sexta-feira, 5 de novembro de 2010

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Vasculhando os recônditos de meu computador, encontrei uma interpretação para o “Pai Nosso”, tão orado pelos cristãos de todo o mundo. Dele destaquei uma pequena parte: “Se no fundo o que eu quero mesmo dizer é que todos os meus desejos se realizem, seria inútil dizer: seja feita a vossa vontade”. Infelizmente, o autor é desconhecido.

Os cristãos, de um modo geral, principalmente os católicos, carregam crucifixos, correntes com imagens de santos de sua devoção, acendem velas para os santos, cumprem promessas (no meu entender, estapafúrdias), como subir centenas de degraus de joelhos, carregam cruzes enormes pelas estradas, deixam de comer (jejuns), auto se flagelam e assim por diante. Tudo isso em razão de uma massificação ou lavagem cerebral criadas por pessoas inescrupulosas para dominar pelo medo os fiéis. É comum se verificar, ao assistir na TV, reportagens por ocasião de datas em que se comemoram os dias dos santos mais conhecidos, com Nossa Senhora Aparecida, São Judas Tadeu, Santa Edwiges, Santo Antonio, etc., frases como “tudo o que eu peço, ela ou ele me atendem”.

A Bíblia, principalmente o Novo Testamento, continua a ser um “Best Sellers”. Entretanto, “pelo andar da carruagem”, acredito que pouco lido. Os exemplares, (alguns com encadernações altamente luxuosas), permanecerão expostos em locais visíveis no interior dos lares e até em estabelecimentos comerciais para que pessoas outras possam vê-lo e dizer ou pensar quão religiosas são.

A hipocrisia é um câncer universal. Difere-se apenas na sua tonalidade. Mais intensa ou menos intensa. Mas é na religião, onde esse defeito moral mais é constatado! A velha frase “faça o que eu mando, não faça o que faço” é largamente usada, mesmo que imperceptivelmente, nos meios religiosos. Para os sacerdotes, pastores, dirigentes... Tudo! Para os fiéis apenas a obrigação de contribuir e permanecer leais. Alias, não é isso que acontece na política deturpada também pelos homens?

Se os cristãos de um modo geral lessem o Novo Testamento com a assiduidade que deveria, certamente o mundo estaria bem melhor. Constataria que Jesus, o sublime Mestre, não exigiu sacrifícios onde o corpo (templo do espírito) fosse vilipendiado com sacrifícios atrozes e inúteis. Quando Jesus declarou: Bem aventurados os aflitos, não estava exaltando as aflições, mas sim as pessoas que sabem sofrer sem revolta, sem lamentações inúteis, sem culpar outros ou situações pelos seus males.

No Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, “Bem aventurados os Aflitos”, há um parágrafo bem interessante: “(...) Há aqui uma grande distinção a fazer; para vós, pessoalmente, contentai-vos com as provas que Deus vos envia, e não aumenteis sua carga, as vezes tão pesada; aceitá-las sem lamentações e com fé, é tudo o que Ele vos pede. Não enfraqueceis vosso corpo com privações inúteis e mortificações sem objetivo, porque tendes necessidade de todas as vossas forças para cumprir vossa missão de trabalho na Terra. Torturar voluntariamente e martirizar vosso corpo, é contravenção à lei de Deus, que vos deu os meios de sustentá-lo e fortificá-lo; enfraquecê-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. Usai, mas não abuseis: tal é a lei; o abuso das melhores coisas traz sua punição nas consequências inevitáveis (...)”. A lição continua.
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Na verdade, o verdadeiro cilício está em mortificar nossos defeitos morais. Devemos fustigar nosso orgulho, nosso ódio, nosso rancor, nossa vaidade, nossa arrogância... Infelizmente, as pessoas não se reconhecem com esses defeitos, causa de todos os males do mundo. Preferem o fanatismo religioso, político e idealista, a terem que reconhecer seus defeitos morais. A vontade de Deus não vale! O que vale é a vontade egoística de cada um. Afinal, temos que viver segundo nossos desejos, mesmo que lá na frente às consequências sejam funestas.
“Pai, perdoai, pois não sabem o que fazem”. Até quando a cegueira persistirá?
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*J. MORGADO é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista? Só clicar aqui:
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