terça-feira, 21 de maio de 2013


 MORRE O JORNALISTA 

JULIANO MORGADO



O amigo Juliano Morgado (foto a esquerda), jornalista, policial, pescador, faleceu na última terça-feira, dia 13 de maio. Com sérias complicações renais, provocadas pela diabetes, Morgado foi internado e depois de alguns dias não resistiu.  Os corações de seus filhos, netos e de sua esposa, a bondosa e simpática D. Maria não estão desolados, vazios... Eles aprenderam o respeito, o amor, a honestidade e a dignidade desse grande Homem. Estarão sempre prontos para multiplicar seus ensinamentos, tenho essa certeza, principalmente sobre a filosofia espírita que ele acreditava e escrevia sempre as sextas-feiras nesse blog e colocá-los em crescente processo de construção a serviço do povo mais humilde. Essa foi a sua maior missão na terra, porque seu coração nasceu grande, procurando ajudar os mais necessitados e pregando a caridade. Apaixonado pelo jornalismo, seu pseudônimo, Garcelan, tornou-se conhecido ao escrever suas crônicas no Jornal Diário do Grande ABC, sobre turismo e pescarias que realizou por esse mundo afora. Na semana passada, seu coração parou de bater, deixando em nossos corações, amigos que aprendemos a admirá-lo e respeitá-lo, uma enorme lacuna.
Da esquerda para a direita: Dona Maria - J.Morgado e filha

Juliano e D. Maria estiveram em minha casa faz uns dois anos, pouco mais, talvez. Insistiu para que eu o visitasse em Mongaguá. Prometi que faria isso e não cumpri. Problemas outros de saúde, minha e envolvendo familiares acabaram me impedindo de gozar mais algumas horas ao lado desse amigo tão estimado.
Todos os anos, assim que amanhecia o dia 17 de maio o telefone tocava em minha casa e do outro lado a voz querida desse amigo cumprimentando-me pelo aniversário. E não ficava por aí, enviava e-mails maravilhosos parabenizando-me pela data. Este ano não recebi seus e-mails e nenhum telefonema. Percebi que alguma coisa séria havia acontecido e telefonei para sua casa. D. Maria atendeu. Com a voz embargada pelo choro que custava a conter, transmitiu-me a triste notícia da partida de seu companheiro de mais de 50 anos. Explicou-me que tentou falar comigo por telefone mas não me localizou. Conseguiu falar com o amigo Waldir Paludeto que, minutos depois, também me passava essa triste informação. Fiquei mais triste quando soube, ainda pela D. Maria que, a grande paixão de Juliano era que eu continuasse esse blog. Nesse espaço ele fez muitos amigos e amigas e adorava escrever suas crônicas que eu editava e publicava com carinho. Uma semana antes, sem saber que J. Morgado estava com sérios problemas de saúde, eu havia resolvido reabrir esse blog, publicando o texto abaixo, no Dia das Mães. Enviei e-mails a ele que, claro, não os respondeu. Desencarnou, expressão que ele certamente aprovaria, sem saber que o blog estava a espera de seus textos.

Comparei, certa feita, nossa vida a um intrincado labirinto, em que caminhamos por entre o emaranhado de inúmeras passagens, à procura de uma saída. Atrás de nós, segue a morte, nos procurando para nos levar. Viramos para um lado, imbricamos por outro, fazemos zigue-zagues para cá, para lá, até que, em determinado momento, que não temos a mínima condição de saber quando será, cruzamos com nosso implacável carrasco. E então... Adeus aos sonhos e ilusões! O que foi feito, muito que bem. O que não, jamais será realizado por nós. É preciso ter sempre em mente (e, por mais óbvio que seja, relutamos em admitir) o tempo é o nosso mais precioso capital, que não podemos desperdiçar. Uma esteira rolante, diante da qual estamos, num determinado ponto da sua passagem. A parte que já passou por nós de forma alguma vai voltar. O que está à frente, o futuro, a cada piscar de olhos ou bater de asas de um beija-flor se transforma em passado. E o que passa velozmente diante de nós, com tamanha rapidez que sequer o percebemos, é o presente, fugaz, invisível e volátil. E isto enquanto pudermos permanecer diante da esteira porque, num determinado prazo, que não temos a mínima possibilidade de conhecer qual é, teremos de sair definitivamente dali.

*Abaixo, o companheiro jornalista, Édison Motta, escreve sua crônica falando um pouco mais desse amigo tão querido, que está em um plano bem melhor que o nosso, certamente.

FESTA NO CÉU

*Édison Motta

Édison Motta e Juliano Morgado

Os céus, ou aquilo que nós, frágeis passageiros humanos costumamos denominar de infinito cósmico, certamente estão em festa. Porque lá adentrou, na semana passada, um ser iluminado, dono de uma alma privilegiada.
A passagem do grande amigo e mestre Juliano Morgado (é assim que conhecemos o querido Garcelan) para a eternidade provoca, naqueles que o admiravam – como é o meu caso – um duplo sentimento. A satisfação da paz, muita paz que Morgado deve estar sentindo, e que serve de profícuo exemplo para nós que aqui ficamos. Mas recai-nos também a tristeza de não poder mais compartilhar de seu convívio, ao menos no trecho de estrada que ainda haveremos de percorrer.
Conheci o Morgado na redação do Diário do Grande ABC. Eram os anos 70, anos de chumbo. E o Morgado tinha, inclusive, dupla jornada. Dividia seu tempo entre os textos que preparava para serem editados na seção de turismo, no ainda incipiente jornal, e se dedicava ao trabalho na Policia Militar.

Maury Dotto - J. Morgado e Édison Motta

Com o passar do tempo fomos nos aproximando. Impossível não admirar o esforço daquele policial e jornalista que (soube depois) atravessava madrugadas teclando na máquina de escrever para poder entregar seus textos em tempo no Diário.
A amizade fluiu e se consolidou depois, quando decidimos empreender uma viagem pela Amazônia. Morgado, com seus conhecimentos sobre estradas e sobre os rincões desse país foi fundamental na preparação e em todos os detalhes que cercaram aquela aventura. Uma epopeia que se estendeu por trinta dias, em estradas de terra e asfalto, praticamente cruzando o Pais de Norte a Sul. Saídos da Rua Catequese, sede do jornal, atravessamos os Estados de São Paulo, Mato Grosso (ainda não existia o Mato Grosso do Sul), Rondônia e Amazonas. Praticamente inauguramos um trecho de mais de 700 km entre Rondônia e Manaus. De lá, descemos de navio até Belém e depois, descemos a Belem-Brasilia. Além de mim, também eram companheiros de Morgado naquela aventura o diretor do Diário, Maury Dotto e o amigo Zileval Bruscagin, também já falecido.
É no dia a dia, na divisão de simples tarefas cotidianas que se conhece melhor as pessoas. Morgado, sempre com seu refinado senso de humor e apurada observação, ia nos passando os conhecimentos adquiridos em tantas outras viagens que fez – sozinho, com sua mulher, Da. Maria ou com outros amigos – pelo País.
Tive o prazer e a honra de reencontrá-lo, bem depois, já aposentado em Mongaguá. Visitei-o algumas vezes. Agora ele se dedicava à pintura de belíssimos quadros, dos quais ganhei um que ocupa lugar de destaque no escritório de minha casa.
A imagem que vou guardar de meu prezado amigo tem as cores de seus quadros, acompanhadas das doces recordações de intensos momentos vividos. Na redação do Diário, na viagem e em nossos encontros posteriores.
Se alguém neste mundo pode servir de exemplo de retidão, caráter, generosidade e amizade, este alguém é Juliano Morgado. Mestre, amigo. Um exemplar farol a iluminar o caminho dos privilegiados que puderam compartilhar de sua companhia, amizade e aprender com ele.
Siga em paz, amigo Morgado. Muita paz...