sexta-feira, 28 de agosto de 2009

OS MELHORES CONTOS DO SÉCULO VINTE

Os contos apresentados em cinco capítulos neste blog foram publicados na década de 70, escolhidos pela polícia e pelos jornalistas da época como os mais criativos. Reunidos, é a primeira publicação do gênero na Internet. Neste quinto e último capítulo dessa série, você vai encontrar outros contos geniais utilizados no século passado.

CAPÍTULO FINAL

O CONTO DO MILIONÁRIO – O golpe aplicado por um conhecido vigarista no Rio de Janeiro foi considerado como de grande imaginação. Ele foi informado que um milionário, sempre presente nas colunas sociais dos grandes matutinos cariocas, estava prestes a se desquitar e ia viajar para o exterior. Como vinha seguindo a vítima há muito tempo, já havia lhe furtado um cheque e falsificado a assinatura. Aguardou por alguns dias e quando soube que o milionário havia viajado, prontamente telefonou ao procurador do banco - um conhecido advogado - que sabia que a vítima tinha depósito de milhões. Marcou um encontro e se apresentou como o milionário. Já sabia que o procurador conhecia o milionário apenas de nome. Foram até um grande restaurante no centro da cidade e almoçaram juntos. O "milionário" contou ao procurador o seu problema: " eu vou me desquitar e queria contratá-lo como advogado". Explicou que teria que solucionar alguns problemas no Rio de Janeiro e estava sem dinheiro. Solicitou ao advogado que retirasse um milhão de cruzeiros de sua conta no banco, ocasião em que lhe deu o cheque falsificado. Marcaram encontro mais tarde na porta de um hotel. Como o advogado era procurador, não teve nenhuma dificuldade em receber o dinheiro do banco, embora a quantia fosse elevada. Na porta do hotel combinado, encontrou o vigarista, a quem entregou o dinheiro. Conversaram amigavelmente por algum tempo e marcaram encontro para discutir o problema do desquite, assim que o "milionário" voltasse de viagem. Naturalmente que o vigarista não mais apareceu e o advogado, quando se apresentou ao verdadeiro milionário, encontrou enormes dificuldades para se explicar.

CONTO DAS JÓIAS - Uma mulher elegantemente vestida procura o consultório de conceituado psiquiatra e também psicanalista, localizado nos jardins, em São Paulo, e conta: "doutor, resido no Morumbi, meu marido é executivo de uma grande multinacional e anda esquisito de uns tempos pra cá". O médico diz: "qual o problema senhora, talvez possa ajudar". A mulher prossegue: "bem, ele está com uma mania de achar que alguém anda roubando as jóias lá de casa. Isso pega muito mal, já que nossos amigos estão nos evitando e não nos visitam mais. Meu marido sempre foi equilibrado, entende doutor?"
A elegante senhora marcou com o médico, depois de tudo explicado, uma consulta para o marido. Combinaram dia e horário: "quanto é a consulta do meu marido?" perguntou a mulher. "500 cruzeiros", disse o psicanalista. A madame fez um cheque e o entregou ao médico. Pediu a ele um cartão, mas antes o alertou para que não falasse de pronto com seu marido sobre jóias, desse um tempo até que pudesse entrar no assunto sem melindres. No dia marcado a mulher passou por uma dessas joalherias notáveis que existem nos Jardins, escolheu jóias caras, avaliadas em cem mil cruzeiros. Chegou ao gerente da loja, perguntou o nome dele (Alfredo) e foi dizendo: "sêo Alfredo o senhor deve conhecer o doutor Júlio Dantas, aí do prédio em frente."O gerente respondeu: "conheço de nome, é um psiquiatra e psicanalista conceituado". A senhora prosseguiu: "sou mulher dele, aqui está o cartão. Por favor, me acompanhe até a clínica que ele fará o pagamento das jóias ao senhor". Ambos atravessaram uma praça, entraram no prédio e subiram ao 10° andar. A mulher carregava o pacote com as jóias. Foram atendidos pelo médico e a madame se apressou: "olha, fiquem à vontade, vou ao banheiro e já volto". O médico disse ao Alfredo: "sente-se, por favor, vamos conversar um pouco". "O gerente da loja respondeu: "olha, doutor, não posso me demorar, apenas vim falar com o senhor sobre as jóias". O psiquiatra e psicanalista tentou despistar: "Tá certo, a gente fala nisso daqui a pouco", e foi enrolando o Alfredo que em determinado momento disse: "doutor Júlio, desculpe-me, mas estou aqui para receber o dinheiro das jóias que a sua mulher acabou de comprar na minha loja, que fica aqui perto". Surpreso, o médico respondeu: "minha mulher? Eu sou solteiro. A velhaca me disse que é sua esposa". Nessa altura a madame já havia tomado um ônibus ou táxi e desaparecido, enquanto médico e lojista discutiam.

CONTO DO PASTEL - Um homem muito bem vestido entra em uma pastelaria no centro de São Paulo, onde se concentra a melhor fatia do comércio, e dirigindo-se ao pasteleiro e proprietário do estabelecimento, geralmente japonês, inicia o seguinte diálogo:
- Bom dia, o senhor aceita uma encomenda de 400 pastéis de carne sem fritar para as 11h30?
- Sim senhor, mas ainda é cedo o senhor vai esperar?
- Não, ainda tenho que providenciar outras coisas para a festa, buscar o óleo para fritar os pastéis e avisar um amigo para me ajudar a levar a encomenda.
- Sim senhor, vai deixar pago? São CR$ 200,00 (duzentos cruzeiros).
- Vou lhe adiantar dez cruzeiros e na hora que retirar lhe pago o saldo. Perceba que ainda se tratava de cruzeiros, dinheiro usado naquela época.
E dizendo isto retirou uma nota estalando de nova do bolso e entregou-a ao pasteleiro. Despediu-se e pedindo precisão quanto ao horário saiu da pastelaria em direção à rua próxima, desceu alguns metros, parou para acender um cigarro e ficou olhando a vitrine da loja de calçados com muita atenção, até o vendedor se apresentar:
- Bom dia, tem bom gosto senhor, estes sapatos de cromo alemão são a ultima novidade, recém chegados à loja.
- Estou com pressa, mas traga rápido, por favor, um par preto e dois marrons em tons diferentes.
Experimentou-os rapidamente, deu alguns passos pela loja e disse:
- Fico com os três pares, faça a conta, por favor.
- São cento e vinte cruzeiros, quer que embrulhe para presente?
- Não é necessário, virei buscá-los só por volta de 11h30.
- Ora, porque o senhor não leva já os sapatos, afinal ficaram muito bem.
- É que sou fornecedor de farinha de trigo e tenho que vir mais tarde cobrar o japonês da pastelaria que me deve quatrocentos cruzeiros, você o conhece?
- O Misao? Da pastelaria, virando a esquina, na avenida? Somos vizinhos a mais de vinte anos.
- Sim, o Misao! Já que são amigos venha comigo, para ganhar tempo.
Dizendo isso arrastou o lojista até a frente da pastelaria:
- Senhor Misao! Quanto já tem pra mim?
- Já tem uns cem, quer levar?
- Não, agora não. Conhece este moço aqui?
- Sim senhor. O Luiz é vizinho a mais de vinte anos e muito amigo.
- Muito bem, então ele vem dentro de uns 30 minutos e o senhor entrega 120 pra ele, certo?
- Sim senhor, pode deixar.
E voltou com o feliz vendedor para a loja onde pegou os três pares de sapatos, despediu-se e garantiu que voltaria em breve com a esposa e filhos para cobrar o japonês e pegar mais alguns pares de calçados para a família.
Imaginem a cena, quando um japonês de cara brava, com muitos pacotes de pastéis na mão, tentava entregá-los ao dono da loja de calçados e este gritava dizendo:
- Quero o dinheiro, quero minha parte em dinheiro.

CONTO DO DINHEIRO FALSO - Neste golpe a vítima escolhida tem que ter muito dinheiro. O vigarista aproxima-se e explica que tem um amigo que trabalha na Casa da Moeda. Diz que a máquina encrencou e as numerações das notas saíram repetidas. Na conversa o vigarista mostra à vítima algumas notas de mil cruzeiros, dizendo que seu amigo guardou centenas delas duplicadas e está disposto a negociá-las na base de três por duas, uma vez que por ser ele funcionário da Casa da Moeda, seria difícil passar as notas frias. Se o negócio interessar, o vigarista marca um encontro com a vítima, mas antes o recomenda a levar muito dinheiro. No dia e hora combinados encaminham-se para uma pequena casa, onde espalham o dinheiro sobre a mesa. A vítima examina as cédulas apresentadas pelos vigaristas e, ao se certificar que não tem defeitos, inicia o negócio. De repente um grito: "polícia!" Sai todo mundo correndo e o dinheiro some, levado pelos vigaristas, disfarçados de policiais. E a vítima fica impossibilitada de apresentar queixas na delegacia, uma vez que também queria ganhar dinheiro fácil.
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Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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