sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A OUTRA FACE: UM GESTO DE CORAGEM

O nono parágrafo do capítulo 37 do livro “Fonte Viva” (edição FEB/1986), psicografado por Francisco Cândido Xavier e ditado pelo espírito Emmanuel, assim diz: “Se não é justo atirar petróleo às chamas, com o propósito de apagar a fogueira, ninguém cura chagas com a projeção de perfume”. No parágrafo anterior (oitavo) da mesma lição, o sublime guia espiritual de Chico diz: “Nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas sombras inferiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio”. Infelizmente, a humanidade num todo ainda não consegue compreender que a paz que tanto se almeja só será possível quando o respeito se fizer presente nas relações humanas. O amor fraterno se seguirá e com ele a harmonia fraterna será uma realidade. Acusamos, criticamos, agredimos, vilipendiamos e ferimos com atos e palavras nosso próximo (nossos irmãos), justificando com esses atos que se trata de um revide. E, pasmem! Somos cristãos.
O revide não é ato de um cristão. No Novo Testamento assim está escrito: “Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, orientai-o com espírito de mansidão, velando por vós mesmos para que não sejais igualmente tentados”. (Paulo. Gálatas, 6:1.).
O mundo sempre esteve repleto de guerras. Guerras que começam porque o orgulho de alguém foi ferido. O diálogo, o ensino cristão e outras filosofias religiosas semelhantes, nunca foram empecilhos para a truculência do homem. No dia a dia, as páginas dos noticiários policiais estão repletas de fatos de ferocidade e horror. Questões de trânsito, familiares, passionais, entre vizinhos e desrespeito às leis dos homens e às leis naturais. Uma “estupidez geral”! Reclamamos dos mandatários sem nos atermos que esses indivíduos são frutos do meio em que vivemos. Daí...
O orgulho e seus filhos diletos, entre eles a hipocrisia, imperam em um mundo perfeito, maculado por uma humanidade insensata. “Dar a outra Face” para essa mesma humanidade é sinal de covardia. Entretanto não poderia haver maior ato de coragem ao fazê-lo. Em “Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capítulo XII, ”Amai Vossos Inimigos”, item 11, “O DUELO” (Livraria Allan Kardec Editora), apesar de ser, para alguns, um capítulo ultrapassado, nunca foi tão atual como o é nos dias de hoje. Na época os duelos físicos (pistolas e espadas) eram comuns, mas eles continuam verbalmente, ocasionando discórdias e tragédias. “(...) Refleti um pouco: por causa de uma palavra, as vezes dita irrefletidamente, ou quase inofensiva, da parte de um dos vossos irmãos, inflama-se o vosso orgulho, respondeis de modo irritado, e daí uma provocação” (...). Frases como essa, nos mostram que duelamos todos os dias com insultos ou objetos. Não temos a coragem de nos resguardar ou dar a outra face. O orgulho fala mais alto e as tragédias e desentendimentos se sucedem. Enfim, podemos almejar por paz, se cada um de nós não está contribuindo para que isso aconteça?
A importância da doutrina espírita está exatamente em chamar a atenção para o que está escrito no parágrafo acima. Muitos dos detratores se apegam na lei da reencarnação para combater o Espiritismo. Porque será? Nós espíritas, sabemos a resposta. O foco maior da codificação é chamar a atenção da importância da reforma íntima. Conscientizado disso, o indivíduo lutará todos os dias para diminuir seus defeitos morais e materiais.
“Dar a outra face” não é seguir literalmente o que diz a frase. É ser corajoso e mostrar que aqui estamos para evoluir moral e intelectualmente. É dizer que com truculência verbal ou física a paz está longe de ser alcançada. “Não existe um caminho para a paz; a paz é o caminho” (Mahatma Gandhi).
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, escrevendo crônicas, contos, artigos e matérias especiais. Contato com o jornalista: jgarcelan@uol.com.br
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