Na esteira do artigo publicado ontem, segunda-feira, e assinado pelo escritor e jornalista Guido Fidelis, em plena terça-feira “gorda” de carnaval e quase nas cinzas da quarta-feira, resolvi escrever sobre os bons tempos dos bailes carnavalescos nos salões que reuniam adolescentes, jovens e adultos dos anos 1970, e que a partir da década de 80, foram escasseando até sucumbirem aos desfiles de rua, hoje existentes em cidades grandes, pequenas e nos vilarejos. .
Corria o ano de 1975 e, como já era tradição, a Rádio Diário do Grande ABC realizava transmissões ao vivo dos principais salões da região. Para tanto, era escalada uma equipe de locutores, operadores, plantonistas e motoristas. Eram quatro noites, todos os profissionais sem dormir, com a atenção voltada exclusivamente ao trabalho de relatar, com o maior número possível de detalhes, o que ocorria de bom e de ruim nos salões onde estava um representante da Diário.
A primeira noite tudo transcorreu normalmente com o trabalho sincronizado entre os experientes locutores. O comando partia de Rolando Marques, que acionava, de acordo com determinado cronograma, os demais integrantes da equipe e cada um executava seu trabalho conforme o andamento do baile no salão onde estava e, claro, como rádio não tem imagem, com cavalar dose de imaginação do colorido das mais esdrúxulas fantasias e estereótipos dos foliões.
A Telefônica restabeleceu a nossa linha no salão da GM e o nosso trabalho prosseguiu, sem as preocupantes interrupções. Na pista, os foliões, felizes, cantavam: Lencinho Branco, Lata d'Água na Cabeça, Bandeira Branca, Jardineira, Máscara Negra, Me dá um dinheiro aí, Cabeleira do Zezé e outros inocentes e agitados acordes carnavalescos da época, até o amanhecer da segunda-feira. As cenas de pânico na GM foram, naturalmente, por mim relatadas inúmeras vezes aos companheiros, à direção da Rádio e para alguns ouvintes pessoalmente, nos dias posteriores. Um tanto assustado, mas seguro retornei ao Clube da GM nas noites seguintes (segunda e terça), afinal o samba e nosso trabalho não poderiam parar.
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*Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no Grande ABC
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