão judaico...
Enfim, “A cabana” poderá ser, além de uma agradável e surpreendente história de consolo para o sofrimento imposto a um homem que perde uma filha e a esperança, também um exercício de reflexão sobre amor, culpa, ressentimento e perdão.
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*Nivia Andres, jornalista, graduada em Comunicação Social e Letras pela UFSM, especialista em Educação Política. Atuou, por muitos anos, na gestão de empresa familiar, na área de comércio. De 1993 a 1996 foi chefe de gabinete do Prefeito de Santiago, Rio Grande do Sul. Especificamente, na área de comunicação, como Assessora de Comunicação na Prefeitura Municipal, na Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS), no Centro Empresarial de Santiago (CES) e na Felice Automóveis. Na área de jornalismo impresso atuou no jornal Folha Regional (2001-06) e, mais recentemente, na Folha de Santiago, até março de 2008.
Blog da Nivia Andres:
http://niviaandres.blogspot.com/
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domingo, 20 de setembro de 2009

DURA CONSTATAÇÃO: ESPÍRITO ESPORTIVO NA ATUALIDADE É DO VALOR DO CHEQUE

Quando o Barão de Coubertin criou as Olimpíadas Modernas jamais imaginou que o espírito das competições e dos competidores chegasse a ficar atrelado intrinsecamente aos valores monetários e que a conta bancária dos competidores determinasse empenho de cada concorrente. De uns anos a esta parte centenas de atletas, nas mais diferentes modalidades, foram flagrados no exame antidoping, recurso utilizado para aumentar a resistência e, assim, levar o competidor à vitória, mesmo comprometedora.
Há muitos anos, talvez até a década de 70, o doping era aplicado em cavalo de corrida e, nesses casos, o flagra tirava do vencedor da prova o prêmio consagrado aos melhores. Com o passar do tempo descobriram que o ser humano também poderia render mais com alguma substância especial injetada no organismo, via oral ou venosa, e assim obter vantagens sobre os demais concorrentes. Com isso, os inocentes e gratificantes esportes olímpicos rechearam o noticiário esportivo e policial de notícias envolvendo atletas dopados. No futebol, eram raros os casos de alguém que se submetesse a esse tipo de artifício para alcançar a vitória em campo. Afinal, nesse esporte seria necessário dopar 11 jogadores mais os reservas, missão considerada supostamente impossível. No entanto, já na década de 70 descobriram que "rebitando" um ou dois a coisa poderia pender para o time necessitado da vitória e de algumas cobaias (jogadores) ávidos pela fama urgente, porém efêmera. Falcatruas descobertas, atleta e clube punidos. A Fifa, entidade que comanda o futebol mundial, cujo poderes se assemelha aos da ONU e a mais rica de todas as instituições do planeta, é implacável com os dopados e aplica rigorosas punições que chegam até a eliminação dos infratores desse quesito. Mesmo assim, no futebol, pipocam casos de dopados com esta ou aquela substância considerada pelas leis esportivas como doping.
No milionário e sofisticado circo da Fórmula 1, as manobras, sem trocadilho, não são diferentes. Nos últimos cinco anos as maracutaias, ao menos as que vieram a público, deixaram ruborizados os adeptos de dom Corleone, coronel da máfia mundial nos anos 30. O brasileiro Rubens Barrichello teve que puxar o freio de mão para Michael Schumacher ganhar uma corrida na Europa e Nelsinho Piquet, por sinal outro brasileiro, concordou em bater o carro para dar a vitória ao seu companheiro de equipe, o espanhol Fernando Alonso. No primeiro caso, alegaram cumprimento de contrato entre Barrichello e a Ferrari, que tinha como primeiro piloto o alemão, portando com prioridade sobre o espírito esportivo da competição. No segundo, amplamente divulgado nos últimos dez dias, custou a cabeça de dourados caciques donos do circo e a "morte" prematura do menino. Nelsinho afundou e respingou a lama da malandragem no pai, Nelson Piquet, orgulhosamente detentor de dois títulos mundiais, também da Fórmula 1.
Voltando ao futebol, paixão maior do brasileiro, os clubes vendem mando de jogos; o torcedor é relegado a simples contribuinte; a televisão monta a tabela com datas, horários e locais de acordo com seus interesses; o Ministério Público e a Polícia determinam quantos e quem pode ir ao estádio; as uniformizadas ocupam pela truculência os melhores lugares; e o Estatuto do Torcedor, elaborado para fazer prevalecer o direito do apaixonado por este esporte, é simplesmente "letra morta".
Apenas para lembrar, somente este ano vários clubes infringiram a regras: O Oeste de Itápolis inverteu o mando de jogo com o Santos e atuou no Pacaembu quando a partida seria em Itápolis; Palmeiras e Corinthians jogaram duas vezes em Presidente Prudente; o São Caetano enfrentou o Corinthians em Rio Preto; o Santo André jogou com o Palmeiras em Ribeirão Preto e agora o mesmo Santo André inverte o mando e também joga com o São Paulo em Ribeirão Preto. Tudo na contramão do que determina o Estatuto do Torcedor. Enfim, mudou a década, o século e o milênio e, por imposição da globalização e da modernidade, decretaram a morte do espírito esportivo, simplesmente substituída pelo valor monetário e pelo impulso que a vitória possa dar à conta bancária do atleta e seus patrocinadores.
A menina Jade Barbosa, 15 anos, que sonhava com substanciais medalhas douradas nos próximos jogos olímpicos, segue vendendo camisetas no Rio de Janeiro para juntar trocados que possam, ainda, salvar seus puros e inocentes devaneios juvenis de um dia subir ao pódio com o ouro balançando orgulhosamente ao lado de seu coração de menina. Pelos rumos tomados pelo esporte, em todas as modalidades, certamente o Barão de Coubertin, está em pé no sepulcro em que jaz, incrédulo pelos atalhos tortuosos que norteiam o espírito olímpico.

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Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin .
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Educador francês nascido em Paris, no dia 1º de janeiro de 1863, o principal idealizador e um dos fundadores dos Jogos Olímpicos modernos. Descendente de uma família nobre, cujos antepassados receberam o título de nobreza (1471) durante o reinado de Luís XI. Quase um século depois, um de seus ascendentes adquiriu o Senhorio de Coubertin, perto de Paris (1567), que se tornou o nome de nobreza da família. Formando na Universidade de Ciências Políticas, optou pelo ideal pedagógico em vez da carreira militar e dedicou-se à reforma do sistema educacional francês. Mesmo sem ser um atleta, apresentou na Universidade Sorbonne, em Paris, um estudo sobre Os exercícios físicos no mundo moderno (1892) e mostrou o projeto de recriar os Jogos Olímpicos. Apesar da pouca repercussão, não desistiu e, dois anos depois, numa convenção internacional realizada na própria Universidade de Sorbonne, conseguiu (1894) a promessa dos gregos de abrigar os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna. Naquele mesmo ano foi criado o Comitê Olímpico Internacional, o famoso COI, com o objetivo de organizar a cada quatro anos uma nova edição dos Jogos, promovendo, assim, a união entre os países. Certo de que a Grécia havia atingido o domínio da Idade Antiga por causa do culto ao corpo e ao esporte, o barão passou a pregar a realização dos novos jogos, passando pelos Estados Unidos, Inglaterra e Prússia tentando fortalecer a difícil idéia. Assim, os Jogos Olímpicos renasceram, após quase 16 séculos depois da proibição de sua realização (393) pelo imperador bizantino Teodósio I, cuja primeira edição foi marcada para a cidade de Atenas (1896). Sem financiamentos oficiais, a organização da competição, a preparação a cidade, a construção do estádio e de um hipódromo para a disputa, tornou-se possível graças a uma generosa contribuição do bilionário arquiteto egípcio Georgios Averoff. Com o Barão de Coubertin como presidente do COI e com a colaboração do grego Demetrius Vikelas (1835-1908), no dia 6 de janeiro (1896), finalmente a chama olímpica pôde brilhar novamente e recomeçavam os Jogos Olímpicos, com a presença de 311 atletas não profissionais nas disputas, representando de 13 países. Esse histórico desportista gastou praticamente toda sua fortuna para colocar em prática o sonho da Olimpíada. Deixou a presidência do COI (1925) e morreu aos 74 anos, pobre e isolado, em Genebra, na Suíça. Posteriormente, como forma de reconhecimento, seu coração foi transportado para Olímpia, onde repousa até hoje em um mausoléu. Curiosamente seu lema O importante não é vencer, mas competir, e com dignidade, não é de sua autoria e teria sido criado pelo bispo de Londres em um ato religioso (1908).
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Oswaldo Lavrado é radialista e jornalista radicado no Grande ABC.
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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ESPECIAL: INCRÉDULOS DE MÁ VONTADE

Cada vez mais verificamos que o materialismo é a “religião” predominante na população das classes mais favorecidas que habitam nas grandes cidades em todo o mundo, apesar das seitas orientais e religiões outras, proliferarem. Muitas das orientais, pregando inclusive a reencarnação e a razão do porquê de aqui voltarmos muitas vezes, chamando a isso de carma. Muitos se envolvem com o misticismo de ambas as orientações espirituais, visando sempre o seu egocentrismo e por atenderem, principalmente, aquilo que mais desejam, ou seja, o seu bem estar.
Para isso os meios de comunicação aí estão com seus apelos consumistas exagerando na dose (fato reconhecido por eles mesmos recentemente). Os noticiários exibidos na televisão, nos jornais, revistas, etc. nos mostram, todos os dias, adolescentes e adultos oriundos de famílias de poder aquisitivo alto, envolvendo-se em crimes das mais variadas espécies, principalmente os de contra o patrimônio e tráfico de drogas. Outros ainda, por não acreditarem ou por serem incrédulos de má vontade, prejudicam os mais ingênuos e fracos por estarem em situação de poder, pois acham que a vida termina com último fechar de olhos.
No capítulo III, item 22 do Livro dos Médiuns – Traduzido da Quarta Edição Francesa por Eliseu Rigonatti em 1966 - Edição Especial- Editora Lumem –, Allan Kardec diz: “Ao lado dos materialistas propriamente ditos, há uma terceira classe de incrédulos que, apesar de materialistas, ao menos de nome, não são menos refratários; são os incrédulos de má vontade. Estes se desgostariam de crer porque isso lhes perturbaria o sossego nos gozos materiais; temem ver nisso a condenação de sua ambição, de seu egoísmo e das vaidades humanas das quais fazem suas delícias; vedam os olhos para não ver e tapam os ouvidos para não ouvir. Não podemos senão lamentá-los”.
A falta de religião na educação de nossos filhos, principalmente nas duas últimas gerações, teria sido uma das causas desse estágio conflitante entre o crer com fervor na Divindade e o viver que a Porta Larga mencionada no Evangelho menciona.
“Não Ouço”, “Não Falo”, “Não Vejo”, estas frases tradicionais nas figuras dos três macacos, poderia ser acrescentada de “Não Penso” (mais um macaco), pois o ser humano cego e surdo aos apelos do Evangelho se envergonha ou se submete a velha história da carochinha, “O Rei está Nu”. Para os que não sabem, dois vigaristas vendem ao rei um tecido invisível e o convencem de que só as pessoas inteligentes veriam o tal pano. O rei, vaidoso e ignorante, compra o tal tecido pagando uma fortuna por ele. Seu séqüito, composto de inúmeras pessoas, também é envolvido pela trama dos velhacos, pois todos tem medo de serem chamados de ignaros. Assim, os alfaiates “fazem” uma roupa que será usada no desfile anual do reino, tendo a frente o Rei. Chega o grande dia! Os súditos do reino, a par das “propriedades do tecido”, lotam ambas as margens da alameda. Todos na verdade vêem que o Rei está nu, mas o medo de serem chamados de estúpidos faz com que calem a boca. Mas, eis que surge a verdade! Uma criança na sua inocência grita: "O Rei está Nu!"
Assim, meus irmãos, um dia todos nós veremos a nudez da mentira e constataremos que a verdade nos foi ensinada há dois mil anos quando recebemos de Jesus os ensinamentos para que pudéssemos ter uma vida segura e evoluir cada vez mais até atingir o estágio a que todos nós estamos destinados.
Cientistas de várias partes do mundo já constaram a existência da vida após a morte e continuam sua busca para provar de uma maneira eficaz que a nossa existência verdadeira é em forma de espírito que vive liberto, fora do corpo carnal. Já provaram que mente é cérebro são coisas diferentes. Mas para que o mundo saiba disso é necessário que a mídia materialista se envolva no assunto de maneira absoluta. Bastaria essa mídia se perguntar por que as sociedades médicos-espíritas estão se espalhando pelo mundo e qual a razão dos seres humanos serem tão diferentes uns dos outros. Quando isso acontecer, escutaremos o “Rei está Nu”.
Recentemente, assisti ao filme “Minha Vida na Outra Vida”. Uma história que é baseada em fatos reais. O enredo começa nos Estados Unidos e termina na Irlanda. Uma mulher “sonha” com fatos de uma encarnação passada. Sua agonia a leva até a Irlanda onde busca descobrir onde se encontra a sua família daquele pretérito. Sua família atual fica preocupada, pois mesmo acordada a heroína do filme se desliga, ou seja, fica em estado sonambúlico e vê quadros vivenciais da outra existência. Finalmente, descobre: sua missão é unir todos os filhos que teve naquela vida. Havia desencarnado em 1938 e seus filhos se espalharam por razões que os que assistirem ao filme descobrirão. Há uma passagem nesse filme que ilustra este artigo, daí mencioná-lo. Um sacerdote na Irlanda, interrogado a respeito da reencarnação, responde não acreditar nesse fato, mas que, em certas ocasiões Deus permite que em casos especiais aconteça um milagre e um espírito se manifeste através de uma pessoa para comunicar algo importante. Mesmo tendo todas as provas: a história, o túmulo, a família da desencarnada, etc. o religioso recusa-se a ver, escutar e a raciocinar.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, escrevendo crônicas, contos, artigos e matérias especiais. Contato com o jornalista pelo e-mail:
jgarcelan@uol.com.br

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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

NO BLOG - EXISTE VIDA DEPOIS DA MORTE?

NESTA SEXTA-FEIRA, ARTIGO ESPECIAL
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DE J. MORGADO.
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VOCÊ VAI ACOMPANHAR E COMENTAR:
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"INCRÉDULOS DE MÁ VONTADE".

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

QUANDO O INIMIGO ESTÁ DENTRO DE CASA NÃO TEM FECHADURA QUE EVITA O CRIME

OSWALDO LAVRADO

ANJOS PERDENDO A INOCÊNCIA
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O cotidiano do noticiário de rádio, televisão, jornal e revistas têm sido recheados nos últimos tempos com um tipo de crime talvez mais antigo que o zagaia, mas que somente agora, em virtude da ampla divulgação pela imprensa, parece despertar a consciência da população. Trata-se da agressão sexual contra crianças e adolescentes, cuja evolução das denúncias tem causado preocupação e indignação a sociedade brasileira. Para proteger os menores, de ambos os sexos, foi criado há cerca de 20 anos o Estatuto das Crianças e do Adolescente, o famigerado ECA, que não proteje, não defende e não ampara coisa alguma. O conteúdo em si é bom, porém a ineficácia da fiscalização torna impotente sua aplicação. Tratando-se exclusivamente de Brasil, que aqui é o caso, a questão cultural tem relevância fundamental na prática da pedofilia, consentida ou não. Quando uma criança ou adolescente é atacado e o crime denunciado, a indignação é imediata e o agressor, via de regra escapa de um linchamento e, invariavelmente, vai parar na delegacia mais próxima. Se for condenado, isso já é outra história, uma vez que a sonolência da caolha Justiça arrasta por anos o antes rumoroso crime.O noticiário e as estatísticas tem comprovado que a maioria dos casos de pedofilia acontece dentro da casa do menor atacado. Meninos e meninas são violentados pelos pais e convivem com isso por anos, em aterrorizante silêncio.Pais sodomizam filhos, irmãos mais velhos atacam os mais jovens, primos violentam primos, padrastos avançam em enteados, tios sobre sobrinhos e avôs abusam de netos, isso em ambos os sexos. O drama cria proporção dantesca, já que o crime é praticado no seio da família e por falta de denúncia fica confinado entre quatro paredes. Mais intrigante ainda é a ausência de notícias de casos de adolescentes atacados por mães, tias e madrastas. O noticiário não tem registro de situações similares. Não se ouve, não se lê e muito menos se vê nos meios de comunicação que a mãe é acusada de pedofilia com o filho ou a filha, nem que "o menino de 7 anos foi estuprado pelo próprio irmão". Isso acontece com frequência, porém os casos não chegam aos Conselhos Tutelares, delegacias ou na mídia, mesmo naquela ávida por sensacionalismo. Geralmente as vítimas não denunciam por coação, ameaça, medo e temor ao risco de desestruturação familiar. Para enumerar os abusos sexuais a menores que acontecem no seio da própria família seriam necessárias várias edições deste vitorioso blog.
Apenas para registrar um caso tenebroso, um delegado de polícia da Região do ABC Paulista, cujo nome fica preservado por motivos óbvios, revelou, em certa ocasião, o caso de um pai que mantinha relações sexuais há algum tempo com o filho de 13 anos e exigiu que o menino "aliciasse" um executivo de banco, de 45 anos de idade e casado. O objetivo era, consumada a transa, extorquir o executivo sob ameaça de denunciá-lo à polícia ou ao Conselho Tutelar. E assim foi. O garoto, boa aparência, se insinuou ao homem que acabou atraído e tendo relações sexuais com o menor. Autor do plano, adrede preparado e em combinação com o garoto, o pai flagrou o executivo transando com o menino na própria casa. A tática funcionou. Ameaçado de denúncia, o executivo não teve alternativa a não ser calar a boca dos denunciantes com certa quantia em dinheiro, cujo valor aumentava com o passar do tempo. Certo dia, revoltado com os estupros praticados pelo pai e após ter levado uma surra por ter recusado uma transa com o genitor, o adolescente foi procurar o executivo e propôs uma aliança para denunciar o pai. Assim foi feito. Ambos foram à delegacia, cujo plantonista era o delegado nosso amigo, que ouviu do menor e do executivo toda a confusa e inusitada história. O delegado mandou chamar o pai do rapaz, que tentou negar as acusações, mas diante das testemunhas, acabou confessando a trama engendrada por ele e foi preso na hora. O executivo foi apenas denunciado e liberado para responder o processo em liberdade, uma vez que o delegado entendeu ter sido ele vítima de uma trama diabólica de um degenerado, no caso o pai do menor de 13 anos, que gastou uma "grana preta" com advogados, não conseguiu safar-se da condenação e perdeu de vez o filho.
Essa história, contada pelo delegado há alguns anos, sugere que quando o bandido está dentro de casa não há fechadura que evite o crime. No caso da pedofilia, os ataques em sua imensa maioria acontecem no mais absoluto sigilo, entre atacante e atacado, e geralmente fica confinado ao espaço familiar. Isso acontece há anos nas capitais, pequenas cidades, no agreste, na periferia, nos templos religiosos, nos abrigos para menores, nas escolas, favelas, cortiços, chácaras, sítios, fazendas, casas de praia e luxuosas mansões. A luta do Governo contra a pedofilia parece não estar tendo resultado, e os anjos continuam perdendo sua inocência e infância para atender aos desejos patológicos dos mais velhos. Denunciar um ente querido - filho, pai, mãe, irmão, padrasto, avô, tio ou primo - requer muito mais que coragem; é necessário possuir espírito de renúncia e é aí que o bicho pega.
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*OSWALDO LAVRADO é jornalista e radialista na Região do ABC Paulista.
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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

RIO PARAGUAI: DOURADO FRITO E CERVEJA

J. MORGADO
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Ferroada de Arraia
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Lá estávamos nós "arranchados" em uma casa abandonada na margem direita do Rio Paraguai. Adiante pouco mais de duzentos metros o grande corixão “Paraguai-Mirim”. A paisagem pantaneira era um colírio para nossos olhos. Pela manhã escutávamos os bugios com seus gritos roucos, uma espécie de cantochão. Os aracuãs alegravam a mata com seu canto onomatopaico – Aracuã, cuã, cuã, cuã... Aves multicores pintavam todo o espaço. Depois do café da manhã, feito no fogão a lenha, nos preparamos para uma pescaria de dourados. Iscas artificiais (colheres), varas, carretilhas e molinetes e toda uma parafernália para se fazer esse tipo de pescaria, a de corrico. Os dourados estavam a nossa espera.
Final de agosto. Estava frio. Agasalhados, Eu, Pezão e Paulo aguardávamos o piloteiro preparar o barco. Ao longe, avistamos uma canoa se dirigindo para “nossa casa”. Reconhecemos o velho Justino que já nos havia visitado. Figura estranha e misteriosa esse pantaneiro; beirando os setenta anos, morava em alguma tapera na margem do rio. Barba e cabelos longos, escondidos sob um chapéu maltratado, seus braços raquíticos remavam com energia. Em conversa anterior eu tentara interrogá-lo sobre sua origem e ele, evasivamente fugia da resposta. Naquela época (início da década de 70), esses caboclos moradores nas margens dos rios do Pantanal eram totalmente desprendidos. “Casavam” (ou juntavam) e ai surgia uma numerosa família. Uma choça, um fogão de barro, jiraus, redes para dormir... Era tudo do que precisavam.
Pela manhã, o chefe da família saia com sua canoa, vara de pescar e rodando rio abaixo apanhava dois ou três pacus de bom tamanho. Um seria para a alimentação da família e o outro (os) seria para vender na vila ou cidade. Com o dinheiro comprava o querosene para iluminação, farinha, banha... E assim iam levando a vida modorramente.
Justino apoitou a canoa e com voz tímida nos cumprimentou. Tomou o café que lhe oferecemos e sua atenção se voltou para uma canoa meio enterrada no lodo do rio. Sua intenção era recuperar a embarcação. Calças arregaçadas até o meio da canela rodeou o barco. De repente, um grito de dor! O velho havia pisado uma arraia e por ela sido ferroado. Terrível esses acidentes! Dizem que a dor é insuportável e geralmente duram 24 horas. Ali naquele sertão existem muitas crendices e remédios para se amenizar as consequências ocasionadas pelo veneno expelido pelo ferrão com cerca de 10 centímetros em forma de faca serrilhada. Um desses remédios depende muito da boa vontade de uma mulher. A parte ferida (geralmente o calcanhar) deve ser introduzida entre as pernas (bem junto ao sexo) da voluntária. Dizem que o remédio é “milagroso”. No caso do Justino, o remédio fomos nós. Embarcamos o pantaneiro na nossa “voadeira” e rumamos para o hospital de Corumbá. Os peixes poderiam esperar.
Dias depois, o velho voltou. Agradeceu nossa ajuda e partiu para seu lar. O barco enterrado na lama, ali ficou.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, escrevendo crônicas, contos, artigos e matérias especiais.
Contato com o jornalista pelo e-mail:
jgarcelan@uol.com.br
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terça-feira, 8 de setembro de 2009

PAIS SEM FILHOS... FILHOS SEM PAIS

OSWALDO LAVRADO
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A maioria dos brasileiros sensatos, verdade, não são muitos, demonstra séria preocupação com o futuro das crianças - libertas num 7 de Setembro às margens plácidas do Ipiranga - que irão, mais à frente, dirigir nossa nação. Seria maravilhoso encontrar o ponto de equilíbrio desta geração, não fosse utópica e, em muitos casos, hipócrita a cantilena dos que apenas apontam o cisco em olho alheio, mas recusam-se a soprar. Não fica difícil constatar que na atualidade qualquer recanto tupiniquim conta com considerável número de pais e mães, cuja idade não supera os 18 anos. Também não é complicado perceber que nesses casos, a situação econômica dos neófitos pais é, em sua grande maioria, paupérrima e degradante. Nesse contexto, como criar as próximas gerações como pessoas íntegras, cultas, inteligentes, comedidas e de moral ilibada para substituir os que estão no balaio atual e que comandam a nação? Certamente, fome, pobreza, falta de cultura e expectativa de futuro não serão alavancas para lapidar caráter e dignidade. Os presídios e as ditas casas de recuperação de menores (as antigas Febens e atuais Fundação Casa) com gente saindo e entrando pelo ladrão (sem trocadilho), comprova que a rigidez familiar na conduta e comportamento da juventude não é a principal preocupação dos pais da geração atual. O problema é muito mais amplo e angustiante
para que apenas uma "penada" governamental resolva a curto, médio e, sem ser muito pessimista, longo prazo. Como exemplo, que não poderá ser considerado caso isolado, basta lembrar o caso da menina morta por uma bala perdida, semana passada, na favela Heliópolis, a maior de São Paulo e aqui pertinho do ABC. A garota, estudante é verdade, mas com apenas 17 anos, estava grávida. Atentem para o noticiário do cotidiano, nas ações policiais, quantas meninas na faixa 14/20 anos carregam vários rebentos, alguns nos braços, outros no ventre. Todas, sem exceção, vivendo na mais completa penúria.
Lembro, apenas como ilustração, ou constatação, de três irmãos que conheço. Eles "olham" carros na Avenida Kennedy, point noturno de São Bernardo e bem próximo ao prédio onde resido. Por motivos óbvios, os nomes dos meninos serão omitidos, mas eles residem com a mãe, que tem apenas 35 anos, (o pai, não sabem onde anda) num barraco na favela Imigrantes, uma das mais carentes e degradadas de São Bernardo. O
mais velho, agora com 18 anos, me disse no final de 2007: "Cara tô feliz da vida, ontem nasceu meu filho". A mãe é uma menina de 16 anos, moradora num casebre na mesma comunidade. Em meados de 2008, o outro irmão, então com 17 anos, também alardeava que há dois meses era pai de uma menina, resultado de uma relação com uma garota de 14 anos. Por fim, há questão de um mês, encontrei o terceiro irmão agora com 16 anos. Orgulhoso, disse que seu filho nasceu há dez dias. A mãe, segundo ele, tem 14 anos. "È, mano, sou "home" e se meus irmãos têm filhos eu também sou pai", disse todo feliz. "Parabéns" limitei-me a dizer e, por acaso, haveria alternativa?
Nos três casos, os meninos justificaram: "sou homem cara, e pretendo dar aos meus filhos o que nunca tive: brinquedos, roupas boas, estudo e uma vida diferente da minha". O trio, como disse acima, "cuida" de carros na Kennedy somente as sextas, sábados e domingos à noite (nos outros dias não fazem nada) e apenas um deles completou o ensino fundamental. Falam em carros, motos, andam com celular a tira-colo (mesmo sem crédito) e demonstram não estar preocupados com mais nada a não ser
com o momento em que precisam batalhar o pão de cada dia. São solidários, já que dividem o diminuto espaço do barraco com a mãe, avó de seus rebentos. Os filhos dos três garotos estão com a família das respectivas mulheres, adolescentes como eles e igualmente paupérrimas.
Este relato dos meninos reflete a atualidade da criança e do adolescente brasileiro, que mutilam a infância e a juventude e abreviam a maturidade por absoluta falta de conhecimento e orientação familiar, cujos pais, causa e efeitos de uma geração também desequilibrada, deixam, como legado consciente, filhos sem nenhum piso sustentável. Em todos os rincões desta Nação, existe este quadro desalentador. Nas grandes áreas metropolitanas as armas e as drogas auxiliam, em sentido inverso, os meninos e meninas suportarem a ausência dos pais, mas no agreste e caatingas a fome amarra o respeito dos filhos aos genitores. A estrutura social, mambembe e flexível desde país, oriunda de um passado que congrega pelo menos mais duas gerações, sugere que a tendência é conduzir os filhos dos filhos dos filhos ao patamar mais baixo da dilapidação do caráter, humilhação e dignidade.
O garoto mais velho do relato acima está preso num dos CDPs - Centro de Detenção Provisória - aqui na Grande São Paulo, e seu terceiro filho, fruto de relações com uma segunda mulher nas visitas íntimas na cadeia, nasceu há questão de um mês. Consequência de um assalto a mão armada, o rapaz foi condenado a 8 anos de prisão.
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Oswaldo Lavrado é jornalista e radialista na região do ABC Paulista.
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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O BRASIL COBERTO DE VERDE E AMARELO

ACABOU O PATRIOTISMO?


Dia da Pátria. Dia da Independência. É decepcionante constatar a cada ano a falta de entusiasmo do povo brasileiro nesse dia. Não mais se vê pelas ruas crianças agitando bandeiras, com as cores do pavilhão nacional adornando os cabelos! As moças não mais se interessam em aplaudir os garbosos militares em seus trajes de gala. Triste saber que a maioria do povo brasileiro desconhece o que se festeja no dia 7 de setembro. E são poucos aqueles que sabem cantar, pelo menos a primeira parte, do Hino Nacional. O que fizeram com o nosso patriotismo? Por que não há mais nas escolas as aulas de Moral e Cívica? Aonde foram parar os famosos cadernos "Avante" contendo o Hino Nacional na contracapa? Dia da Pátria, Dia da Independência. O nosso País passa por momentos difíceis. Falta amor ao próximo, mata-se por brincadeira, maldade ou por motivos fúteis. Não se escolhe cara, nem condição social; a falta de Deus e de patriotismo é geral. Nos meus velhos tempos de estudante, só eram iniciadas as aulas depois que todos os alunos assistissem ao hasteamento da Bandeira brasileira, do Estado, do colégio e de nossa querida Capital, ao som deste belíssimo Hino Nacional Brasileiro. Com certeza Deus iluminou a mente dessas figuras exponenciais: Francisco Manuel da Silva e Joaquim Osório Duque Estrada, para comporem este inigualável hino que, sem bairrismo nenhum, é o mais bonito do mundo. As autoridades do nosso País deveriam inspirar-se nesses dois monstros sagrados para governarem o Brasil.
Triste exemplo da falta de patriotismo foi dado na cidade de Franca. Leila Haddad, secretária de Educação, não sabe as razões que levaram as escolas e demais instituições a desistirem de “descer” a avenida. Segundo ela, não houve justificativas. “Essa notícia não é agradável para nós. Estávamos com a estrutura preparada, mas a adesão foi muito baixa e decidimos cancelar. Ficamos entristecidos porque o desfile é o maior exemplo de cidadania”, disse ela a repórter Nelise Luques, do jornal "O Comércio da Franca". Ficou nisso. Que autoridade deve ter essa secretária de Educação, não? Simplesmente aceitou o inexplicável e os desfiles foram cancelados. O Tiro de Guerra da cidade estava preparado e para não perder a oportunidade foi desfilar numa cidade perto de Franca, Restinga, frustrando toda uma população de quase 400 mil habitantes. Lamentável!
Sou do tempo em que havia dois desfiles para se comemorar o Dia da Pátria. Antes havia um grande desfile escolar. Era bonita a participação dos colégios. No dia 7 de Setembro era a parada militar com o povo na rua. Havia uma vibração estonteante, todos com a bandeira do Brasil.
Com a tão decantada “democracia” começou-se a se dizer que a parada de 7 de Setembro era coisa de militar. Deixou-se de se levar os colégios e foram colocando na cabeça do nosso querido povo que era ser atrasado ir assistir o desfile. Homenagear o País, as suas datas nacionais, não tem nada de vergonhoso nem de atrasado, pelo contrário. Se a situação econômica não é lá essas coisas, se os políticos são medonhos, se existe uma infinidade de problemas, isto não tira o mérito de constituirmos um povo e uma pátria.
Basta o povo recobrar a auto-estima e conscientizar-se de que é o legítimo senhor de seus desígnios, capaz de construir um presente mais justo e tranquilo, com os olhos voltados para o futuro, sem olvidar as glórias do passado. Assim, consolida-se o patriotismo que torna a Pátria melhor. O Brasil precisa liberta-se do medo e do complexo de inferioridade. Soltar do peito oprimido o grito de independência dos maus políticos e dos alimentadores de intenções escusas. Assumir as suas vontades e decidir os seus caminhos. O Brasil coberto de verde amarelo. Vibração, entusiasmo, orgulho de ser brasileiro, agora, só de quatro em quatro anos, na Copa do Mundo.
Vamos despertar esse gigante adormecido. Vamos extirpar as ervas daninhas dos nossos bosques que outrora tinham mais flores. Temos que transmitir de geração para geração o orgulho que temos de nosso País e ensinar nossas crianças a importância de datas. Nossas escolas precisam intensificar o ensino do civismo realizando programas que demonstrem e esclareçam algumas datas e porque são importantes para nós brasileiros. Cantar o Hino Nacional é cantar o nosso próprio orgulho em ser brasileiro, de mãos dadas com a igualdade, com a felicidade, com a alegria em viver num País sem igual, mas que precisa ser realmente para todos na verdadeira acepção da palavra. Não fujamos à luta! Salvemos a Pátria Amada!
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* Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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sábado, 5 de setembro de 2009

AVACALHANDO COM O NOSSO VERNÁCULO

NIVIA ANDRES
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PALAVRÕES "CABELUDOS" DOS POLÍTICOS

Nestes tempos bicudos, onde imperam escândalos, falcatruas e grassa a malandragem em todos os setores da vida nacional, nada mais parece chocar as pessoas. Em pleno terceiro milênio, numa época em que deveríamos pautar nossa conduta pelos valores da ética e da justiça, privilegiando as relações humanas, públicas e privadas, conservando-as nos estritos limites da cordialidade e da temperança, temos assistido, boquiabertos, na seara política, um festival de grosserias, impropérios e impropriedades linguísticas que deixariam vexados e cor-de-tomate maduro os vigilantes oficiais luso-tupiniquins do idioma pátrio em que ora nos expressamos, mal ou bem.
Senão vejamos, os dignos representantes populares no parlamento federal, desde a época do famigerado mensalão (lembram daquela esmolinha básica, mensal, que alimentava as contas bancárias de alguns deputados, para que votassem com o governo e que Sua Excelência, o presidente, teima, até hoje, bradando, alto e bom som e de pés juntos, que não sabia de nada, nadinha, nem imaginava?) Pois é, naquele tempo, em suas incursões na tribuna, os parlamentares introduziram, informalmente, na gramática da língua portuguesa, uma nova categoria de pronomes – os pronomes de tratamento ríspido, ao desancarem seus colegas, com pérolas do tipo “Vossa Excelência é um notório vagabundo, vive na jogatina!” ou “Vossa Excelência não vale nem o chão que pisa” ou, ainda “Este não vai ser o primeiro crime de que Vossa Excelência é acusado, visto sua vasta folha de delinquências, incluindo estupro, aliciamento de menores e outras patifarias do gênero”. E por aí foi a extensa troca de amabilidades entre os deputados acusados de terem recebido a dadivosa contribuição mensal que, de tão gorda, necessitava do concurso de sacolas, mochilas, malas e de outros receptáculos menos ortodoxos, como cuecas, para ser transportada...
Aliás, uma pergunta que não cala: Como estará o curso do processo do mensalão? Será que, algum dia, seus mentores e beneficiados, denominados “quarenta ladrões”, serão devidamente julgados e defenestrados da vida pública? Temos observado que o caminho é longo e cheio de atalhos, os réus são poderosos e a Justiça tem sido conivente com a bandidagem que opera na política.
O tempo passou, os ânimos serenaram para os lados da Câmara e, recentemente, o vendaval dos desmandos políticos (e linguísticos) resolveu soprar na concha do Senado Federal, por conta de mais escândalos que perigam desmanchar o feudo criado por seu atual presidente, aquele que acumula no currículo um nada secreto título de imortal, mercê de incursões de qualidade duvidosa na seara literária, envolto em marimbondos de fogo. Na ocasião, dois eminentes ocupantes de cadeiras na Casa se digladiaram por conta da defesa dos desmandos do chefe. Incomodado com aparte, senador da oposição lascou: “Você não aponte esse dedo sujo para mim”, no que foi retrucado: “Dedo sujo é o do senhor, que paga jatinho com dinheiro do Senado”. A resposta veio no ato: “O dinheiro é meu, o jatinho é meu. Não é igual ao que você anda com seus empreiteiros. Coronel, cangaceiro de terceira categoria!”, devolveu o detrator. Fora dos microfones, segundo contaram alguns colegas, veio um indignado “Coronel de merda!” E a celeuma terminou com as partes exigindo, igualmente, um “Me respeite!” Consta que o diálogo chulo, ríspido e mal-educado foi retirado dos anais. Menos mal para os senadores que a História não registre tão indigente diálogo, próprio do linguajar dos subterrâneos, não de dois políticos com assento na mais alta casa da república, mesmo que seu chão esteja tão enlameado quanto o de um pardieiro pestilento. Tragédias linguísticas e morais à parte, se não esboçou, ao menos, um leve sorriso ao ler este texto, Vossa Senhoria é um (a) rematado(a) chato(a), sem o mínimo senso de humor...
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*Nivia Andres, jornalista, graduada em Comunicação Social e Letras pela UFSM, especialista em Educação Política. Atuou, por muitos anos, na gestão de empresa familiar, na área de comércio. De 1993 a 1996 foi chefe de gabinete do Prefeito de Santiago, Rio Grande do Sul. Especificamente, na área de comunicação, como Assessora de Comunicação na Prefeitura Municipal, na Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACIS), no Centro Empresarial de Santiago (CES) e na Felice Automóveis. Na área de jornalismo impresso atuou no jornal Folha Regional (2001-06) e, mais recentemente, na Folha de Santiago, até março de 2008.
Blog da Jornalista: http://niviaandres.blogspot.com/
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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

AINDA NÃO APRENDEMOS A PERDOAR

A DUREZA MATA OS BONS SENTIMENTOS
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J. MORGADO

“E Jesus Dizia: Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” – Lucas – 23v.34. Essa frase proferida por Jesus e que consta apenas no Evangelho de Lucas, reflete bem e incontestavelmente os ensinamentos do enviado de Deus. Depois de passar todo o Código Divino aos encarregados de divulgá-lo e sofrendo com isso os martírios aplicados pelos algozes da época, que não aceitavam em dar a outra face e amar ao próximo como a si mesmo, desencarnou pregado no madeiro perdoando aqueles que julgavam ser seu inimigo e pedindo ao Pai que os perdoasse!
Deus nos criou espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento (LE, II – Capítulo 1, item 115), mas nos dotou de livre-arbítrio para que pudéssemos avançar em nossa evolução com nossos próprios méritos. Daí a justiça através das reencarnações, para que conseguíssemos aplainar do caminho percorrido os empecilhos que nós mesmos colocamos ao escolhermos a Porta Larga (Capítulo XVIII – Muitos os Chamados e Poucos os Escolhidos – A Porta Estreita, item 3 – Evangelho Segundo o Espiritismo).
Assistimos pela Televisão e lemos nos jornais e revistas fatos que estarrecem a maioria da população por não conseguirem entender como seres humanos podem chegar a cometer atos de natureza bárbara. Se nos dermos ao trabalho de pesquisarmos a história universal em todos os tempos, vamos verificar que isso acontece desde épocas imemoriais. Já tive a oportunidade de descrever através de meus artigos que o homem não consegue, ainda, se livrar do orgulho, do ciúme e todos os seus filhos diletos. Crimes mais bárbaros foram cometidos no passado, mas, vamos nos ater ao tempo em que Jesus aqui esteve nos transmitindo o Código Divino.
Quando do nascimento do Messias, Herodes, então rei da Judéia, entendeu mal os boatos de que nascera uma criança que assumiria seu reino. Não pensou duas vezes, mandou matar todos os meninos nascidos em Belém com até dois anos, daí a fuga de José e Maria para o Egito. Muitos outros fatos aconteceram em todos os tempos parecidos com esse. Nos dias de hoje as crianças são as piores vítimas das guerras. A fome, a miséria, as doenças ocasionadas pela incúria, egoísmo e indiferença dos homens são as principais causas do desencarne desses pequeninos todos os dias em nosso Planeta de Expiação e Provas. Os mais esclarecidos, no caso, supõe-se os Espíritas, entre outras doutrinas reencarnacionistas, entendem cada situação e vê em cada caso mostrado pela mídia um fato de ação e reação e lamentam que o perdão esteja totalmente ausente. Se nos dias de hoje ainda não aprendemos perdoar, imagine o leitor ao tempo de Jesus. O Código de Moisés – Olho por Olho, Dente por Dente. As Guerras de Conquista do Império Romano entre outros mais longínquos.
Cada vez que eu vejo o povo enfurecido em uma porta de delegacia com a polícia protegendo um criminoso da sanha ensandecida de uma população que se esquece que vivemos em um país cristão, lembro-me da passagem do Evangelho onde Jesus diz: “Não julgueis a fim de que não sejais julgados; porque vós sereis julgados segundo tiverdes julgado os outros; e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles” (Mateus, capítulo VII, v. 1, 21) – Veja o Capítulo X, item 11 – 12 e 13, do Evangelho Segundo o Espiritismo, edição IDE/1984.
Deus nosso Pai, enviou seu filho Jesus com a finalidade de nos mostrar um caminho seguro para que, sem tropeços, pudéssemos evoluir rumo a esferas superiores e com isso nos tornarmos úteis na construção infinita do Universo.
O amor é um sentimento que nem mesmo os dicionaristas conseguem definir com precisão. No caso, em que abordamos o Criador e Jesus, seu Enviado, o amor é algo que transcende qualquer especulação. Deus tolera nossos erros e imperfeições cometidos a todo o instante; inspira-nos ao bem 24 horas por dia. Se houver alguma pessoa que duvide disso, faça um teste. Depois de cometer um deslize qualquer, uma injustiça com uma criança, com um idoso, com o esposo (a), uma ofensa, etc., consulte sua consciência e verá que o Grande Pai lá está não lhe acusando, mas aconselhando-o!
No Capítulo XI, item 12 do Evangelho Segundo o Espiritismo, há o pronunciamento do Espírito Pascal (Sens, 1862) assim escrito: “Se os homens se amassem mutuamente, a caridade seria melhor praticada; mas seria preciso, para isso, que vos esforçásseis em vos desembaraçar dessa couraça que cobre vossos corações a fim de serdes mais sensíveis para aqueles que sofrem. A dureza mata os bons sentimentos; o Cristo não se recusava; aquele que se dirigisse a ele, quem quer que fosse, não era repelido: a mulher adúltera, o criminoso, eram socorridos por ele; não temia jamais que a sua própria consideração viesse a sofrer com isso”.
As leis dos homens ai estão para serem observadas, pois enquanto encarnados devemos criar princípios que nos mantenham civilizados. Cada ser humano deve contribuir no aprimoramento para que isso aconteça. Ao desencarnarmos, responderemos perante nossa própria consciência os erros ou falhas cometidas. Nossa vida é preciosa para Deus e Ele não nos pune porque seu amor não tem limites. Ele nos dá oportunidade de voltarmos com nossos próprios pés e limpar o caminho percorrido sem que para isso precisemos regredir em nossa evolução espiritual. Sim, evolução espiritual, pois quanto mais sábios mais fáceis de entendermos o que fizemos ao nosso próximo. Isso se chama AMOR...
O item 9 do Capítulo XI do Evangelho Segundo o Espiritismo começa assim: “O amor é de essência divina, e, desde o primeiro até o último, possuís no fundo do coração a chama desse fogo sagrado. É um fato que haveis podido constatar muitas vezes; o homem mais abjeto, o mais vil, o mais criminoso, tem por um ser, ou por um objeto qualquer, uma afeição viva e ardente, à prova de tudo que tendesse a diminuí-la, e atingindo, frequentemente, proporções sublimes”. A súplica de Jesus ao desencarnar, ainda ecoa neste mundo de expiação e provas. Nós é que ainda nos deixamos levar pelos nossos desejos primitivos e não a ouvimos. Quem sabe um dia, não muito distante, cada um de nós ouvirá aquele apelo de AMOR e dirá também: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico:
jgacelan@uol.com.br
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