segunda-feira, 31 de agosto de 2009

CONTOS DA FÉ E VIGARICES RELIGIOSAS

J. MORGADO
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Determinadas pessoas ditas religiosas, para atingirem seus objetivos escusos, não titubeiam em deturpar ou vilipendiar o que foi dito por Jesus e relatado por João, o evangelista, no cap. XVIII, v. 33, 36, 37, no Novo Testamento. Foi assim que escutei e vi um líder de uma facção religiosa dizer a um repórter, em uma entrevista na televisão, que ser rico era uma obrigação do ser humano, dizendo que Jesus era Rei e, portanto rico, tentando assim justificar sua imensa fortuna conquistada através da ingenuidade de seus seguidores.
O homem vem deturpando os ensinamentos de Jesus através dos tempos para conseguir atingir seus objetivos escusos. Buscam traduzir literalmente aquilo que interessa para confundir a cabeça dos ingênuos e com isso amealhar fortunas em proveito próprio.
Mas, seria ele totalmente culpado? A ingenuidade, aliada ao materialismo exacerbado das pessoas, mais a ignorância, facilitam os golpistas tipo vigaristas religiosos a aplicarem o golpe do dízimo bíblico.
Lembro-me da passagem bíblica onde Moisés ao retirar-se por longo tempo para receber os Dez Mandamentos, teve sua liderança contestada por “malandros da época”.
Cascateiros souberam dar adequadamente o que o povo estava querendo e com isso, enriquecer. Circo, pão e, provavelmente, licenciosidade. Construíram um bezerro de ouro e arrancou tudo o que podiam dos incautos nômades. O novo objeto de adoração, o bezerro de ouro, satisfazia a ânsia de desejos imediatos daquela população. Não escutavam a voz da razão. Apenas se divertiam e esqueceram o objetivo maior. A farra acabou, quando a “voz da justiça” se fez novamente presente, no caso, Moisés.
Quando residia em Batatais, tive a oportunidade de presenciar dois casos. Nove horas da noite, passeava com meu cão e quando passava defronte a um desses templos improvisados escutei a voz tonitruante do pregador ameaçando os poucos freqüentadores com as labaredas do inferno se não contribuíssem com o tal dízimo. E dizia mais: que os habitantes daquela cidade eram muquiranas. Foi ainda em Batatais, que presenciei o achaque puro e simples. Depois de acabar o tal de culto, os capangas ficavam em pontos estratégicos na saída e até nas esquinas, exigindo o pagamento do dízimo. O tom de voz era ameaçador! Sabiam exatamente quem não havia contribuído.
Em todos os tempos, sempre houve os aproveitadores da fé alheia. Palácios e feudos enormes foram feitos em nome da fé. Nada contra qualquer religião. Vigaristas travestidos de religiosos aplicando o “golpe do dízimo”. Ateus pregando o céu e mostrando um inferno que eles mesmos não acreditavam.
Em 1517 d.C. Martinho Lutero, um sacerdote da Igreja Católica, revoltou-se contra as tais de indulgências. As indulgências não passavam, na verdade de um “conto da fé”. O pecador pagava pelo perdão de seus pecados e o confessor o perdoava, recebendo sua paga.
Conta-se que alguns nobres, depois de pagarem “polpudos honorários”, mandavam seus sequazes esperarem o vigário na estrada e roubarem o dinheiro pago, levando-o de volta.
Quero afirmar e frisar que as religiões em si são benéficas a humanidade. Infelizmente, não são anjos que as dirigem, e sim homens. Homens que estão ou não sujeitos as tentações que o materialismo oferece. Vira e mexe uma imagem de santo qualquer derrama lágrimas ou sangue em alguma capela ou em uma casa. Milhares de fieis acorrem para o local, pedindo ou exigindo milagres. Mesmo com a fraude descoberta, pois se trata de mais um “conto da fé”, os ingênuos continuam a circular em torno do "milagroso santo". Não conseguem entender que o segredo para sair de seus problemas existenciais ou financeiros está em seu esforço pessoal e não no “quebra galho”.
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*J. Morgado é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. Morgado escreve quinzenalmente neste blog, sempre às sextas-feiras. E-mails sobre esse artigo podem ser postados no blog ou enviados para o autor, nesse endereço eletrônico: jgacelan@uol.com.br
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