Enquanto aguardava ser atendido pelo locutor francano que trabalhava na Rádio América, notei que um homem alto e forte aproximou-se da portaria e se fez anunciar em voz alta: “o diretor artístico da rádio me aguarda, sou seu amigo e vim fazer um teste para a vaga de locutor, anunciada”. Então havia uma vaga e eu não sabia. Não tinha como ficar contente com a notícia, afinal o cidadão apresentou-se como amigo do diretor da rádio, mesmo assim, encheu-me de esperança. Ainda na recepção, o candidato a vaga falava com desembaraço e convicção. Citava pessoas famosas que conhecia, países onde esteve, e dizia para a recepcionista, já com expressão aborrecida por aguentar tremendo chato de galocha, que falava fluentemente o inglês. Uma hora depois fui chamado e soube que de todos os candidatos apenas
eu e o Carlos fomos selecionados. A rádio precisava apenas de um locutor, por isso seríamos novamente submetidos a um teste. O reprovado poderia até ser chamado em outra oportunidade, prometeu o diretor artístico. As cartas estavam marcadas. Carlos leu alguns pequenos textos em português e eu, uma lista com nomes de músicas em alemão, francês, italiano e inglês. Se tivesse tempo suficiente, o diretor artístico da rádio teria acrescentado nomes de músicas em polonês, japonês, chinês e dinamarquês. Pacientemente tentei, não deu. E não daria para nenhum locutor da época, por mais experimentado que fosse. Desconheço um só daquele tempo e mesmo hoje, que fale fluentemente quatro línguas. Cá entre nós. Hoje em dia não passaria por este vexame. Teria rasgado aquelas folhas e mandado o diretor pilantra enfiá-las no... Lixo, juro!
eu e o Carlos fomos selecionados. A rádio precisava apenas de um locutor, por isso seríamos novamente submetidos a um teste. O reprovado poderia até ser chamado em outra oportunidade, prometeu o diretor artístico. As cartas estavam marcadas. Carlos leu alguns pequenos textos em português e eu, uma lista com nomes de músicas em alemão, francês, italiano e inglês. Se tivesse tempo suficiente, o diretor artístico da rádio teria acrescentado nomes de músicas em polonês, japonês, chinês e dinamarquês. Pacientemente tentei, não deu. E não daria para nenhum locutor da época, por mais experimentado que fosse. Desconheço um só daquele tempo e mesmo hoje, que fale fluentemente quatro línguas. Cá entre nós. Hoje em dia não passaria por este vexame. Teria rasgado aquelas folhas e mandado o diretor pilantra enfiá-las no... Lixo, juro! Na porta de saída da rádio, um minuto de silêncio. Reflexão, pensamento
positivo. Era preciso manter a confiança e enfrentar a vida com a sensação da segurança conferida pela determinação e o espírito altaneiro de quem sabe que é possível superar imprevistos e vencer. Momento de colorir o horizonte com as cores da esperança e acreditar que tudo não passou de duas tentativas que não deram bons resultados naquele dia. Estava pronto para seguir o caminho de volta a Santo André. Um menino cruzou alegremente o meu caminho. Segurava um enorme rádio que funcionava a pilhas, sorriu de uma maneira contagiante, abanou a mão e desapareceu. A vida é este mesmo círculo, sempre renovado, entre o trabalho e nossos desejos de realizar os sonhos que nos movem.
positivo. Era preciso manter a confiança e enfrentar a vida com a sensação da segurança conferida pela determinação e o espírito altaneiro de quem sabe que é possível superar imprevistos e vencer. Momento de colorir o horizonte com as cores da esperança e acreditar que tudo não passou de duas tentativas que não deram bons resultados naquele dia. Estava pronto para seguir o caminho de volta a Santo André. Um menino cruzou alegremente o meu caminho. Segurava um enorme rádio que funcionava a pilhas, sorriu de uma maneira contagiante, abanou a mão e desapareceu. A vida é este mesmo círculo, sempre renovado, entre o trabalho e nossos desejos de realizar os sonhos que nos movem..
Era divertido ver meu tio sair pela manhã para o trabalho – entenda
assinar o ponto. Depois de um banho rápido e de tomar seu café, segurava uma enorme pasta que pesava horrores, nunca pude ver, mas com certeza carregada de chumbo, e seguia rumo a prefeitura, poucos quarteirões da casa onde morava, no centro de Santo André. Minha tia Dionir corria para o quarto dos fundos - a casa era alta - e da janela acenava se despedindo. Amoroso, ele respondia, esticando um dos braços. A impressão era que ficariam dias sem se ver. Meu tio entrava as 8h00, assinava o ponto e as 9h00 estava de volta, isso quando não resolvia dar um passeio a pé pelo centro da cidade. Enquanto esperava a volta do marido, minha tia tocava acordeon.
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*Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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*Acompanhe nesta quinta-feira o quarto capítulo da série, “O dia em que gravei o Jornal Nacional”.
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*Edward de Souza é jornalista, escritor e radialista
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*Acompanhe nesta quinta-feira o quarto capítulo da série, “O dia em que gravei o Jornal Nacional”.
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