terça-feira, 28 de julho de 2009

DEZ MILHÕES DE ALCOÓLATRAS NO BRASIL

EDWARD DE SOUZA

Muita gente queda-se atônita ante o problema dos tóxicos e do álcool, indagando que misteriosas forças teriam conduzido uma pessoa a trilhar os caminhos do vício. A resposta é complexa, porém não dificil de ser formulada. Vários segmentos da sociedade acusam os toxicômanos e os alcoólatras como responsáveis pela “onda” de violência que assola o País, buscando em pesquisas de acidentes de trânsito, homicídios, latrocínios e desavenças encontrar as causas que preocupam psicólogos, sociólogos, médicos, moralistas, filósofos e religiosos.
Segundo alguns registros arqueológicos, os primeiros indícios do consumo de álcool pelo ser humano datam de mais de oito mil anos. No primeiro momento, as bebidas eram produzidas apenas pela fermentação e, por isso, tinham um baixo teor alcoólico. Com o desenvolvimento do processo de destilação, começaram a surgir as primeiras bebidas mais fortes e mais perigosas. Com a revolução industrial, a bebida passou a ser produzida em série, o que aumentou consideravelmente o número de consumidores e, por consequência, os problemas sociais causados pelo abuso no consumo do álcool. O alcoolismo não é mais uma doença, é um flagelo. Só no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Alcoolismo, existem aproximadamente 10 milhões de alcoólatras, número que prejudica progressivamente a força de trabalho e a produtividade nacional. Cerca de 5 por cento dos trabalhadores são alcoólatras, tornando improdutiva metade de suas cargas horárias. Ônus ingrato para a Nação, fardo inútil para as empresas e indústrias.
Médicos do trabalho que participam ativamente de palestras de combate ao tóxico e ao alcoolismo, afirmam que o trabalhador brasileiro carente foi obrigado a trocar o café da manhã com pão, leite e manteiga pelo consumo puro e simples de cachaça, para poder, até, levantar-se da cama e caminhar. Essa triste realidade foi verificada também nas indústrias de calçados de Franca e nas montadoras na Região do ABC Paulista. Um grande empresário de Franca afirma amargamente: - Estamos vivendo uma nova era, a do alcoolismo por necessidades energéticas.
Na verdade, as hospitalizações por complicações do alcoolismo são de custo milionário. O dinheiro captado pelos cofres públicos do movimento setorial das bebidas alcoólicas não paga o custo social do alcoolismo, nem as contas das hospitalizações, desnecessárias numa época economicamente recessiva. De acordo com um médico do trabalho que eu ouvi na semana passada e que preferiu não se identificar, a explicação para o fenômeno passa pelo problema do desemprego em massa, que ocorre atualmente em grandes indústrias de calçados de Franca e nas montadoras do ABC Paulista, cruza a política salarial, finalizando no baixo consumo patológico atual de proteína animal e vegetal. Certo é que o Brasil não possui estrutura econômico-hospitalar para suportar as complicações médicas que advirão do recrudescimento do alcoolismo em virtude da decadência progressiva do poder aquisitivo. As hospitalizações por complicações do alcoolismo são de altíssimo custo, repetitivas para o mesmo indivíduo, já que o consumo de álcool continua, na maioria das vezes, após a alta médica. Muitas dessas internações são de evolução fatal e de prognósticos sombrios. Na grande maioria dos casos a volta ao trabalho é simplesmente impossível. Se alguma coisa não for feita urgentemente, em breve o Brasil poderá se transformar em um País de alcoólatras. Para se ter uma idéia, nos Estados Unidos é a terceira doença que mais mata, só perdendo para o câncer e para as doenças do coração. O alcoolismo é irreversível, progressivo e de fins fatais. As estatísticas no Brasil indicam que para cada 42 viciados em álcool há um viciado em outras drogas também. A escalada do alcoolismo no Brasil é grande, aumentam as filas nos hospitais, a produção do País é atingida, as despesas com os doentes crescem e, por tudo isso, é preciso que se dê largos passos, urgentemente, em busca de solução para o problema.
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*Edward de Souza nasceu em Franca, é Jornalista e radialista. Trabalhou nos jornais, Correio Metropolitano, Diário do Grande ABC e O Repórter, da Região do ABC Paulista. Em São Paulo, na Folha da Tarde, Jornal da Tarde, Gazeta Esportiva, sucursal de “O Globo”, Diário Popular e Notícias Populares, entre outros. Atuou na Rádio Difusora de Franca, Difusora de Catanduva, Brasiliense de Ribeirão Preto, Rádio Emissora ABC e Clube de Santo André; também nas rádios Excelsior, Jovem Pan, Record, Globo – CBN e TV Globo de São Paulo. Medalha João Ramalho, principal comenda do município de São Bernardo do Campo, outorgada pela Câmara Municipal daquela cidade pelos relevantes serviços jornalísticos prestados à região. Troféu PMzito, entregue pelo alto comando da Polícia Militar de Santo André por ter se destacado como o melhor repórter policial do ABC nos anos 70. Prêmio Sanyo de Rádio nos anos 80, como o melhor narrador esportivo do ABC Paulista. Menção Honrosa entregue em 2007 pela Câmara Municipal de Franca e outra pelo Rotary Clube Norte pela atuação brilhante na radiofonia da cidade. Participou da antologia O Conto Brasileiro Hoje, 7°, 8º, 9º e 10º edições, com os contos “Um Visitante Especial”, “Sonhos Dourados” “A Lua de Mel” e “O Sacristão”, além de diversas outras antologias de contos e ensaios. Assina atualmente uma coluna no Jornal Comércio da Franca, um dos mais tradicionais do interior de São Paulo.
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