sábado, 24 de outubro de 2009

FALTAVA ESSA: ESCOLA FORMAVA JOVENS PARA O CRIME EM S. BERNARDO DO CAMPO


O noticiário de rádio, jornal, televisão, internet e revistas enfocam neste final de semana os lamentáveis acontecimentos que estão ocorrendo no Rio de Janeiro e que ensejou o excelente artigo do jornalista Juliano Morgado publicado neste blog ontem, sexta-feira. Na esteira da tragédia carioca, a imprensa deu destaque à prisão de um casal, aqui em São Bernardo, que comanda verdadeira indústria de aliciamento de jovens e adolescentes, cujo objetivo é prepará-los para o mundo do crime. De acordo com o delegado comandante da operação que desbaratou o esquema, 75 jovens de ambos os sexos, entre 12 e 17 anos, foram encontrados num sobrado em um bairro da periferia de São Bernardo. Denominada "mata aula", a reunião aglomerava adolescentes que participavam de uma espécie de baile funk, organizado por traficantes. Os meninos pagavam dois reais o ingresso, para as meninas a entrada era grátis. Ainda segundo o delegado, os rapazes eram instruídos para o consumo e em seguida ao tráfico de drogas e as garotas à prostituição. Todos os jovens detidos moram no bairro e estudam em escola municipal localizada poucos metros da casa onde funcionava a "escolinha" de preparação ao crime. Como a prisão dos responsáveis aconteceu nesta sexta-feira, provavelmente novos lances da fábrica de aliciar menores irão eclodir e deixar perplexos pais e responsáveis por jovens e adolescentes do ABC.
Há poucos meses abordamos, em artigo publicado aqui neste espaço, os problemas gerados pela indiferença ou cumplicidade de alguns pais em relação aos filhos adolescentes. Foram citados casos de garotos, nossos conhecidos, que tomavam conta de carros na noite de São Bernardo, cujos pais estavam interessados apenas na quantidade de dinheiro que os meninos levavam para casa e nunca com os meios de arrecadação e muito menos onde as crianças passavam a noite, já que chegam em casa sempre pela manhã. Um desses jovens havia, à época, mencionado de passagem algo sobre a festa "mata aula", agora desmantelada pela policia de São Bernardo. Em Santo André, até o final dos anos 90 havia uma casa, comandada por uma mulher e seu marido, que abrigava e instruía jovens para a venda de rosas nas casas noturnas do ABC. De paupérrima condição social e familiar, esses adolescentes, de ambos os sexos, saiam noite adentro oferecendo as flores. Um deles também contou que havia, ainda em Santo André, um sobrado, igualmente comandado por um casal, que aliciava e encaminhava jovens ao uso e tráfico de drogas. Essa residência foi fechada pela polícia no começo do ano 2000 e os responsáveis presos. Estes registros demonstram que a indústria do tráfico lança seus tentáculos aos quatro cantos do Brasil com claro objetivo de formar mão de obra especializada. O alvo, e não poderia ser diferente, são jovens e adolescentes inseridos na exclusão social, cujos pais e responsáveis não têm recursos e, em muitos casos, noção de como criar uma família saudável e distante da marginalidade.
Os acontecimentos do Rio de Janeiro são trágicos e desnudam uma realidade aterrorizante; o caso de São Bernardo direciona para um futuro mais assustador e que, como todos os outros, deixará o noticiário e, pela resignação da população, ficará a margem da indignação de um povo indiferente às atrocidades. Nessa linha, o porvir irá mesclar uma população alheia e alienada ao crime organizado, a formação da pequena e média indústria da marginalidade e agregará ao cotidiano o trucidamento da moral, do caráter e da dignidade do ser humano. Os 75 jovens descobertos na festa "mata aula" nesta sexta-feira em São Bernardo, certamente são sucessores de outros tantos já formados e antecessores de contingente maior que aguardam vaga na promissora escolinha do tráfico.
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*Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista, radicado no Grande ABC
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